Alta Roda nº 958/308 – 14 /09 /2017
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Fernando Calmon |
Se
alguém ainda duvidava, os resultados da indústria nos três principais
indicadores – vendas internas, produção e exportação – ao final de agosto
apontaram recuperação sem qualquer viés de baixa ou reversão das expectativas.
Em comparação aos sete primeiros meses do ano passado, os porcentuais são
positivos: 5,3%, 25,5% e 56,1%, respectivamente. Os números se referem a
automóveis, comerciais leves e pesados.
Desempenho do mercado interno ainda tem muito a melhorar, pois a média diária
de vendas em agosto foi de 9.415 unidades. Quando o ritmo sustentável subir
para mais de 10.000 veículos/dia, pode-se concluir que o crescimento é
autossustentável. Como as exportações estão subindo bem mais que o esperado,
deve ajudar na recriação de empregos e realimentar a demanda interna.
A Anfavea revisou para cima as projeções deste ano. Em relação aos três
indicadores citados, a entidade espera que 2017 supere 2016 em 7,4%, 25,2% e
43,3%, respectivamente. No início de 2017, quando o pessimismo era grande, esta
coluna previu 9% de crescimento nas vendas internas no fechamento do ano ao
analisar os números ruins de 2016.
Depois de queda acumulada de quase 50% em três anos a reação deveria acontecer
mesmo. Se as sucessivas crises políticas não tivessem atrapalhado as reformas
econômicas – até agora concluídas parcialmente – o resultado poderia ser
melhor. Basta olhar a Argentina, onde o mercado interno cresceu 30% de janeiro
a agosto sobre igual período de 2016 na esteira de mudanças de rumo na
economia.
O que pode ajudar muito é a convergência de boas decisões entre os dois países.
Basta um simples exemplo: Argentina decidiu harmonizar as exigências de
segurança veicular e considerar o mesmo prazo de 2020 para adoção simultânea
com o Brasil do ESC (sigla em inglês para Controle Eletrônico de Estabilidade)
nos carros de projetos novos e 2022 para todos os demais à venda. Seria muito
bom que, em contrapartida, o Brasil passasse a exigir engates Isofix para
bancos infantis já obrigatórios no outro lado da fronteira.
Fato de grande relevância seria ambos terem regras em comum tanto em itens de
segurança quanto em consumo de combustíveis e emissões, guardadas as diferenças
pontuais. O programa brasileiro Rota 2030, a ser anunciado até novembro,
poderia se tornar o ponto de partida para esse ajuste de médio e longo prazo.
Com uma produção conjunta de cinco a seis milhões de unidades anuais dentro de
cinco a seis anos, Brasil e Argentina alcançariam escala de peso. Poderiam
exportar para mercados sul-americanos e de outros continentes de forma
competitiva.
De acordo com a Anfavea, bastaria o Brasil manter a cotação do dólar, nos
próximos anos, entre R$ 3,20 e 3,40 para que continuasse competitivo fora das
fronteiras e pudesse importar componentes de tecnologia de ponta a preço
compatível para os veículos aqui produzidos. Forçar uma modernização sem
critérios técnicos foi um dos erros do programa Inovar-Auto que termina em 31
de dezembro próximo, conforme previsto, porém sob contestação da Organização
Mundial do Comércio.
RODA VIVA
HATCHES médios-compactos como Cruze, Focus e Golf
estão cada vez mais sob pressão de SUVs. Assim, a VW não será a única a
produzir um utilitário esporte desse porte na Argentina. Há fortes rumores de
que a GM também aproveitará sua fábrica no país vizinho para entrar na disputa,
dentro de três anos, pressionando ainda mais a segmento de hatches e até de
sedãs.
VOLKSWAGEN oficializou (como antecipado aqui) que o
Gol volta a ser produto de entrada a preço pouco inferior ao do up!. O modelo
veterano torna-se alternativa aos subcompactos Mobi e Kwid por oferecer mais
espaço interno e diferença de custo relativamente pequena. Fox teve enxugamento
de versões. Tal realinhamento prepara chegada do Polo às concessionárias no fim
de outubro.
COMO alternativa aos SUVs espaçosos de sete lugares,
Citroën Grand C4 Picasso oferece dirigibilidade refinada e resposta em curvas
segura por ter centro de gravidade mais baixo. Luminosidade interna e
visibilidade à frente e lateral destacam-se. Bancos são bem confortáveis, mas
motorista demora até não esbarrar no comando do limpador ao acionar
mini alavanca do câmbio.
FINALMENTE, autoridades regulatórias europeias adotam
métodos atualizados de medição e homologação de consumo e emissões para todos
os veículos fabricados no continente. Referência anterior fugia muito do mundo
real, se comparada aos números nos EUA e no Brasil. Também exige teste de
emissões fora de laboratórios, um avanço significativo de credibilidade.
MAIS um fabricante, dessa vez Jaguar Land Rover,
aposta na eletrificação em lançamentos a partir de 2020. Isso não significa que
todos os novos modelos serão elétricos, mas que poderão ter um motor elétrico
associada ao a combustão, ou seja, híbridos recarregáveis em tomadas ou não.
Essa flexibilidade permitirá custos mais acessíveis ao consumidor e uma
transição menos arriscada.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmo fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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