segunda-feira, 11 de julho de 2011

O pitaco de Pitágoras e a polêmica dos preços



Por Fernando Calmon

Os preços dos carros no País são influenciados – de forma permanente – por três fatores: impostos, Custo Brasil (visível e invisível) e as variações cambiais. Mas há gente que prefere atribuir os altos preços, em artigos pela internet, apenas ao Lucro Brasil.
O que é custo invisível? Entre vários outros, estradas em petição de miséria. São as mais caras do mundo, recolhem pedágio para os bolsos errados mesmo sem as cancelas e encarecem os carros com reforços estruturais e elevação da altura de rodagem, o que aumenta o arrasto aerodinâmico, o consumo de combustível e as emissões.
Comparar, porém, custos visíveis exige uma moeda de conversão, dólar ou euro.  Anote essas diferenças:
a) Custo total de produção de veículos no Brasil: 60% maior que a China e 33% superior ao México.
d) Hora da mão de obra com ônus diretos e indiretos: 340% superior à Índia e China; 104% mais cara que o México.
e) Água industrial: 97% mais alto que o México; 900% mais cara que na Argentina.
A fonte é a empresa internacional de consultoria PricewaterhouseCoopers, estudo de 2010. Claro, sempre a “maioria” vai achar que o Lucro Brasil anula tudo isso com folga. Mas não provam, porque lucro é a diferença entre preço (possível) de venda e os custos, abatidos os impostos.
Aliás, muitos aqui adoram a teoria da conspiração. Balanço financeiro que mostra lucro elevado só pode ser exploração do povo, não importando se a empresa perdeu dinheiro no passado. Se revelou prejuízo, deve ter sido fraudado para esconder o lucro.
Vamos à discussão cambial. O real não é moeda conversível. Então é preciso eleger o dólar como referência, utilizado nas transações e comparações no mundo.
Suponha que a moeda americana valesse R$ 3,00 e não R$ 1,55 como agora (já esteve em quase R$ 4 no final de 2002). Um Mille custaria US$ 7.333,33 com toda a carga fiscal brasileira. O carro mais barato nos EUA começa em torno de $12.000 (lá o frete é cobrado à parte). Mas se enfrentasse a mesma carga fiscal direta brasileira custaria US$16.000, no mínimo.
Em matérias jornalísticas é comum informar preços em reais no exterior, mas o cálculo sempre tem que passar pelo dólar. Pode-se comparar o Corolla nos EUA e no Brasil, quase iguais. No câmbio atual, o americano custa R$ 28.000 e o brasileiro, R$ 67.000. Chocante, mas se o dólar estivesse, como em dezembro de 2008, a R$ 2,53, o Corolla americano valeria R$ 45.000 e a R$ 3,00, R$ 54.000. E mais, igualados os tributos, o Corolla de lá sairia mais caro que o daqui, apenas pelo efeito cambial, esvaziando essa discussão meio tola.
Fator Big Mac (moeda fictícia FBM$). O Big Mac custa aqui R$ 9,50. Nos EUA, US$ 3,49 mais 8,25% de imposto ou US$ 3,78. Para comprar o carro mais barato lá, o americano gastaria o equivalente a FBM$ 3.174 e no Brasil, FBM$ 2.315. Por esse critério neutro, um automóvel de entrada é mais barato no Brasil do que nos EUA. Obviamente não estou comparando equipamentos nos veículos e sim a capacidade do cidadão se motorizar. Quem discordar, escreva uma carta para Pitágoras no Além. Criador da matemática, ele se foi desse mundo em 497 a.C.
E quanto aos impostos incidentes sobre veículos no Brasil estudo feito em 2007 (com dólar menos desvalorizado) por uma consultoria especializada em comércio exterior, resume: um carro que chega aos portos brasileiros por US$ 10.000, por exemplo, aparece nas lojas por US$ 30.571 depois de todos os impostos, custos e margens.
FORMAÇÃO DE PREÇOS DE VEÍCULOS IMPORTADOS
IMPORTAÇÃO DIRETA
CUSTO DOS PRODUTOS IMPORTADOS
%
%
CUSTO DE AQUISIÇÃO




   - FOB
US$
10.000


   - Frete marítimo
US$
700


   - Seguro
0,16%
17


   - CIF
US$
10.717
100,00
35,06
CUSTO DE IMPORTAÇÃO
   - Imposto de importação
35%
3.751
35,00
12,27
   - IPI
25%
3.617
33,75
11,83
   - ICMS
12%
2.466
23,01
8,07
   - Marinha mercante
25%
175
1,63
0,57
   - Custo de despachante
US$
100
0,93
0,33
   - Armazenagem para desembaraço
0,25%
54
0,50
0,18
   - Movimentação no porto
US$
50
0,47
0,16
   - Outros custos de operação *
US$
100
0,93
0,33
CUSTO LOGÍSTICO
   - Frete para armazenagem
US$
250
2,33
0,82
   - Preparação para venda
US$
150
1,40
0,49
   - Frete para distribuição
US$
250
2,33
0,82
CUSTO PARA COMERCIALIZAÇÃO
   - Margem do importador
9%
900
8,40
2,94
   - IPI s/ margem
25%
225
2,10
0,74
   - ICMS s/ margem
12%
108
1,01
0,35
   - ICMS substituto
12%
489
4,56
1,60
   - PIS/Cofins monofásico
8,26%
1.351
12,61
4,42
   - Margem do concessionário
11,45%
3.500
32,66
11,45
CUSTOS OPERACIONAIS
   - Marketing
US$
800
7,46
2,62
   - Custo Financeiro
US$
150
1,40
0,49
   - IR / Contribuição Social ***
34%
-731
-6,82
-2,39
   - Despesas Gerais **
US$
2.000
18,66
6,54
   - CPMF
0,38%
99
0,92
0,32
PREÇO DE VENDA CONSUMIDOR
US$
30.571
285,25%
100,00%
 * Custo relativos a OGMO, Taxa SISCOMEX, Registros, etc.
 ** Folha de Pagamento e Despesas Administrativas
 *** IR / Contribuição Social negativo significa prejuízos operacionais
Carga Tributária Total (Sem Encargos Trabalhistas )
US$
12.106
112,96%
39,60%


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