quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Roberto Nasser - De carro por aí


edita@rnasser.com.br – 61-3225.5511 Coluna 5012  13.12.2012


O curioso caso do Alfa Romeo 2300 de Oscar Niemeyer
E carro que sai de produção pode voltar ?
Estórias sobre fatos fora do normal a respeito de automóveis, em especial para personalizá-los, são usualmente tão ricas quanto infundadas. Há tempo ziguezagueava na Internet um Chrysler GTX anunciado como sendo 1970 - a produção findara em julho.1969 - equipado com barbaridades para um sedã com vezo esportivo: velocímetro no banco traseiro; estepe continental – utilizado pela Simca, antecessora da Chrysler, na versão Présidence até final de 1966.
Garantia, fora fabricado junto com o Dodge Dart, por pressão e bate pé de diretor da Chrysler, admirador do automóvel, ordenara a excentricidade.
Coisas erradas tem inacreditável atração pela continuidade do mal-feito. Um negociante de automóveis em S Paulo o adquiriu, sacou fora o estepe externo e o especial para choques traseiro - de bom valor no mercado de itens usados - e, na mesma rota inexplicável, tascou-lhe caixa de marchas de Alfa 2300.
Cara de pau, dizia ser composição original de fábrica, protótipo do estudo de associação entre Alfa e Chrysler – união nunca cogitada pelas marcas no Brasil...
Outro caso, fundado em informações de livros e artigos dizia, a Fiat fizera um Alfa Romeo T.I. para o festejado arquiteto Oscar Niemeyer – tempos após ter encerrada a produção do automóvel.
Parecia ser do mesmo calibre. E digo porque num processo industrial só o de fazer e o de montar ficam na linha de produção. Encerrada, tudo o de fazer vai para fornecedores, estoque, exportação a mercados que ainda absorvem o modelo antigo, ou para a sucata. Nada fica à mão. No rigor capitalista condutor do fazer automóveis, é impossível fabricar carro descontinuado – exceto, claro, se houver lista com milhares de encomendas capazes de justificar procura de partes, peças, ferramentas. Como um não ocorre, o outro também não.

O Caso
Para resgatar unidade história tão especial vinha do fato, verdadeiro, apurei, o mítico Oscar fizera projeto para a Fiat. Entretanto, não implementado, não quis receber, mesmo com a insistência da montadora. Dizia-se também, às horas tantas da conversa, o arquiteto rememorou ter tido um Alfa 2300, de boas lembranças.  Aí, a Fiat para agradecer, diz a romântica lenda, teria mandado fazer uma nova unidade do 2300 para presenteá-lo. A discrepância é que isto ocorreu em 1992,3, quando a produção se encerrara nos primeiros dias de 1987.
Teorias infundadas normalmente se entrecruzam em ponto comum: se alguém quiser e se dispuser a pagar, ou se um diretor com amplos poderes mandar, uma montadora é capaz de exumar um veículo descontinuado, parando a linha de montagem, re-equipando-a, tomando peças de estoque, fazendo a unidade encomendada, totalmente zero km e excepcional. Embora sabendo, por vivência profissional não ser possível tal bravata, passei o rodo: localizei o diretor industrial da Fiat á época. Ele riu da teoria; idem para o comercial, com autoridade para tal; pedi à assessoria da Presidência da marca olhasse o registro de produção; não consegui resposta – creio, acharam, a demanda não podia ser coisa séria; fui atrás das estatísticas internas. Mesmo resultado - nada.

Baixei a pesquisa para a realidade. A Fiat à época tinha suas exceções latinas, e um mecânico chefe idem - havia feito para mim - por ordem de um dos Capo citados, um Prêmio, misturando peças e desenvolvendo outras, um pequeno canhão. Para a época, início do governo Collor, caminhava, passava por cima do meu carro-de-diretor, um Diplomata 6 cilindros. Saía, retomava, ficava na frente. Viagens curtas, de exercício da mão-de-obra tentativamente polida, não tinha para o Diplomata. O Prêmio, mais que 100 cv, caixa do Uno 1.5R de marchas com relações próximas, molas, barras e amortecedores mais reativos, freios com discos com grande área de contato, não deixava para ninguém. Por distante recordar, num trecho habitual meu tempo de viagem - e a adrenalina com o tal de Prêmio - apenas baixou quando comprei um Mercedes 500, autor de médias elevadas com conforto e mais segurança. 

Retomando, imaginei a única teoria possível: a montadora recebera o velho Alfa do Niemeyer, e a oficina de protótipos desmontara latas, interior, mecânica, revisado tudo, buscado peças em estoque de antigos revendedores. Em suma, o que colecionadores fazem, embora com maior galhardia. Mas nada. Ninguém sabia ou se lembrava. Deixei amornar.

Fiat Lux
Há pouco tempo recebi e guiei visita no Museu Nacional do Automóvel, em Brasília, do Franco Cirani, ex-diretor da Fiat e então presidente da FPT - sua fábrica de motores e transmissões –, hoje diretor mundial de exportações. No percurso, ao chegarmos ao grupo dos 2300, onde reluz unidade 1974, motor 00001, parou em frente ao 2300 '86, adquirido ao Alfista Paulo Proença, falou: "- um tí”. Não falou  “tê-í “, como nós, mas um curioso “tí”. E explicou:“- Quando cheguei ao Brasil, em 1990, deram-me um Alfa TÍ, carro do estoque, guardado há uns três anos. Gostava muito. Mas, numa segunda-feira, no fim da reunião de Diretoria, alguém disse que precisavam do meu carro - e não iriam devolve-lo: iriam dá-lo ao Oscar Niemeyer. Não reclamei, pois trocaram pelo novo 164".
Giuseppe “Pino” Marinelli, misto de piloto com professor Pardal, durante anos comandante da área de invencionices mecânicas na Fiat - fez, para mim, além do citado e impossível Prêmio, um Tempra com 150 cv - ligou-me para assuntos outros e, perguntado, se lembrou do carro do Niemeyer:
"- Veio uma ordem para fazer um Alfa 2300 Zero para o arquiteto. Fazer dos usados um carro novo. Sem limites na conta.
Peguei o do dottore Cirani, o melhor da frota de diretoria; mais uns dois. Dos três e com peças ainda em estoque, verificamos tudo. Qualquer dúvida, pegava-se peça nova no estoque. Se não tivesse, a melhor que houvesse nos três era escolhida, inspecionada, pintada e montada. Conseguimos fazer um 2300 quase Zero km para o arquiteto Niemeyer.

Deve ter custado uns dois Alfa 164, mas ordem de cappo da Fiat, você sabe, é para cumprir."



Enfim,

Acabou o mistério. Nada de mandar construir um carro após descontinuado. Tão-somente pegar uma boa unidade, desmontá-la e verificar peça por peça, substituir por outras novas ou usadas em melhor estado, numa ação sem restrições de orçamento. 
Explicação final. Vício de colecionador, fui atrás, e uma atenciosa dona Vera, mulher do arquiteto e sabe-tudo a seu respeito. Informou, após algum uso, deram o carro para o motorista.
 E, pós-final, David Cipriano, Rodrigo Roque e Junior, camaradas do grupo AlfaRomeoBR descobriram, o 2300 permanecia em nome da empresa do arquiteto, licenciado até um par de anos.
Dado histórico, informa o mesmo ativo grupo de alfistas, ter o último Alfa 2300 fabricado o chassi 144.001.4024 – 39 unidades sobre o Alfa Niemeyeriano.
Da história, o gênio recentemente desaparecido não tinha paixão Alfista – ou por outra marca -, mas certo é, nem uma empresa do porte da Fiat no Brasil, mesmo com ordem de diretoria, é capaz de re fabricar modelo descontinuado.

Memória
Como todo brasileiro, reverencio o arquiteto recentemente passado por ter dado ao país a referência de uma arquitetura livre e leve, revolucionando o uso da malha de ferro nas estruturas de concreto, tornando-a respeitada no mundo. E como brasiliense espero, com o desaparecimento do último partícipe do pacote de gênios que fizeram uma cidade de brilho para valorizar o novo ciclo de nosso país, a canalhice e a corrupção não permitam aos seus dirigentes se vergar aos argumento$ sensibilizante$ das construtoras para rasgar a filosofia da cidade, plantando espigões, violentando sua diferenciação, transformando-a em apenas mais uma das desorganizadas cidades brasileiras. 


As tendências de consumo para 2013 e à frente
A Ford divulgou pesquisa sobre tendências dos consumidores para 2013. Um manual de sobrevivência para a indústria do automóvel, mas adequável a outros bens, serviços, para os próximos anos.
Lista 13 pontos ditos fundamentais, separa três como principais, e projeta que o próximo ano, para o mercado norte-americano será de aceitação e otimismo, superando a desconfiança e a decepção que marca a baixa estima, os problemas e o patinar econômico dos EUA desde 2009.

Como é
Três são principais:
1.    Confiança como diferencial. Quanto mais autêntica e real a maneira de ser vista pelo mercado, melhor;
2.    Responsabilidade individual. Vale para tudo, todos, empresas, indivíduos, é a capacidade de reconhecer suas falhas, base para o sucesso;
3.    Expansão do poder coletivo, da responsabilidade individual exercendo poder de agregar pessoas confiantes umas nas outras. Na prática, a consciência que pequenos atos individuais, podem, em conjunto, modificar a sociedade.

Roteiro das 13 tendências para 2013

1. Confiança está na moda
2. República dos consumidores
3. Seja verdadeiro
4. Caminhos pioneiros
5. Habilidades "faça você mesmo"
6. Ajude-me a me ajudar
7. Orgulho da economia local

8. Humanização da cidade
9. Desafiando a distração
10. Maximização do mínimo
11. Retorno aos sentidos
12. Sempre jovem
13. Pós-verde









Roda-a-Roda


BM 4 – Tomando a nova série 3 como base para sua linha, a BMW mostrará no Salão de Detroit, início de janeiro, o Concept Serie 4 Coupé. Na prática, mais que conceito, pré apresentação. É evolução, provocação aos interessados nos 3.


Pacote – Proporções esportivas, longa capô, habitáculo recuado, pequena tampa de porta malas, jogo de luzes e reflexos com os vincos da carroceria, materiais cuidados e em harmonia, interior em couro preto ou amarronzado, preocupação ecológica no seu trato, faixa em nogueira, insólita em carros do seu porte. Preço ? Nada ainda.

Teste – Avaliação da JAC Motors sobre a frota de 45 mil unidades permitiu cortar as revisões de 5.000, 15.000 e 25.000 km. Agora, inicial com 3.000 km e seguintes a cada dezena de milhar. Diz Sérgio Habib, importador no Brasil, pelo “ótimo estado de conservação dos componentes internos”.

Qualidade – Tira teima exibe qualidade em carros coreanos. Pesquisa da JD Power, especializada no setor, indicou o Kia Cerato 1o. lugar em satisfação do cliente – e ausência de problemas -,superando Toyota Corolla e Hyundai i30. Charmosos, os coreanos imprensam o insosso japonês.

Negócio – Para impulsionar vendas no último mês de redução de IPI, a Peugeot facilita: 207 Hatchback a R$ 29.990; Sedan e 408 Feline com taxa zero; 3008 com taxa de 0,89% a.m. No 308 Felipe THP e o sedã 408 foram equipados com central multimídia.

Promoção – Parece, a penetração do novo Toyota Etios na Capital Federal não vai bem. Recém surgido, quando se esperava filas, preço inflado, demora para entrega, para vender concessionários brasilienses fazem promoção.

Freada - A Toyota já estuda mudar o automóvel, alterando o interior, feito para o mercado indiano, de pouca vivência com o produto e baixo nível de exigência, muito distante do comprador brasiliense, o mais exigente do país. Pensar globalmente e querer vestir todos os mercados com o mesmo casaco não dá certo. Há que se respeitar a individualidade e a peculiaridades de cada local.

Projeto – Em meio às previsões de crescimento das maiores montadoras, entre 1 e 2% para 2013, a Ford é otimista e prevê o dobro. E deste, quer o topo de 4%. Diz preparar 18 lançamentos, a maioria em caminhões. A Ford vem caindo em participação. Em 2012, 8,9%. Ainda é a quarta marca mais vendida.

Realidade – Desde que a Renault viu o mercado brasileiro para carros de preço intermediário, optando por Logan, Sandero, Duster, não pára de crescer em vendas e espaço. Aumentou sua participação em 1,1%, com 6,7% das vendas. O Brasil é o segundo mercado mundial da marca.

Gás - A fábrica fechará dois meses para adequar-se, saltar de 100 mil para 180 mil veículos/ano. À construção, não imaginava vender mais que produz.

Bonito – O Ford EcoSport 2013 aqui projetado para ser carro mundial, dá outro passo: chegou à Colômbia, terceiro mercado automobilístico do Continente. Integra a listagem dos utilitários esportivos da marca: Escape, Expedition, Edge. Preços assemelhados aos daqui. Versão S, R$ 54.611; FreeStyle R$ 60.422.

N x N – A filmagem, antecipada pela Coluna, de anúncio de tv para o novo Fusion, entre Nelson Piquet e Nigel Mansell reeditou no Autódromo de Tarumã,RS, as antigas rusgas entre os dois campeões de Fórmula 1. A disputa foi re acesa – ganharam os dois, perderam os Fusion, destruídos.

Reverência – Amigos de Fábio Steinbruch, antigomobilista bestamente desaparecido semana passada farão homenagem: Autódromo de Interlagos, dia 22, às 12h. Automóveis antigos, duas voltas pela pista. Tens carro antigo ? Vá homenagear o Fábio. Entrada Portão 7, reunião na Curva do Sargento.

Retífica RN - Correções à Coluna passada: Thomas Schmall, citado na Coluna passada, tem 48, é alemão e economista.

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