Wagner Gonzalez |
Pode parecer estranho ligar o futuro de um engenheiro renomado por sua atuação técnica ao ambiente político da categoria, afinal, poucos engenheiros podem se orgulhar de ter obtido tantos títulos mundiais. Ross James Brawn, engenheiro honoris causa pelas universidades de Brunel e Heriot-Watt, nasceu aos 23 de novembro de 1954 em Ashton-under-Lyne, cidade de 40 mil habitantes na região metropolitana de Manchester, uma das maiores urbanizações da moderna Inglaterra. Nos últimos 22 anos ele venceu o Campeonato Mundial de Carros Esporte (1991, Jaguar), o de Construtores de F1 (1995, Benetton; 1999 a 2004, Ferrari; 2009, Brown) e esteve ao lado de Michael Schumacher e Jenson Button quando o alemão e o inglês conquistaram o Campeonato Mundial de Pilotos em 1994/95/2000/01/02/03/04 e 2009, respectivamente.
Se poucos conseguiram tantas glórias, mais raros ainda são os que o fizeram sem se se deixar envolver por situações desgastantes ou constrangedoras. Não que elas não existam: em 1994, quando ele era diretor técnico da Benetton, o carro do holandês Jos Verstappen sofreu um incêndio durante o reabastecimento durante o GP da Alemanha e Michael Schumacher foi desclassificado no GP da Bélgica por irregularidades no assoalho do monoposto. Ambos os casos ainda geram debates: no primeiro o sistema de reabastecimento teria sido modificado irregularmente para permitir maior vazão de combustível e, no segundo, o chassi estaria mais baixo que o permitido pelo regulamento. Além disso, a equipe Benetton também foi envolta no uso ilegal de controle de tração, mas nunca o nome de Brown foi destacado nesses episódios.
O que sempre se destacou em Ross Brown foi a postura fleugmática com impõe suas
decisões. Quem acompanhou o GP da Malásia deste ano certamente se recorda com
sua firmeza em manter Nico Rosberg atrás de Lewis Hamilton mesmo após seguidas
súplicas do piloto alemão. Em um mundinho onde os egos extrapolam até os mais
altos salários - e a F1 paga salários altíssimos para seus eleitos -, essa
tarefa não é fácil. Exatamente por isto vislumbraria aqui um dos seus possíveis
destinos: nos últimos dias o atual diretor técnico da Scuderia, Stefano
Domenicali, declarou que se for para o bem e felicidade geral da Ferrari ele
não teria nenhum problema em renunciar ao posto para facilitar a volta de
Ross..
Do mesmo CEP
modenense exala outro possível destino: Luca Cordero di Montezemolo, atual
presidente da Ferrari e outrora nome indicado para comandar a FIA, cobrou
mudanças para o segundo mandato de Jean Todt, o candidato único nas eleições
que acotnecem dia 6. As mudanças cobradas por Montezemolo, mais do que políticas,
envolvem as áreas técnica e desportiva, algo que pode ser uma tarefa que o
francês, que tem fama de mandão, delegar a alguém de extrema confiança.
Todt e Brawn trabalharam juntos na última época de ouro da Ferrari na F1…
A reforçar esta
possibilidade Todt segue sendo bombardeado por David Ward, que sem apoio
suficiente preferiu abortar sua candidatura na eleição desta semana. Ward
cobrar mais transparência nos métodos de governança da FIA, particularmente no
aspecto financeiro; atualmente a entidade não divulga seus resultados e
tampouco os salários pagos aos seus principais dirigentes e seus funcionários.
Posto que Ward é um nome bastante ligado a Max Mosley (que ocupou a presidência
da FIA antes de Todt), nome muito ligado a Bernie Ecclestone, é factível
vislumbrar um futuro de intranquilidade para a FIA.
Ecclstone é
processado na Inglaterra e na Alemanha por causa de negociações duvidosas
envolvendo a comercialização dos direitos da F1, bem intangível e valioso
adquirido da FIA. Embora pessoas que convivam com Ross Brawn admitam que seu
espírito empreendedor o afasta de um cargo político, certamente sua capacidade
de resolver situações complicadas – lembremos o que ele fez ao dominar a
temporada de 2009 com uma equipe que esteve à beira da falência -, pode ser
muito útil na situação atual. Ao ocupar-se da principal fonte de renda da FIA
ele deixaria Todt livre para cuidar de outras áreas, em particular a campanha
da Fórmula E, categoria de carros elétricos que estréia em 2014.
O terceiro
empregador de Brawn seria o império de um dos últimos representantes da era
moderna da F1, o espaço de tempo no qual os garagistas ingleses deixaram de ser
negociantes de carros de corrida de segunda mão e se transformaram em
construtores. Frank Williams é, ao lado de Ecclestone, um dos últimos
remanescentes ainda vivos de uma época onde Bruce McLaren, Colin Chapman e Jack
Brabham começavam a despontar no então aristocrático clube da categoria.
Empreendedor apaixonado pelo esporte Williams precisa reviver os áureos tempos
de sua equipe, que há anos vive à sombra do pódio, exceção feita à vitória de
Pastor Maldonado no GP da Espanha de 2012.
Williams sempre
foi um dos maiores negociantes dos paddocks da F1 e foi por seu intermédio que
várias empresas chegaram e se estabeleceram na categoria, notadamente a TAG,
hoje uma das acionistas da McLaren. Após o acidente que o deixou tetraplégico,
em março de 1986, Frank manteve-se à frente do time mas pouco a pouco foi
delegando poderes. Quando o sócio Patrick Head decidiu dedicar-se com menor
intensidade à F1 os escolhidos de Frank não conseguiram os resultados esperados
e os triunfos passaram a acontecer com menor intensidade. O perfil de Ross se
encaixa como uma luva para levantar o time.
Brawn já
trabalhou com Frank Williams em dois períodos: 1976 e de 1978 a 1984, quando
deixou a equipe para construir o Beatrice-Lola. Como ambos gostam do
automobilismo em sua essência, este elo pode fazer com que Ross se anime a
reviver a experiência de ser dono de equipe: sua ida para esse time certamente
implicaria na compra de ações, provavelmente as que ainda estão nas mãos de
Toto Wolff. Em um passado não muito distante Adrian Newey esteve perto de
assumir esta situação mas como Williams não aceitou essa condição o mago da
aerodinâmica foi trabalhar em outras bandas. A dúvida agora é saber de Frank
vai repetir o erro caso seja esta a condição para reforçar a equipe onde Felipe
Massa vai correr no ano que vem.
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