Alta Roda nº 914/264 – 10 /11 /2016
Fernando Calmon |
Nada como uma “ameaça” de médio ou longo prazo a qualquer
negócio para chacoalhar a criatividade humana. No caso de propulsão veicular, o
esforço técnico aumenta muito e, acima de tudo, os investimentos em pesquisa e
desenvolvimento.
Acontece agora com os motores a combustão interna, que precisam diminuir o
consumo de combustíveis fósseis de todas as maneiras para lidar com o avanço
inevitável da tração elétrica. Os resultados medem-se pelas emissões de gramas
de CO2 por quilômetro rodado. Esse parâmetro se aplica também aos carros a
bateria porque a fonte de energia elétrica para recarregá-la emite CO2 em diferentes
níveis.
Uma das polêmicas atuais envolve a “régua” para medir o consumo na vida real,
ou seja, fora dos rolos dinamométricos que garantem repetibilidade e previsão,
essenciais nas medições. Nos Estados Unidos e no Brasil isso se dá por meio de
um fator de correção fixo, solução considerada dentro do velho chavão de pecar
por excesso. Mas da Europa vêm agora boas notícias.
Se o consumo em condições reais de uso é o que importa, as entidades vigilantes
do meio ambiente Transport & Environment e France Nature Environnement
juntaram-se ao Bureau Veritas e publicaram novo protocolo de testes confiável,
fruto de rigoroso processo científico. O existente Novo Ciclo Europeu de
Condução (não tão novo, criado há quase 20 anos) sempre foi criticado por ser brando
demais e ficar longe da realidade. Não é válido compará-lo com os resultados do
Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular.
O primeiro grupo automobilístico a aderir foi a PSA (Peugeot, Citroën e DS). As
medições são efetuadas em eixos urbanos e rodoviários públicos, abertos ao
trânsito em condições reais de condução (utilização da climatização, pesos de
bagagem e passageiros, além de declives e aclives) e com condutores não
profissionais. A repetibilidade e precisão são praticamente equivalentes às de
laboratórios.
Passo seguinte está na adoção de novas tecnologias que em um primeiro momento
podem até ser caras, mas fundamentais para que os motores a combustão
sobrevivam por mais algumas décadas. Há várias sendo desenvolvidas ao mesmo
tempo, das quais merecem destaque:
• Sistema elétrico de 48 volts
• Compressor elétrico para turbos
• Ciclo Atkinson/Miller (modificação do tradicional Otto)
• Desligamento de cilindros
• Transmissão com roda-livre
• Taxa de compressão variável
O Brasil também precisa entrar nesse esforço mundial. Em 2030 terá de importar
algo como 400 mil barris/dia de gasolina, três vezes mais do que hoje, mesmo
sendo exportador líquido de petróleo. Ideal seria cobrir esse déficit com uso
de etanol, combustível praticamente neutro em emissões de CO2. No recente 2º
Seminário Internacional sobre Uso Eficiente de Etanol, realizado no Rio de
Janeiro, foram discutidas soluções viáveis e a custos palatáveis.
Entre as boas alternativas propostas, Ricardo Abreu, diretor do Sindipeças,
sugeriu aumentar a atratividade desse combustível renovável de baixíssima
pegada de carbono por meio do etanol hidratado com baixo teor de água (apenas
1% contra os atuais 5% em massa). O Brasil hoje representa apenas um quarto da
produção mundial de etanol e isso talvez viabilizasse a adoção de motores flex
em mais países.
RODA VIVA
COMO OUTUBRO mostrou estabilização (por dias úteis de vendas), Anfavea
supõe uma reação de mercado em novembro e dezembro. Mesmo porque os dois
últimos meses do ano passado foram bastante fracos, o que favorece a base
comparativa. A entidade ainda espera que as vendas totais (incluindo comerciais
leves e pesados) se aproximem de 2,1 milhões de unidades.
ESTOQUES em fábricas e concessionárias estabilizados em 40 dias (setembro
versus outubro) sinalizam que a produção, influenciada pelas exportações em
alta e a aceleração na Volkswagen depois de mais de 30 dias parada por
desentendimento com fornecedores, “salve” o faturamento da indústria nestes
dois últimos meses do ano. A conferir.
FIAT completou a linha Toro com motor flex de 2,4 litros, 174/186 cv e
23,6/24,9 kgfm (gasolina/etanol). A estratégia é oferecer a picape, na versão
única Freedom por R$ 98.730 e câmbio automático de 9 marchas ao mesmo preço da
diesel 4x2 com câmbio manual. Desempenho melhorou bastante em relação ao de 1,8
litro, apesar de previsível consumo elevado.
MARCA DE PESO no mercado de mapas digitais, a Here (propriedade de Audi,
BMW e Daimler) busca ampliar espaço entre concorrentes como Google, TomTom e
Waze. Orientações e escolhas de rotas são por meio de aplicativo próprio (para
Android e IOS) e razoavelmente eficientes em São Paulo. Dureza é enfrentar a
massa de informações em tempo real do Waze.
CORREÇÃO: em coluna anterior ocorreu um lapso ao citar os quatro produtos
inteiramente novos que a VW prepara para o Brasil na sua arquitetura mais
moderna (MQB A0), a partir de 2017. Haverá a nova picape Saveiro e não a volta
da Parati, pois, infelizmente, station wagons ou peruas tornaram-se
desinteressantes para os compradores, voltados agora a SUVs e crossovers.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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