sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Coluna do FERNANDO CALMON (1110/410)

TECNOLOGIA E CONFORTO DESTACAM-SE NO TERRITORY

 Desde que foi apresentado, no Salão do Automóvel de 2018, como “teste” de mercado, a Ford já tinha decido trazer da China o SUV médio-grande Territory. O modelo que chega agora ao Brasil recebeu nova grade e para-choque dianteiro, embora o estilo se identifique menos com a marca americana e mais com sua parceira oriental JMC. Os para-lamas dianteiros bojudos explicam a largura de 194 cm, 10 cm superior ao Equinox, um dos 10 rivais que compõem o segmento amplamente dominado pelo Jeep Compass.

Embora o Territory tenha distância entre-eixos de 276 cm, só perdendo por 1 cm para o Equinox, o espaço para as pernas, joelhos e ombros no banco traseiro, de fato, surpreende. Exigência típica do consumidor chinês, mas que levou a sacrificar a capacidade do porta-malas: 348 litros contra 410 litros do Compass.

Uma vantagem indiscutível é o acabamento interno com bons materiais e o conforto também nos bancos dianteiros. A ergonomia dos comandos dos vidros elétricos, outro destaque. Tecnologia de bordo inclui central multimídia de 10,1 pol. que contém um modem e um chip de tráfego de dados para o aplicativo de celular FordPass (primeiro ano grátis). É possível checar remotamente nível de combustível e várias outras funções.

É o único no segmento com quatro câmeras de alta definição de 360°. Tem quatro portas USB, sendo uma no alto do para-brisa para acoplar câmera de gravação de vídeo, apreciada em países como China e Rússia. Controle de velocidade de cruzeiro adaptativo inclui a função para-e-anda. Há freada automática de emergência, a partir de 30 km/h e também função de estacionamento automático. Ao contrário de outros chineses a volante de direção dispõe de regulagem de distância e altura. Freio de estacionamento eletromecânico tem função autohold.

Motor a gasolina turbo, injeção direta de 1,5 L, 150 cv e 22,9 kgfm, acoplado a um câmbio CVT de oito marchas, formam um conjunto suave e silencioso (a 120 km/h, motor gira a apenas 1.900 rpm). Consumo de combustível homologado entre 9,2 km/l (urbano) e 10 km/l (estrada), mas a Ford corrigiu a informação para 10,2 km/l. No uso diário os números efetivos são um pouco melhores em estrada (cerca de 11 km/l) e urbano em torno de 9 km/l. O peso em ordem de marcha, 1.632 kg, limita o desempenho: 0 a 100 km/h, 11,8 s (dado de fábrica). Suspensão independente nas quatro rodas, além de eficiente, bem silenciosa em qualquer tipo de piso.

Preços: R$ 165.900 (SEL) a R$ 187.900 (Titanium). Tudo incluído, sem opcionais.

ANFAVEA PEDE MAIS PRAZO PARA EMISSÕES E SEGURANÇA

As normas técnicas para veículos leves no Brasil costumam ser muito discutidas e lentas. As de segurança, conduzidas pelo Contran/Denatran, e as que envolvem emissões pelo Conama. Especificamente sobre emissões o País tem avançado mais que os seus vizinhos porque nossas regras são mais severas. O Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) existe há quase 40 anos e desde o início se inspirou nas normas dos EUA que eram até mais duras que as europeias.

Os níveis de emissões de poluentes, em seis fases do Proconve, reduziram em 95% monóxido de carbono (CO), 98% hidrocarbonetos (HC) e 96% óxidos de nitrogênio (NOx). No Estado de São Paulo, nas principais cidades monitoradas pela Cetesb entre 2006 e 2018 a queda foi de cerca de 50%, em média, apesar da frota ter aumentado 66% no mesmo período.

A Anfavea pediu adiamento por dois anos da próxima fase, que começa em 2022, para veículos leves. Os desenvolvimentos foram interrompidos pela crise pandêmica e a brutal queda de faturamento. Representantes do Ministério Público Federal (MPF) são contra e indicam os casos de Índia e México que mantiveram seus cronogramas. Mas há uma diferença: nos dois países podem conviver carros novos com a fase anterior e a mais restrita (estes mais caros, claro). No Brasil, todos os modelos novos que não atendem a legislação devem ser retirados de linha. Não há uma transição para diluir os altos investimentos.

Estivesse o MPF realmente interessado em melhorar o ar que respiramos, cobraria a Inspeção Técnica Veicular que existe há décadas nos EUA e na Europa. Está no Código de Trânsito Brasileiro faz 23 anos e simplesmente não aparece coragem política para tal exigência mesmo de forma bastante gradual. Agora, menos ainda, com a grave crise de saúde e econômica.

AUDI PROMOVE AVANT-PREMIÈRE

Numa ação audaciosa, a Audi importou temporariamente alguns modelos (que pretende vender entre este ano e o próximo) e os colocou à disposição de clientes selecionados no Autódromo Capuava, em Indaiatuba (SP). Jornalistas também puderam ter as primeiras impressões em cada um dos veículos da linha de maior desempenho da marca: RS Q8, RS Q3 Sportback, RS 6 Avant, RS 7 Sportback e R8 (versão especial). Os cinco carros, entre perua, SUV e cupê, somavam 1.810 cv de potência com cinco, oito e dez cilindros.

Fiquei particularmente impressionado com o R8 e seu motor V-10 de aspiração natural, 610 cv, que divide com os Lamborghini, marca administrada pela Audi.

PERFIL

Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).

Siga também através do twitter:  www.twitter.com/fernandocalmofernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2

 

terça-feira, 11 de agosto de 2020

WAGNER GONZALEZ em Conversa de pista

O dia do caçador
Um bom tempo analisando o desenrolar do Grande Prêmio da Inglaterra e a estratégia correta para explorar o desempenho do RB16-Honda e o estilo de pilotagem de Max Verstappen (foto de abertura/Red Bull) resultaram na vitória da equipe Red Bull no que celebrou os 70 anos da F-1. O resultado quebrou a hegemonia da Mercedes após uma vitória de Valtteri Bottas e três de Lewis Hamilton nas quatro provas anteriores: Áustria, Styria, Hungria e Grã-Bretanha. O acerto dos carros azuis proporcionou explorar ao máximo os pneus escolhidos para o asfalto de circuito e permitiu ainda que Alex Albon se recuperasse de algumas exibições erráticas e permitiram que o anglo-tailandês mostrasse seu arrojo ao ultrapassar alguns adversários pelo lado externo das curvas, manobra considerada das mais difíceis no automobilismo. Do paddock de Silverstone o circo da categoria segue para Montmeló, onde a temporada prossegue domingo com a disputa do GP da Espanha.

Na corrida disputada no domingo retrasado os dois carros da Mercedes tiveram problemas com o desgaste dos pneus: somente a combinação de uma dose de sorte e competência de Lewis Hamilton com uma estratégia arriscada da Red Bull permitiram a terceira vitória do inglês na temporada. No último fim de semana novamente os carros do time alemão mostraram consumo exacerbado de borracha, algo visível a olho nu mesmo através das imagens de TV. Novamente em decisão corajosa, Verstappen e sua equipe mantiveram o espírito de combate em alta: sacrificaram a luta pela pole position para largar com pneus mais duros que os rivais, a quem não deixaram escapar na liderança, ao contrário do ocorrido na prova anterior. Ao prolongar ao máximo seu primeiro stint (como são chamados os vários estágios de uma corrida) e acertando em cheio o momento correto para um segundo pit stop.

O resultado da prova mostra que se existe um ponto débil no Mercedes W11 essa falha pode ser encontrada na interação entre chassi e pneus de composto mais macio em um dia quente. Para a corrida na Catalunha a Pirelli entregará os mesmos compostos utilizados no GP da Inglaterra (quando Hamiton venceu e Verstappen foi segundo), teoricamente opção favorável aos Mercedes. Ocorre que será a primeira vez que a etapa da Espanha será disputada no auge do verão europeu e o asfalto do traçado catalão é famoso por gerar altas temperaturas. Dito isso não será surpresa se, tal como aconteceu no ano passado, os cinco primeiros classificados explorem quatro estratégias diferentes no que se refere ao uso de pneus durante a prova. Ou seja, promessa de grandes emoções no próximo domingo.

Mais do que emoção, o paddock da F-1 vive momentos de tensão em decorrência dos protestos da Renault alegando que a Racing Point copiou o desenho de peças do Mercedes W10, monoposto usado no ano passado. Tal prática é distante anos luz do ineditismo no que se refere à criatividade da categoria e a polêmica serve para esclarecer uma situação mais do que controversa: há um movimento para liberar a venda pura e simples de modelos anteriores a equipes do segundo pelotão ao mesmo tempo que se condena a cópia de soluções comprovadamente eficientes. Ferrari, McLaren, Renault e Williams são contra a cópia, ainda que a Ferrari explore sua colaboração com a Alfa Romeo-Sauber e Haas para desenvolver equipamentos e a Williams use peças da Mercedes.

Tempera-se esse antagonismo com o fato que vários fotógrafos são contratados por equipes para fotografar partes específicas dos carros dos adversários e tem-se um cenário que a FIA e Ross Brawn (o responsável técnico da Liberty Media) terão dificuldade para escolher a melhor decoração. Revogar um artigo do regulamento técnico que exige que cada equipe construa seu próprio chassi pode ser o primeiro passo para por ordem na casa.

O resultado completo do GP 70 Anos da F-1 você encontra aqui.