quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Novo Ford Ka deve ser feito na Bahia














Paulo Ricardo Braga e Pedro Kutney, AB 

O anúncio da construção da nova fábrica de motores da Ford em Camaçari (BA), ao custo de R$ 400 milhões, revela em boa medida a estratégia produtiva e o portfólio da marca nos próximos anos. Segundo fontes ouvidas por Automotive Business, engana-se quem pensou que o New Fiesta (hoje importado do México) seria produzido na Bahia. O modelo global a ser feito na planta baiana será, na verdade, o novo Ka, que entra em linha antes do fim de 2013, justamente quando começa a ser produzido também em Camaçari o motor para ele, um três cilindros da família Fox. 


Já o New Fiesta Hatch entra em produção no Brasil antes disso, em 2012, mas na antiga planta da Ford em São Bernardo do Campo (SP), que para isso recebe investimentos de R$ 800 milhões, conforme anunciado pela empresa este mês. O novo produto conviverá no mercado com o Fiesta Rocam, que segue sendo fabricado na Bahia até setembro de 2013, quando sai de linha para dar lugar ao novo Ka. As informações foram confirmadas a Automotive Business por três fornecedores, de acordo com o planejamento de encomendas da Ford. Procurada, a empresa declarou que “não confirma nenhuma das informações”. 


A estratégia faz sentido. Ao transferir a produção do Ka e de seu novo motor para a Bahia, a Ford busca obter maior rentabilidade. Com a fabricação de um carro de entrada de alto volume de produção, também aumenta a escala do lucro por unidade vendida, pois os modelos produzidos em Camaçari gozam de generosas isenções tributárias. 

Outro ponto a ser considerado é que este tipo de veículo encontra mercado em expressivo crescimento no próprio Nordeste do País. Por exemplo, Salvador, a capital baiana, a menos de 100 km de Camaçari, em breve deve se tornar o terceiro maior mercado de veículos do País. Hoje são vendidos 6,5 mil carros por mês na cidade e nos próximos anos esse número deve subir para 14 mil, o mesmo volume do Rio de Janeiro (RJ) e à frente de Belo Horizonte (MG), de acordo com projeções da JAC, que também terá fábrica em Camaçari pronta em 2014. Assim, fazer produtos adequados bem ao lado desse mercado emergente tem ainda o benefício de reduzir os custos logísticos de distribuição. 

Já o New Fiesta a ser feito em São Bernardo, onde a capacidade e os volumes de produção são menores, continuará com o mesmo status do modelo atualmente importado do México, de compacto premium, com preço superior, também em nome da rentabilidade. O motor para ele é o mesmo de hoje: o Sigma, com bloco e cabeçote de alumínio, fabricado pela Ford em Taubaté (SP) e exportado para o México e Argentina. Para suprir a produção do New Fiesta brasileiro e mexicano, além do Focus argentino, planta de motores recebe investimento de R$ 500 milhões, anunciado em novembro, para aumentar sua capacidade.

A fabricação do Ka fecha quase que por completo o programa de globalização total do portfólio da Ford no Brasil, que começa a ser colocado em prática em 2012 com o lançamento do novo EcoSport, também fabricado em Camaçari. Assim, ficam Ka e EcoSport na Bahia, New Fiesta em São Bernado, enquanto a nova Ranger e o novo Focus seguem sendo feitos na planta de Pacheco, na Argentina. 


Segundo fontes de mercado, a Ford também deve usar a fabricação de um novo carro global de alto volume na Bahia como moeda de troca para tentar alongar os benefícios que recebe no Estado. Não por acaso, termina justamente em 2013, quando entra em produção o novo Ka, o desconto de 65% do ICMS concedido pelo governo baiano. Junto com os incentivos federais, que foram estendidos até 2015 e compensam a empresa do pagamento de IPI, a Ford recebe de volta praticamente todos os impostos dos carros feitos em Camaçari 
A rentabilidade conseguida pela Ford no Brasil permite que seu programa de investimentos, de R$ 4,5 bilhões até 2015, seja mais do que compensado e totalmente financiado pela empresa no País, sem depender de recursos da matriz. 

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