segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Wagner Gonzalez em Conversa de pista


Wagner Gonzalez
Nome mais cobiçado do mercado de trabalho da F1, Ross Brawn foi anunciado nos últimos dias como o mais novo contratado da Ferrari, FIA (Federação Internacional do Automóvel) e pela Williams. Estrategista de fama consolidada por 17 títulos mundiais conquistados desde 1991, Brown pode-se dar ao luxo de escolher onde e se vai trabalhar em 2014, mas certamente não tem o dom de confirmar todas três previsões. Se a decisão de deixar a equipe Mercedes tem muito a ver com o triunvirato formado por Niki Lauda, Paddy Lowe e Toto Wolff, o seu destino passa, principalmente, pelo que acontecerá nos mares agitados de disputas políticas e comerciais que marcam o atual momento da F1: a eleição da FIA e os processos que Bernie Ecclestone enfrenta na Inglaterra e na Alemanha.

Pode parecer estranho ligar o futuro de um engenheiro renomado por sua atuação técnica ao ambiente político da categoria, afinal, poucos engenheiros podem se orgulhar de ter obtido tantos títulos mundiais. Ross James Brawn, engenheiro honoris causa pelas universidades de Brunel e Heriot-Watt, nasceu aos 23 de novembro de 1954 em Ashton-under-Lyne, cidade de 40 mil habitantes na região metropolitana de Manchester, uma das maiores urbanizações da moderna Inglaterra. Nos últimos 22 anos ele venceu o Campeonato Mundial de Carros Esporte (1991, Jaguar), o de Construtores de F1 (1995, Benetton; 1999 a 2004, Ferrari; 2009, Brown) e esteve ao lado de Michael Schumacher e Jenson Button quando o alemão e o inglês conquistaram o Campeonato Mundial de Pilotos em 1994/95/2000/01/02/03/04  e 2009, respectivamente.

Se poucos conseguiram tantas glórias, mais raros ainda são os que o fizeram sem se se deixar envolver por situações desgastantes ou constrangedoras. Não que elas não existam: em 1994, quando ele era diretor técnico da Benetton, o carro do holandês Jos Verstappen sofreu um incêndio durante o reabastecimento durante o GP da Alemanha e Michael Schumacher foi desclassificado no GP da Bélgica por irregularidades no assoalho do monoposto. Ambos os casos ainda geram debates: no primeiro o sistema de reabastecimento teria sido modificado irregularmente para permitir maior vazão de combustível e, no segundo, o chassi estaria mais baixo que o permitido pelo regulamento. Além disso, a equipe Benetton também foi envolta no uso ilegal de controle de tração, mas nunca o nome de Brown foi destacado nesses episódios.

O que sempre se destacou em Ross Brown foi a postura fleugmática com impõe suas decisões. Quem acompanhou o GP da Malásia deste ano certamente se recorda com sua firmeza em manter Nico Rosberg atrás de Lewis Hamilton mesmo após seguidas súplicas do piloto alemão. Em um mundinho onde os egos extrapolam até os mais altos salários - e a F1 paga salários altíssimos para seus eleitos -, essa tarefa não é fácil. Exatamente por isto vislumbraria aqui um dos seus possíveis destinos: nos últimos dias o atual diretor técnico da Scuderia, Stefano Domenicali, declarou que se for para o bem e felicidade geral da Ferrari ele não teria nenhum problema em renunciar ao posto para facilitar a volta de Ross..

Do mesmo CEP modenense exala outro possível destino: Luca Cordero di Montezemolo, atual presidente da Ferrari e outrora nome indicado para comandar a FIA, cobrou mudanças para o segundo mandato de Jean Todt, o candidato único nas eleições que acotnecem dia 6. As mudanças cobradas por Montezemolo, mais do que políticas, envolvem as áreas técnica e desportiva, algo que pode ser uma tarefa que o francês, que tem fama de mandão, delegar  a alguém de extrema confiança. Todt e Brawn trabalharam juntos na última época de ouro da Ferrari na F1…

A reforçar esta possibilidade Todt segue sendo bombardeado por David Ward, que sem apoio suficiente preferiu abortar sua candidatura na eleição desta semana. Ward cobrar mais transparência nos métodos de governança da FIA, particularmente no aspecto financeiro; atualmente a entidade não divulga seus resultados e tampouco os salários pagos aos seus principais dirigentes e seus funcionários. Posto que Ward é um nome bastante ligado a Max Mosley (que ocupou a presidência da FIA antes de Todt),  nome muito ligado a Bernie Ecclestone, é factível vislumbrar um futuro de intranquilidade para a FIA.


Ecclstone é processado na Inglaterra e na Alemanha por causa de negociações duvidosas envolvendo a comercialização dos direitos da F1, bem intangível e valioso adquirido da FIA. Embora pessoas que convivam com Ross Brawn admitam que seu espírito empreendedor o afasta de um cargo político, certamente sua capacidade de resolver situações complicadas – lembremos o que ele fez ao dominar a temporada de 2009 com uma equipe que esteve à beira da falência -, pode ser muito útil na situação atual. Ao ocupar-se da principal fonte de renda da FIA ele deixaria Todt livre para cuidar de outras áreas, em particular a campanha da Fórmula E, categoria de carros elétricos que estréia em 2014.


O terceiro empregador de Brawn seria o império de um dos últimos representantes da era moderna da F1, o espaço de tempo no qual os garagistas ingleses deixaram de ser negociantes de carros de corrida de segunda mão e se transformaram em construtores. Frank Williams é, ao lado de Ecclestone, um dos últimos remanescentes ainda vivos de uma época onde Bruce McLaren, Colin Chapman e Jack Brabham começavam a despontar no então aristocrático clube da categoria. Empreendedor apaixonado pelo esporte Williams precisa reviver os áureos tempos de sua equipe, que há anos vive à sombra do pódio, exceção feita à vitória de Pastor Maldonado no GP da Espanha de 2012.  

Williams sempre foi um dos maiores negociantes dos paddocks da F1 e foi por seu intermédio que várias empresas chegaram e se estabeleceram na categoria, notadamente a TAG, hoje uma das acionistas da McLaren. Após o acidente que o deixou tetraplégico, em março de 1986, Frank manteve-se à frente do time mas pouco a pouco foi delegando poderes. Quando o sócio Patrick Head decidiu dedicar-se com menor intensidade à F1 os escolhidos de Frank não conseguiram os resultados esperados e os triunfos passaram a acontecer com menor intensidade. O perfil de Ross se encaixa como uma luva para levantar o time.

Brawn já trabalhou com Frank Williams em dois períodos: 1976 e de 1978 a 1984, quando deixou a equipe para construir o Beatrice-Lola. Como ambos gostam do automobilismo em sua essência, este elo pode fazer com que Ross se anime a reviver a experiência de ser dono de equipe: sua ida para esse time certamente implicaria na compra de ações, provavelmente as que ainda estão nas mãos de Toto Wolff. Em um passado não muito distante Adrian Newey esteve perto de assumir esta situação mas como Williams não aceitou essa condição o mago da aerodinâmica foi trabalhar em outras bandas. A dúvida agora é saber de Frank vai repetir o erro caso seja esta a condição para reforçar a equipe onde Felipe Massa vai correr no ano que vem.




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