quinta-feira, 6 de março de 2014

Roberto Nasser - De carro por aí


Coluna 1014 05.Mar.2014 - edita@rnasser.com.br

Salão de Genebra. Pequeno, mas o futuro passa por ele 85 anos sediando referencial mostra do mundo dos automóveis novos, o Salão do Automóvel em Genebra enfrenta a crise mundial do combate do dia a dia pelo mercado, e as projeções de como sobreviver em caminho próprio. Antes, há menos de uma década, requeria apenas o rótulo de Verde, como sede para exibição de novas tecnologias da mobilidade não agressivas ao meio ambiente. O partido de marketing colou, e Genebra soube expandi-lo, mantendo-se líder no caminho, expondo os resultados, como a construção veicular mais limpa, menos agressiva, com menores gastos de energia, água, geração de resíduos, reciclabilidade e, em paralelo, mostrar as conquistas crescentes e aceleradas da digitalização – a aplicação da informática nos veículos. Tem suas curiosidades. Genebra, a par da qualidade em tudo, é dos lugares mais caros do mundo – ande 2 km de taxi e pagará uns R$ 60, hotel 4 estrelas a mais de R$ 1500 a diária ..., um quilo de filé perto de R$ 400, ônibus a R$ 12 -, além do frio vento de fim de inverno soprando pelo lago que a pontua. Talvez o frio elegante e a formação da cidade definam a arrumação das moças ilustrando os carros novos. Sem os atrevimentos tropicais, arrumação contida, elegante. Na Porsche, as modelos em conjunto preto com echarpe Hermés entre o marron e o bege, dispensavam os cortes e recortes para compor o cenário e chamar atenções. Em ritmo anterior, as da Audi, em vestido vermelho, languidamente se recostavam nos capôs dos carros brancos, e eram atração à parte quando cruzavam as pernas. E muito cruzavam ...
Veículos.

Hoje a fabricante mais sólida, em expansão, crescimento, vendas, lucros, buscando ser líder de vendas em 2018 – pode ocorrer antes pois hoje está a pequena distância percentual da líder Toyota – a Volkswagen deu o recado e plotou o futuro. Martin Winterkorn, CEO, o no. 1, na grande festa que promove à véspera da abertura dos grandes salões mundiais, deu informação de humilhar terceiro mundistas: o grupo Volkswagen alocou, no exercício passado, mais de 10 bilhões de Euros – uns R$ 35B -, maior parte em pesquisas para desenvolver processos, fábricas, veículos mais amigáveis ao meio ambiente. E justificou o elevado valor pela mudança do mercado, cada dia mais competitivo, em ciclos sempre menores para renovação dos produtos, condicionamento exigente em processos de construção com redução de gastos de insumos ecológicos – a marca, como exemplo, quer diminui-los em 25% até 2018 -; superou, para 2014, os parâmetros impostos na Europa para a emissão de poluentes – máximos 128 gramas de CO2/km para 2015; e tem a maior disponibilidade de veículos com menores emissões. Quer provar suas afirmações: duas de suas marcas, a Audi e a Porsche, irão às 24 Horas de Le Mans, em junho, maior corrida mundial de resistência, com veículos de tecnologias diferentes, híbridos de motor elétrico combinado com a gasolina ou a diesel.

Da marca VW novidade é o novo Scirocco, linhas esportivas num duas portas, a família Polo renovada – que não virá para o Brasil -, e o T-Roc, protótipo de como será o substituto do SUV Tiguan sobre a plataforma MQB. Hoje, sobre ela, apenas o interessante Porsche Macan, recém lançado e com produção anual de 50 mil unidades pré vendida.



De Audi, terceira geração do TT e o S1, versão tração nas quatro rodas do A1. Chegada ao Brasil no quarto trimestre – pós Salão do Automóvel em SP -, e primeiro de 2015. Promessa da Skoda – outra das marcas VW -, o conceito VisionC, um sedã acupezado, não causou o impacto prometido, contida mescla de traços entre Hyundais e BMWs.


Salão na caixa forte do mundo tem suas provocações. Novo Lamborghini, o Huracán – furacão - motor aspirado, V10, 5.2, 610 cv, e capacidade insólita, como acelerar de 0 a 200 km/h em 9s, mais rápido que seu carro consegue ir à metade desta velocidade.



Ou o Bugatti homenageando Rembrant, o irmão do criador Etore, marcheteiro e o escultor do impossível elefante empinando, símbolo do exclusivíssimo modelo Royale. Dele farão 3 unidades a 2 milhões de euros cada – já vendidos. Curiosidade com Bentley. A marca inglesa extrapolou na esportividade de sua versão cupê dita Sport. 6 litros de deslocamento, dois turbos, aproximados 630 cv. O conversível é o mais rápido do mundo, quase 320 km/h. Para adequar-se à coragem de fazer um automóvel com imagem de uso careta performático, pintou-o em tom nunca antes visto naquele país: cobre metálico.

Negócio de carros exclusivos, com direito a exposição de Pagani – que mandou unidade ao Brasil e não conseguiu vender; MacLaren; Koenigsegg, não centram apenas no poder de acelerar seus 1.340 cv, nem sempre adequado a seus clientes com idade proporcional à folga bancária, mas às composições de decoração, materiais e, até, informatização. No caso acertou-se com a Apple recebendo a mais atualizada tecnologia mesclando informação com entretenimento, dito infotainment, em seu sistema CarPlay sobre iPhone, permitindo, sem usar as mãos, mas por comando oral fazer chamadas, acessar mensagens, usar o Apple Voice, ouvir música. Sistema não exclusivo do esportivo sueco, e em Genebra era visto em Mercedes, Volvo, Ferrari.

Carros caros lucram muito, vendem e mudam pouco, exceto Ferrari com novidades anuais. No caso, evoluiu para o California para o T, reduzindo o V8 de 4.3 para 3.9 e aplicando dois turbos. Resultado dinâmico, uns 580 cv a 7.500 rpm, mais de 290 km/h em velocidade final, ir de 0 a 100 km/h em 3,6s – e consumir menos 15% e reduzir emissões em 20%. Diz a Ferrari, tem um berro personalista.Esta disputa por potência, rapidez e velocidade é perigosa. Quem tem $$ para comprar um automóvel destes ou nunca desfruturá de suas habilidade mecânicas, ou se o fizer será candidato a virar estatística de morte em acidente.

Carrinhos simpáticos, Renault Twingo sobre base Smart, motor traseiro, e perfil incrivelmente assemelhado ao Fiat 500. Também, Citroën C1, Peugeot 108 e Toyota Aygo, todos sobre plataforma comum – que não existirá no Brasil, disse-me Carlos Gomes, presidente da PSA-Peugeot-Citröen para o Mercosul. De Citroën, o novo C4 Cactus, envolvido por proteções em forma de almofadas e interessante exercício de utilitário esportivo. Aliás, tudo nestas marcas sofreará o entusiasmo, à espera de projeto pelo novo presidente, o luso Carlos Tavares, e novos sócios, chinesa Dongfen e o estado da França.
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No leque de veículos expostos, o único a falar nosso idioma será o Jeep em seu modelo Renegade, a ser produzido em Goiana, Pe, nova fábrica Fiat. A Coluna mostrou-o há duas semanas: cara de Jeep, grade com sete barras, sobre base do Fiat 500L, acertos de suspensão feitos no Brasil. 

A Fiat, curiosamente, negaceou a informação, mesmo constando do boletim de informação à imprensa. Grupo moto propulsor do Freemont, 4 cilindros, gasolina, 2.4, e diesel 2.0. Transmissões de dupla embreagem e 9 (!) marchas, + tração no diferencial traseiro, e mecânica de seis velocidades. A mais curta Reduzida entre os carros de tração nas 4 rodas: 20:1, coisa para desafiar subir barranco. Entre motores e câmbios,16 possibilidades. Primeiro trimestre do próximo ano.

Conversas concretas com relação a Alfa Romeo, fontes diversas, dados assim:
Não há pressa para novos modelos. A marca é mais forte que suas vendas e mesmo reduzida a dois produtos de massa – MiTo e Giulietta -, e um de nicho, esportivo 4C, há tempo para novo projeto – a ser apresentado na reunião de maio quando Sergio Marchionne, o CEO, exporá o plano quinquenal com cara de dona da Chrysler;

Alfa deve cancelar o projeto de construção comum de esportivo com a Mazda, ante sólidas críticas da desindustrialização na Itália. Marchionne teria assumido o compromisso de lá fazer Alfas. O 4C Cabriolet mostrado em Genebra será produzido em 2015;

Prometidas vendas do C4 devem se resumir a meia dúzia, no final do ano com aumento de disponibilidade da plataforma construída artesanalmente fora da Maserati, e a ser vendido no único revendedor desta marca no país.

Visão sobre o Salão de Genebra, elegante e clean, permite projetar duas consequências a marcar este período da história do automóvel: 
1. a disputa entre as marcas de performance em apresentar a cada vez maior potência, rapidez e velocidade é perigosa, e pode fazer viúvas. Quem tem $$ para comprar um automóvel destes, ou nunca desfruturá de suas habilidade mecânicas, ou se o fizer será candidato a virar estatística de morte em acidente; 
2. a corrida para incorporar itens de segurança tende a acabar com o prazer de conduzir. Dentre em pouco você entrará no automóvel, suas regulagens serão feitas automaticamente; você comandará destino, programa a ser visto ou ouvido na tela; autorizará a saída e será, mesmo sentado em frente ao volante ou ao joystick que irá substituí-lo; e nada fará. A eletrônica cuidará de tudo. E você se perguntará o que faz neste ônibus pequeno e caro. E isto é hoje factível.

Roda-a-Roda

Tempos – Sempre o material de divulgação dos veículos expostos nos Salões foi de pontual qualidade gráfica, ricos, para ser arquivados. Tantos e tão bons, exigiam mala exclusiva ao transporte das peças recebidas nas mostras.

... – A informática reduziu-os a pen drives, e no Salão suíço, síntese, pífio cartãozinho com endereço da etérea nuvem. Não parece distante o dia de haver solitário cartão com todos os endereços. E nem impossível acabar com os Salões, marcando datas para envio aos jornalistas de e.mail com todas as novidades de todas as marcas. Único impresso de qualidade era Chrysler/Jeep/Fiat sobre o Renegade.

Interesse – Todo Salão há uns camaradas fotografando detalhes dos lançamentos – como se colocam parafusos, encontro de painéis, detalhes da costura dos bancos, disposição dos fios sob o capô, coisas sem espaço na imprensa.

Outros - Não são jornalistas, apesar de ser dias de imprensa, mas espiões das fábricas concorrentes, em especial chinesas, querendo acessar evidências físicas sem adquirir um exemplar para dissecar. O Renault Twingo era dos mais detalhados pelos falsos jornalistas.

Elétrico – Eflúvios do Salão, fonte qualificada aposta na VW inovar, aplicando turbos elétricos – sem buracos em baixas rotações, de menor custo, sem penalizar o motor. E câmbio de duas embreagens com 10 marchas. Nada pelo quadriculado da bandeira das corridas, mas pelo verde exigindo reduzir consumo e emissões.

Soma – Inflação, falta de confiança, prevenção contra dificuldades, fez o mercado de automóveis na Argentina encolher. Acredita-se, fevereiro teve em queda de 40% na passagem pelos revendedores.

Ocasião – Fiat escolheu local para apresentar o novo 500 em versão Abarth: Araxá. MG, junho, durante a Copa do Mundo, no Brasil Classics, mais elegante dos encontros de automóveis antigos e sob seu tradicional patrocínio.



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