Mais
do mesmo e diferente
Wagner Gonzalez |
Soa contraditório
afirmar que a F-1 2020 está interessante e cheia de desafios. Se os pilotos da
equipe Mercedes, Lewis Hamilton e Valtteri Bottas, são os únicos vencedores das
três provas já realizadas e o time alemão soma 121 pontos de um máximo de 129,
seus adversários não estão parados.
Há desde empresários de sucesso trabalhando
para emular as conquistas de Toto Wolff, novos pilotos caminhando para se
tornar os novos astros da categoria e até mecânicos mostrando que a paixão move
montanhas e conserta carros até mesmo no asfalto molhado do grid de largada.
Tudo isso em uma
temporada que sequer tem um calendário definitivo e após três
GPs disputados em três fins de semana consecutivos interrompe essa movida para
repetir a dose a partir de 2 de agosto.
A Mercedes domina
a F-1 há seis temporadas, consequência de um processo iniciado em 1991, quando
Mario Illien e Paul Morgan, os donos da Ilmor, passaram a desenvolver o motor
2175A, um V-10 aspirado usado inicialmente pela Leyton House e adotado pela
Sauber em 1993, cujos carros a essa altura levavam a inscrição “Concept by
Mercedes-Benz”. Entre idas e vindas, os alemães associaram-se à McLaren e no
biênio 1998/9 essa combinação deu o carro vencedor ao campeão Mika Häkkinen,
resultado repetido em 2008 com Lewis Hamilton.
Toto Wolff |
Um
período de incertezas levou à reformulação do projeto e em 2013 um austríaco
filho de mãe polonesa e pai romeno assumiu a direção executiva da operação F-1.
Desde então Toto Wolff transformou-se num dos executivos mais eficientes da
história da categoria graças aos resultados obtidos e à maneira eficiente como
mantém seus colaboradores motivados. Entre outras coisas, sempre escolhe um
subordinado para receber o troféu de equipe vencedora e consegue transmitir a
sensação de liberdade à sua equipe de box sem jamais perder a autoridade.
Lawrence Stroll (E) fez o filho Lance |
Tal
como Wolff, Lawrence Stroll também viveu períodos de forte ligação com a equipe
Williams; as chances de se tornar um investidor maior no time de Grove
existiram para ambos, atualmente ligados por interesses na Aston Martin, onde o
canadense é o acionista majoritário e o austríaco tem participação simbólica.
Disposto a ir muito além da figura do pai milionário que conseguiu transformar
seu filho Lance em um piloto de F-1, Stroll adquiriu a Force India do falido
Vijay Mallya e a passos largos transforma a equipe baseada em frente ao portão
principal de Silverstone em um time de primeira linha.
O futuro de Vettel na F-1 passa pela Racing Point |
Este
ano Lawrence Stroll convenceu Tobias Moers, a trocar a da direção da AMG
(divisão da Mercedes para modelos de alta performance) pela Aston Martin, onde
a fábrica alemã, tem participação acionária. Há dois anos a marca inglesa apoia
a Red Bull, acordo que, obviamente não será renovado já que o nome Racing Point
será trocado por...Aston Martin. Se Wolff convenceu, com uma boa ajuda de Niki
Lauda, Lewis Hamilton a trocar a McLaren pela Mercedes, Stroll não poupa
esforços para fazer algo semelhante com Sebastian Vettel, apostando que o
piloto alemão não teria chance melhor se realmente quiser permanecer na F-1 em
2021. As chances de que isso aconteça são maiores que razoáveis.
Red Bull celebraram o segundo lugar de Verstappen |
Se
a Racing Point trabalha nos bastidores para suplantar a Red Bull como segunda
força da categoria, no último domingo esta última mostrou publicamente que tem
um exército leal e motivado. Ao alinhar para o GP da Hungria (resultados aqui) Max Verstappen saiu da
pista e danificou bastante a suspensão dianteira esquerda do seu carro. Em
cerca de 20 minutos os mecânicos da equipe conseguiram completar no grid de
largada um reparo que, de acordo com Christian Horner, tomaria cerca de hora e
meia em situação normal. O segundo lugar obtido pelo holandês ao final da prova
foi uma verdadeira vitória para o time e foi um show à parte que você pode assistir aqui, em vídeo da Fórmula 1.
Carlos Sainz (C) e Charles Leclerc, experiência versus arrojo |
Na
pista, a competição entre novos pilotos também ajuda a aumentar a expectativa
pelas próximas corridas e até para o que está por vir na próxima temporada. Em
uma temporada onde as formações do ano seguinte são anunciadas com ineditismo
precoce já se pode antever situações que prometem boas disputas. Ao prestígio
que Charles Leclerc desfruta na Ferrari, sua experiência atual de 45 GPS
significa 60 largadas a menos que Carlos Sainz, seu futuro companheiro de
equipe em 2021. Verdade que o monegasco tem resultados mais expressivos, mas o
espanhol jamais teve um carro competitivo como o Ferrari de 2019 e não se sabe
se a Scuderia conseguirá transformar o SF1000 de 2020 em uma fênix. Nessas
condições, os quilômetros rodados que Sainz se encaixam melhor em tal cenário.
Cenário
semelhante deve acontecer na McLaren, onde a juventude exuberante de Lando
Norris vai contrastar com a experiência do já veterano Daniel Ricciardo. A
Renault dará lugar à Mercedes num processo que vai ocorrer em um quadro
peculiar: para amenizar as consequências de uma temporada de baixo faturamento
os carros deste ano deverão ser usados em 2021. Posto que um chassi de F-1 é
projetado levando em conta as necessidades de refrigeração e as exigências de
instalação do motor, o bom momento que a McLaren vive este ano pode esvanecer
no ano que vem por causa dessa mudança.
Ver como Lawrence
Stroll coordena a consolidação da sua equipe, identificar como a Red Bull vai
compensar a perda da Aston Martin, conferir o caminho acidentado que a Ferrari
tem à frente e descobrir se Zak Brown e Andreas Seidl conseguirão superar seus
obstáculos imediatos são motivos suficientes para seguir acompanhando a
temporada, não importa o que aconteça com a Mercedes. Aliás, Toto Wolff já
avisou que apesar de toda a vantagem da sua turma “uma etapa sem marcar pontos
e a coisa fica complicada”. Em outras palavras, não dá para contar com o troféu
que está no pódio do próximo GP.
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