terça-feira, 10 de março de 2020

WAGNER GONZALEZ em Conversa de pista

Wagner Gonzalez

20 homens e uma fórmula
Apesar de algumas novidades de carros, motores e troca de CEPs de pilotos, além do onipresente Codiv-19, o início da temporada 2020 da F-1 carrega tradições típicas da categoria. Um comunicado emitido pela FIA para anunciar um acordo não revelado com a Ferrari e concernente à bateria usada na temporada passada gerou um protesto formal de sete equipes da categoria. Nada surpreendente, as três que não subscreveram a tal carta foram a própria Ferrari e as duas que usam seus motores, Alfa Romeo e Haas.

A temporada começa com uma baixa já confirmada: o GP da China foi cancelado e ainda não se pode prever se vai acontecer este ano e o GP do Bahrain será disputado sem a presença de público. Há mais por acontecer neste fim de semana e o protagonista principal disso é o novo sistema de direção da Mercedes, maior novidade da pré-temporada. Faltando poucos dias para o Grande Prêmio da Austrália, que acontece domingo em Melbourne, vale a pena dar uma passada d’olhos em cada uma das dez equipes inscritas no campeonato.

Equipe/Construtor: Mercedes-AMG Petronas Formula One Team/Mercedes
Carro/Motor: F1 W11 /AMG F1 M11
Pilotos: Lewis Hamilton (Inglaterra, #44) e Valtteri Bottas (Finlândia, #77)

 O bicho papão da categoria nas últimas cinco temporadas não perdeu o apetite por novas conquistas e é o responsável pela maior inovação dos últimos tempos: um sistema de direção conhecido como DAS (Dual Axis Steering, ou Esterçamento com Duplo Eixo em tradução livre), que altera a convergência das rodas dianteiras com o carro em movimento. Tal recurso permite ganhar velocidade nas retas, melhorar o desempenho do automóvel nas curvas e economizar pneus e combustível; esse complexo de melhorias possibilita poupar o motor e completar stints mais longos, ou seja, andar mais voltas com o mesmo jogo de pneus. Um fato curioso que embrulha este pacote é o fato de Valtteri Bottas ter feito o melhor tempo dos treinos da pré-temporada na primeira semana de atividades, claro indício que depois disso o time alemão optou por tentar encobrir o real rendimento dos seus carros. Lewis Hamilton foi o campeão de quilometragem: completou 466 voltas (contra 437 de Bottas) e marcou o quinto melhor tempo: 1’16”410.

Equipe/Construtor: Aston Martin Red Bull Racing/Red Bull Racing Honda
Carro/Motor: RB16/Honda RA620H
Pilotos: Alex Albon (Tailândia, #23) e Max Vertappen (Países Baixos, #33)

O time que conta com o talento de Adrian Newey, há anos o projetista mais destacado da categoria, aposta no talento de Jos Verstappen para recuperar o domínio que marcou a passagem de Sebastian Vettel pela euipe onde conquistou quatro títulos consecutivos. O holandês terminou a pré-temporada como segundo homem mais rápido (1’16”269), a equipe foi a quinta em número de voltas completadas (780, contra 903 da Mercedes) e Alex Albon fechou os seis dias de testes com o 20º tempo (1’’17”550). Leia-se aqui o holandês trabalhando com foco em performance absoluta e o anglo-tailandês na resistência, tanto que andou sempre com pneus de compostos mais duros. Espere da equipe a liderança do pelotão pós-Mercedes.

Equipe/Construtor: Renault F1 Team/Renault
Carro/Motor: R.S.20/Renault E-Tech 20
Pilotos: Daniel Ricciardo (Austrália, #3) e Estebán Ocón (França, #31)

Maior candidata a Fênix da temporada, a Renault se destacou pelo desempenho similar dos seus dois pilotos: o australiano marcou o terceiro tempo (1’16”276) e o franco-catalão o sexto (1’16”433), ambos garantindo o total de 737 voltas para o time francês. Sem maiores problemas de confiabilidade – a durabilidade do motor gerou bons comentários – as chances de uma recuperação plena em relação a um problemático 2019 são grandes. Motivos para tanto são a conjunção da experiência e velocidade de Ricciardo e a juventude e potencial de Ocón, algo que deve contribuir para um bom ambiente de trabalho em uma equipe que tende a colher os frutos da reorganização acontecida na segunda metade da temporada passada.

Equipe/Construtor: Scuderia Ferrari Mission Winnow/Ferrari
Carro/Motor: SF1000/Ferrari 065
Pilotos: Sebastian Vettel (Alemanha, #5) e Charles Leclerc (Mônaco, #16)

Eternamente envolta em um ciclo que alterna longas crises com momentos de glória, a Ferrari começa o ano envolta no acordo secreto feito com a FIA para encerrar o caso envolvendo a especificação das baterias usadas no ano passado. Não bastasse a reclamação das concorrentes, a Scuderia trabalha para diminuir a diferença sentida para os rivais e sofre com as consequências da eterna vigilância da imprensa italiana, que cobra resultados a altura da paixão incandescida pelo time de Maranello. Além do contexto técnico há mais obstáculos no futuro próximo: a renovação do contrato de Sebastian Vettel (9º tempo, 1’’16”841), cada vez mais ofuscado pelo já não tão novato Charles Leclerc (4º, 1’16”360) deverá elevar a sempre alta temperatura que envolve a marca, cuja quilometragem foi a segunda maior dos testes: 844 voltas.

Equipe/Construtor: BWT Racing Point F1 Team/Racing Point-BWT Mercedes
Carro/Motor: RP20/BWT Mercedes
Pilotos: Sérgio Pérez (México, #11) e Lance Stroll (Canadá, #18)

Tal qual a Renault, a Racing Point também mostrou sinais de recuperação, neste caso mais profundos: a falência do seu antigo proprietário (Vijay Mallya), só não decretou o final da equipe porque o milionário canadense Lawrence Stroll decidiu aprofundar sua paixão pelo automobilismo e assumiu o time em meados de 2018. De quebra garantiu a carreira do seu filho Lance e, mais recentemente comprou uma quantidade significativa de ações da Aston Martin, marca atualmente ligada à Red Bull e que será adotada como nome do time hoje apoiado pela BWT, fabricante alemã de filtros de água. Tão importante quanto as qualidades gerenciais de Lawrence Stroll é a capacidade técnica de Andy Green, engenheiro que formado por Gary Anderson, de quem herdou a paixão pelo esporte e capacidade de trabalhar com orçamentos reduzidos. O desempenho de Sérgio Pérez (7º, 1'16”634) contrasta com o de Lance Stroll (16º, 1’17”118) apesar que o mexicano tenha marcado seu tempo com pneus de composto mais macio (C5) e o canadense usado os de composto médio (C3). As 782 voltas completadas pelos dois, quarta maior quilometragem, denota a confiabilidade do carro.

Equipe/Construtor: McLaren F1 Team/McLaren-Renault
Carro/Motor: McL35/ Renault E-Tech 20
Pilotos: Lando Norris (Inglaterra, #4) e Carlos Sainz (Espanha, #55)

Provavelmente a dupla de pilotos mais descontraída da categoria, Carlos Sainz e Lando Norris podem viver um grande ano, apesar das limitações paralelas decorrentes da futura associação da equipe em 2021, quando a McLaren substituirá o motor Renault pelo Mercedes. A resistência e durabilidade demonstrada pelo V6 francês nos testes de Barcelona garantiu ao time a boa marca de 802 voltas e promete ao espanhol Sainz (8º, 1’16”820) a tranquilidade necessária para exprimir sua principal qualidade: um estrategista dos mais rápidos. O inglês Norris (21º, 1’17”573) é o queridinho da McLaren e está sendo trabalhado pela equipe em um programa de longo prazo para ser um novo Lewis Hamilton.

Equipe/Construtor: ROKIT Williams Racing/Williams-Mercedes
Carro/Motor: FW43/Mercedes-AMG F1 M11
Pilotos: Nicholas Latifi (Canadá, #6) e George Russell (Inglaterra, #63)
 Para a outrora dominante equipe Williams seria muito difícil fazer pior nos testes e Barcelona do que o registrado na temporada de 2019, quando terminou em último lugar entre os construtores e sofreu até mesmo com a falta de peças de reposição. O pragmatismo do fundador Frank Williams falou mais alto e a reorganização do time, bancada em boa parte com a chegada do canadense Nicholas Latifi (18º, 1’17”313), garantiu os recursos para reerguer o time e permitir o brilharete do inglês George Russell (10º, 1’16”871). Um problema na instalação do motor Mercedes no chassi FW43 provocou panes e impediu um total maior que as 737 voltas registradas pelos dois pilotos. A rivalidade entre Michael Latifi (pai de Nicholas) e Lawrence Stroll (pai de Lance), dois dos homens mais ricos do Canadá, poderá garantir tempos melhores.

Equipe/Construtor: Scuderia AlphaTauri Honda/AlphaTauri-Honda
Carro/Motor: AT01/Honda RA620H
Pilotos: Pierre Gasly (França, #10) e Daniil Kvyat (Rússia, #26)

Equipe satélite da Red Bull e montada sobre as bases lançadas pelo entusiasta Gian Carlo Minardi, a AlphaTauri é o novo nome da Scuderia Toro Rosso, baseada na cidade de Faenza, na Emilia-Romagna. Os brasileiros acompanharão o desempenho da equipe com atenção: o mineiro Sérgio Sette Câmara foi anunciado esta semana como piloto reserva do russo Kvyat (11º, 1’16”914) e do francês Gasly (14º, 1’17”066). Com quilometragem semelhante à marcada pela escuderia-irmã (780 e 782 voltas, respectivamente), a AlphaTauri deverá completar o segundo pelotão do grid.

Equipe/Construtor: Alfa Romeo Racing Orlen/Alra Romeo Racing-Ferrari
Carro/Motor: C39/Ferrari 065
Pilotos: Kimi Räikkonen (Finlândia, #7) e Antonio Giovinazzi (Itália, #99)

Curiosamente o melhor desempenho da equipe de matrícula suíça e nome italiano foi obtido pelo piloto reserva da equipe e protegido pelo patrocinador polonês, Robert Kubica (Polônia, 12º, 1’16”942). O desempenho de Kimi Räikkonen (15º, 1’17”091) e Antonio Giovinazzi (18º, 1’17”469) demonstra que o chassi C39 não é competitivo. Uma profunda revisão no projeto é elementar para aproveitar melhor a potência do motor Ferrari 065.

Equipe/Construtor: Haas F1 Team/Haas-Ferrari
Carro/Motor: VF20-Ferrari 065
Pilotos: Romain Grosjean (Suíça, #8) e Kevin Magnussen (Dinamarca, # 20)

 Depois de uma estreia promissora em 2016, a norte-americana Haas amarga temporadas cada vez menos competitivas e o desempenho de Grosjean (13º, 17”037) e Magnussen (19º, 1’17”495) não colaboram para um panorama mais promissor. Talvez a manutenção de dois pilotos que se deixam levar pelo entusiasmo em momentos decisivos, uma série de falhas com sua equipe de box e a maneira como o italiano Gunther Steiner dirige o time sejam os elementos de uma equação ainda não resolvida.

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