terça-feira, 4 de março de 2014

Wagner Gonzalez - Conversa de Pista


Wagner Gonzalez
Motores Mercedes confirmaram potência e resistência enquanto a Ferrari aparece como maior rival do exército alemão. Mundial de F-1 começa dia 16 na Austrália e Porsche vaza foto do modelo 919 de Endurance

Verdade que a imagem que mostra as forças da temporada 2014 da F-1 só ficará nítida após duas ou três etapas, isto é, depois que os novos carros superarem o primeiro grande teste no circuito de Melbourne, o calor e a umidade da Malásia e, novamente, o clima seco que caracteriza a pista árabe onde domingo terminou a terceira e última sessão de testes para este ano. Mesmo assim não é demais enxergar que Felipe Massa tem nas mãos um carro capaz de colocá-lo como protagonista de um campeonato onde Nico Rosberg e Lewis Hamilton despontam como favoritos, a Ferrari surge como força a ser olhada com respeito enquanto Force Índia e McLaren podem surpreender.
Mais rápido no Bahrein, Massa mostra otimismo contido
Durante as três sessões de testes pré-temporada – uma em Jerez, Espanha, e duas no Bahrein –, o brasileiro esteve sempre entre os mais rápidos e os que mais treinaram. Com base no desempenho que obteve em seis dos 12 dias que a F-1 usou para testar os novos carros de 2014 Massa mostrou que tem condições de conseguir bons resultados na temporada que inicia no circuito de Albert Park, em Melbourne, na semana que vem:

“A gente nunca pode ter certeza que está tudo perfeito para a abertura da temporada, mas eu sinto que esses dias de teste foram suficientes para concluir que temos um carro que é resistente e tem uma bom desempenho.”

Pode-se analisar os oito dias de testes do Bahrain sob a ótica do tempo absoluto, da quilometragem percorrida, do progresso obtido a cada dia, da regularidade e das quebras. Sob todos estes aspectos o “Geschwader” de Stuttgart sai bem na foto: na banda de um segundo a partir do melhor tempo do brasileiro (1:33.258), apareceram Hamilton (1:33.278), Rosberg (1:33.282), Bottas (1:33.987) e Alonso (1:34.280). Detalhe: todos marcaram esse tempo com pneus supermacios e Massa foi o que completou a menor quilometragem, consequência de uma pane no segundo dia de treinos da primeira fase dos testes. Na média de distância percorrida por dia para os cinco primeiros  Bottas (551 km), Rosberg (495), Alonso (483), Hamilton (406) e Massa (361), novamente a Mercedes foi a mais regular, a Williams apareceu nos extremos e a Ferrari marcou presença. Um acidente com Räikkönen (1:35.426) atrapalhou a agenda da Scuderia e encerrou prematuramente uma simulação de corrida.

Há tempos que a equipe de Grove não aparecia tão bem na fita, resultado de uma reorganização profunda, contratação de muitos técnicos de outras equipes e, obviamente, da unidade de potência alemã. Sim, unidade de potência, porque um F-1 já não anda apenas com a potência do motor posto que os sistemas de recuperação de energia garantem aceleração importante a cada volta. Se os pilotos ganham tempo na pista graças a eles, também é verdade que quando acontece alguma pane a complicação para montar e desmontar esse conjunto faz muita gente lembrar com saudades do período 1967/77. Naquela época bastava um motor Cosworth DFV V8, uma caixa de câmbio Hewland e quatro amortecedores Koni para instalar em um chassi feito na oficina. As dúvidas praticamente se resumiam entre as marcas de pneus e pastilhas de freio…

De volta ao futuro próximo, a abertura do campeonato, o poderio econômico da Mercedes poderá fazer a diferença nessa disputa com a Williams enquanto a Ferrari já deixou claro, nas palavras de Stefano Domenicali, que nada será como antes após a corrida de Melbourne:

Stefano Domenicali
“Creio que veremos muitas mudanças entre a primeira e a segunda corridas da temporada”, declarou o italiano ao analisar o resultado dos testes na pista barenita, antes de completar lembrando que  “confiabilidade é a palavra chave dessa fase inicial e o ponto nevrálgico é a integração entre o motor e os sistemas de recuperação de energia. Diria que estamos logo atrás da Williams e da Mercedes e que estou confiante: os resultados apontados no nosso simulador foram confirmados na pista, e isso é muito bom.”

Confiabilidade é o que parece faltar na McLaren, quase tanto quanto uma pequena dose de velocidade: Magnussen (1:34.910) e Button (11:34.957), ficaram distantes dos tempos do grupo enfocado acima, sendo que o dinamarquês andou com pneus supermacios, algo que o inglês não pode fazer em consequência de problemas elétricos. Não será surpresa para ninguém se o time agora liderado por Eric Boullier (ex-Lotus), sob o olhar atento de Ron Dennis, for visto disputando posições intermediárias com a Force India; afinal a equipe já tem contrato assinado com a Honda para o ano que vem e Kevin Magnussen, embora rápido, pode provocar um revival do pesadelo que Jenson Button viveu em 2013, cortesia de Sérgio Pérez. 


O mexicano, que agora defende a operação de Vijay Mallya, poderá ser um eisbein duro de roer para o companheiro Nico Hulkenberg; o resultado da dupla dependerá mais dos destinos da equipe do braço de ambos. O império de Mallya (o conglomerado UB, que opera a cervejaria United Breweries, a empresa aérea Kingfischer e os times de futebol East Bengal e Mohun Bagan, entre outros negócios) enfrenta sérias dificuldades no mercado indiano; pior, a Sahara, grupo de entretenimento, finanças e que também patrocina da seleção de críquete da Índia, sofreu um revés dia 28 de fevereiro quando Subroto Roy,seu presidente e sócio de Mallya, teve um mandado de prisão expedido contra ele por faltar a uma audiência junto à Suprema Corte do país.

Ainda não é bem o caso mas a julgar pelo temperamento de Carlos Ghosn – o autoritário e muquirânico chefão da Renault -, o clima de Suprema Corte (ou seria melhor mencionar Corte Marcial?...) -, também poderá ser notado pelos lados de Viry-Chatillon e nas equipes que usam a motorização francesa. Toro Rosso, Red Bull, Caterham e Lotus, nesta ordem, amargaram resultados que, à exceção da primeira, foram pouco ou nada animadores. O fato da Marussia, agora usando mecânica Ferrari, ter colocado seus pilotos Max Chilton e Jules Bianchi à frente de oito adversários (seis se descontarmos as performances de Felipe Nasr e Robert Frijns), é uma boa descrição deste quadro.

Tudo indica que no caso da Renault a chave do problema esteja diretamente ligada ao software e à refrigeração das interfaces entre o motor e os sistemas de recuperação de energia. Para Sebastian Vettel e Daniel Ricciardo a esperança está na igualdade, fraternidade e liberdade que a ligação entre Red Bull e Toro Rosso possa proporcionar.

Afinal foi a equipe júnior do império energético que melhor resolveu a instalação do motor francês, cujas equipes andaram em média 224 km por dia por carro, menos da metade do grupo dos cinco mais rápidos. Se excluirmos o desempenho igualmente pífio dos dois Caterham CT05 de Kamui Kobayashi e Marcus Ericsson esse índice cai para 182 km. Mesmo a alta quilometragem percorrida pelo japonês (1.082 km) e pelo sueco (1.482 km), anula as considerações do simpático Koba San, para quem “nosso carro é mais lento um GP2…”

Finalmente a Sauber: perdida no meio do pelotão intermediário, por enquanto nada indica que a temporada de 2014 será muito melhor que o sofrido ano de 2013.


Resultados dos treinos no Bahrain após duas sessões de testes
1) Felipe Massa, Williams FW36-Mercedes, 1:33.258
2) Lewis Hamilton, Mercedes AMG W05, 1:33.278
3) Nico Rosberg, Mercedes AMG W05, 1:33.283          
4) Valtteri Bottas, Williams FW36-Mercedes, 1:33.987   
5) Fernando Alonso, Ferrari F14 T,1:34.280      
6) Kevin Magnussen, McLaren MP4-29-Mercedes,1:34.910       
7) Jenson Button, McLaren MP4-29-Mercedes, 1:34.957           
8) Sérgio Pérez, Force India VJM07-Mercedes,1:35.290
9) Kimi  Räikkönen, F14 T, 1:35.426     
10) Nico Hulkenberg, Force India VJM07-Mercedes, 1:35.577 
11) Jean-Eric Vergne, Toro Rosso STR9-Renault,1:35.701
12) Daniel Ricciardo, Red Bull RBR10-Renault, 1:35.743
13) Daniil Kvyat, Toro Rosso STR9-Renault,1:36.113
14) Adrian Sutil, Sauber C33-Ferrari, 1:36.467 
15) Max Chilton, Marussia MR03-Ferrari, 1:36.835 
16) Jules Bianchi, Marussia MR03-Ferrari, 1:37.087
17) Estebán Gutiérrez, Sauber C33-Ferrari, 1:37.180
18) Sebastian Vettel, Red Bull RBR10-Renault, 1:37.468
19) Felipe Nasr Williams, FW36-Mercedes, 1:37.569
20) Kamui Kobayashi, Caterham CT05-Renault, 1:38.391
21) Marcus  Ericsson, Caterham CT05-Renault, 1:38.083
22) Pastor Maldonado, Lotus E22-Renault, 1:38.707
23) Romain Grosjean, Lotus E22-Renault, 1:39.302
24) Robert Frijns, Caterham CT05-Renault, 1:42.534

Ainda não foi desta vez…

Esperada para ser divulgada na semana  passada, ainda não foi desta vez que a FIA anunciou o vencedor da concorrência para preencher a décima-segunda vaga entre as equipes que deverão disputar o Campeonato Mundial de F-1 de 2015. A atual crise econômica – que já levou Tony Fernandes a anunciar que poderá fechar a Caterham caso sua escuderia não marque pontos nesta temporada -, é apenas parte do que pode explicar esse adiamento: também contam a chegada da Honda e o apoio extra-oficial que a Ferrari e a Renault estariam dispostas a oferecer aos grupos liderados pelo norte-americano Gene Hass e pelo romeno Ion Bazac, respectivamente. Também há rumores que Jean Todt e Bernie Ecclestone também não chegaram a uma escolha comum.

… mas por outro lado…

Quando foi criada, em 2008, a Fota parecia destinada a alterar substancialmente o equilíbrio de forças na F-1, afinal reunia todas as equipes da categoria em torno da defesa dos interesses da classe. Pode-se dizer que alguns objetivos foram conseguidos, mas quando Bernie Ecclestone optou por negociar com cada equipe separadamente o modelo de negócios deixou de ser eficiente. No final de 2011 a Ferrari decidiu abandonar o barco e levou com ela a Sauber (que usa seus motores), a Red Bull e seu satélite Toro Rosso; não demorou muito para que os céticos de plantão vislumbrassem tempos difíceis para o futuro da Associação das Equipes de F-1. Esta previsão ganhou corpo quando Martin Withmarsh perdeu, em dezembro de 2013, poder, status e emprego como líder da McLaren: o inglês era o mais entusiasmado em manter as escuderias unidas na luta por ideais de fundo econômico e político. Dia 28 passado a Fota divulgou uma nota oficial onde culpou as recentes mudanças políticas e comerciais da F-1 para deixar de existir.  

… e lá pelas praias do Pacífico…
A prefeitura de Long Beach, cidade na área metropolitana de Los Angeles, abriu concorrência para um novo contrato para a realização do GP local, que já foi focado em categorias variadas, desde a antiga F-5000 (conhecida nos EUA como Fórmula A), F-Indy, GT, Drift e, obviamente F-1. Vale lembra que foi nesse circuito que Nelson Piquet conquistou sua primeira vitória na categoria, dia 30 de março de 1980, dividindo o pódio com Riccardo Patrese e Emerson Fittipaldi. Chris Pook, parceiro de Bernie Ecclestone desde muito tempo, representa o inglês nessa disputa, cujo resultado poderá ser conhecido ainda hoje, terça-feira, quatro de março.

Homenagem a Senna

Os italianos preparam uma grande homenagem a Ayrton Senna para o próximo dia 1º de maio, quando se completa 20 anos do acidente fatal com o brasileiro na disputa do GP de San Marino de 1994. Nomes históricos da F-1, e uma missa na catedral de Imola, em memória a Senna e ao austríaco Roland Ratzemberger estão incluídas na agenda, que inclui ainda exposição de veículos, exibição do documentário Senna – do diretor Asif Kapadia -, e uma parada de automóveis e motos pelo autódromo.

Fotos do Porsche 919 LMP-1 que disputará o Campeonato Mundial de Resistência (WEC), vazaram na madrugada de ontem. O modelo marca a volta da fabricante alemã à categoria que consolidou seu nome como  símbolo de velocidade e resistência com os belos 908, 917 e 956/962. Por enquanto, porém, não há planos para comercializar o 919 para equipes particulares.


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