Alta Roda nº 1025/375– 28/12/2018
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Fernando Calmon |
Indústria faz apostas audaciosas
O ano de 2018 termina e 2019 começa ainda sob influência
das maiores incertezas que já se abateram sobre o futuro da indústria
automobilística mundial. Não existem dúvidas em relação à importância dos
quatro temas principais repetidos a toda hora: eletrificação, conectividade,
direção autônoma e compartilhamento. Cada um deles, porém, tem seus próprios
desafios.
Grandes grupos de fabricantes ao redor do planeta apresentam uma visão algo
mais ou algo menos corajosa sobre esses temas. Eles surgiram quase ao mesmo
tempo, muitas vezes influenciados por decisões políticas ou estímulos de
governos.
Torna-se preocupante e pode levar a um rumo perigoso a gigantesca exigência de
capital para investimento. Haverá dinheiro suficiente para desenvolver
simultaneamente quatro frentes? Conectividade e direção autônoma apresentam
alguma interatividade. As outras duas, menos.
Compartilhamento é um campo em que colaboração e parceria podem conter gastos.
Agora mesmo, arquirrivais como BMW e Mercedes-Benz anunciaram a aprovação de
autoridades americanas e europeias para um plano de juntar forças numa única
empresa em cinco iniciativas: mobilidade multimodal sob demanda;
compartilhamento de veículos em cidades; serviços de carona em carros
particulares ou táxis por aplicativos; estacionamentos conectados para agilizar
o uso, diminuindo o tempo de procura por vagas; construção de uma rede
integrada de recarrega de baterias.
Tudo isso parece insuficiente para resolver todos os desafios. Continua a falta
de consenso e mesmo convergência tecnológica sobre como mover e abastecer ou
recarregar carros elétricos. O automóvel em si não apresenta segredos. Pode ser
até mais barato projetá-los e fabricá-los. Mas a reciclagem de baterias ainda é
um sério problema em aberto. Veículos autônomos podem receber propulsão
clássica ou elétrica, embora os custos ainda se mostrem estratosféricos.
Nos EUA, segundo maior mercado do mundo e mais rico do
que qualquer outro, as estratégias de curto e médio prazo diferem entre GM,
Ford e FCA. A primeira decidiu apostar todas as fichas apenas em elétricos
puros, descartando híbridos e desacelerando o mais rápido possível
investimentos em motores a combustão. Ford e FCA agem de modo cauteloso, sendo
que a FCA só este ano anunciou um plano de médio prazo focado em transição
conservadora.
Para inflamar as discussões, Jack Baruth, colaborador da revista americana Road
& Track, escreveu instigante artigo sobre táticas empresariais ligadas ao
futuro. Ele defende não aplicar nenhum centavo nessas novas tecnologias até
aparecer uma solução real e prática. Preconiza, ao contrário, despejar dinheiro
para melhorar muito os carros e motores convencionais, o que daria grande
vantagem competitiva nos próximos anos. E quando chegar a hora de mudar, não
serão dois ou três anos de atraso que farão diferença.
Para Baruth, qualquer bateria ou novos avanços em motopropulsão até 2025 não
seriam disruptivos o suficiente para agitar o mercado de verdade e, de forma
rápida, tornar-se universal. “Então por que gastar agora bilhões de dólares em
busca do ‘Santo Graal’ se, mais adiante, a tecnologia pode ser comprada quando
começar a cair de preço?”, pergunta.
Trata-se de tese audaciosa. As coisas podem não acontecer de modo tão simples
porque há pressões políticas envolvendo aspectos do meio ambiente e utilização
de automóveis nos grandes centros urbanos. Embora possa se aplicar aos EUA e,
curiosamente, também aos países em desenvolvimento (como o Brasil), esperar
para ver passa longe de ser ideia descartável.
PERFIL
Fernando
Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e
consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de
comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É
publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda,
correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmo fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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