quinta-feira, 17 de novembro de 2011

JAC, a primeira montadora sino-brasileira


Pedro Kutney, AB
www.automotibebusiness.com.br
De Salvador


Será em Camaçari, na Bahia, a primeira fábrica sino-brasileira de automóveis. A cerimônia que oficializou o empreendimento aconteceu nesta quarta-feira, 16, em Salvador, com a presença do governador baiano Jacques Wagner e do empresário Sérgio Habib, dono do Grupo SHC, que fará 80% do investimento previsto de US$ 900 milhões para construir a nova unidade de produção, em sociedade com a chinesa JAC Motors, da qual ele já é o importador oficial no Brasil. Os 20% do sócio chinês serão aportados por meio de transferência de tecnologia, incluindo o projeto de um carro totalmente novo, com versões hatch e sedã abaixo de R$ 40 mil, “que não terão motor 1.0, mas o mesmo 1.4 usado atualmente pelo J3”, segundo informou Habib.

A fábrica no Polo industrial de Camaçari, a cerca de 80 km de Salvador, terá 150 mil metros quadrados de área construída e começa a ser erguida em 2012 em terreno de 5 milhões de metros quadrados, vendido a preço simbólico pelo governo baiano, que também garantiu incentivos fiscais, com abatimento de ICMS. A produção será iniciada em 2014, ao ritmo de até 100 mil unidades/ano em dois turnos – mas pelo tamanho do terreno há espaço suficiente para futuras ampliações. Na primeira fase, a estimativa é de geração de 3,5 mil empregos diretos e 10 mil indiretos.

“Nossa limitação de tempo para começar a produzir não é para erguer a fábrica em si, mas para o projeto ficar pronto, pois será um carro totalmente novo, desenvolvido pela JAC para o Brasil e outros mercados sul-americanos”, disse Habib. Ele estima que os primeiros veículos saiam da linha de produção baiana em março de 2014. Inicialmente, a unidade começa sem estamparia nem linha de motores e transmissões, que serão importados da China, mas já está nos planos, para uma segunda fase do projeto, fazer esses itens aqui também.

Negociações

A decisão de fazer a fábrica na Bahia foi tomada após várias rodadas de negociação com o governador Jacques Wagner, que segundo Habib acontecem desde 2010. Wagner foi peça fundamental para ajudar Habib a convencer o governo federal a escalonar as regras de nacionalização e cobrança de IPI sobre carros importados para as empresas que se comprometerem a instalar unidades de produção no País. O governo baiano e o empresário já dão como certa essa flexibilização, revelando que a proposta já foi levada pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, à presidente Dilma Rousseff, que teria aprovado o desenho desse novo regime automotivo. “Vamos respeitar a legislação seja ela qual for, mas tenho certeza que esse assunto será resolvido”, afirmou Habib.

“Quero dizer que esse tipo de investimento cai muito bem aos ouvidos da presidente Dilma. Reciprocidade foi a palavra que ela mais repetiu em sua recente viagem à China, que eu acompanhei”, disse o governador Wagner. “Essa fábrica é um presente que nos ajuda a consolidar o polo automotivo baiano, pois vai atrair mais empresas”, destacou. A intenção, segundo ele, é concentrar no Estado 10% da produção nacional de veículos leves até 2015, mas garante que para isso o governo estadual não participará de nenhum leilão de incentivos para atrair empreendimentos do setor. “Só oferecemos o que podíamos oferecer, mais os incentivos da região da Sudene, como abatimento de 75% do imposto de renda e financiamento do BNB. É preciso lembrar também que além disso hoje temos um mercado atraente, pois a Bahia é o maior consumidor de veículos do Nordeste”, ressaltou, sem no entanto revelar qual foi exatamente o deferimento de ICMS oferecido.

Wagner também ressaltou o fato de a maior parte do investimento ser brasileira: “Quando uma multinacional tem lucro, manda para fora. Não tenho nada contra isso, mas no caso do Grupo SHC é preciso lembrar que o dinheiro vai ficar aqui dentro do País”, avaliou. “É um marco importante para a indústria automobilística brasileira, pois será a primeira montadora de automóveis de grande volume do Brasil com controle totalmente nacional”, afirma Habib, acionista controlador do Grupo SHC e presidente da JAC Motors Brasil. Boa parte dos fundos para financiar o projeto virá de entidades públicas de financiamento, como BNDES e Banco do Nordeste (BNB), que oferecem taxas atrativas.

O projeto da fábrica, segundo informa Habib, inclui também um centro de desenvolvimento tecnológico – cujo primeiro projeto é a introdução de um motor com sistema de alimentação bicombustível com partida a frio –, centro de estilo e design (previsão de 50 profissionais), laboratórios de acústica e controle de emissão de poluentes, pista de testes e centro de capacitação profissional, além de etapas de produção como armação de carrocerias, soldagem, pintura e montagem final. “Vamos continuar a usar o centro de engenharia e design da JAC em Turim (Itália), mas pretendemos fazer muita coisa aqui mesmo”, revelou o empresário.

O protocolo de intenções para construir a planta, ainda sem local definido, foi assinado em 1º. de agosto passado por Habib e pelo vice-presidente mundial da JAC Motors, Dai Maofang. Pouco mais de dois meses depois, em 7 de outubro, o Grupo SHC protocolou no Ministério do Desenvolvimento, em Brasília (DF), o plano detalhado do seu projeto da fábrica de automóveis. Com isso, a JAC/SHC foi oficialmente a primeira montadora a confirmar investimentos em fábrica após a edição do polêmico Decreto 7567, baixado pelo governo em 14 de setembro, impondo aumento de 30 pontos porcentuais do IPI para veículos importados de fora do Mercosul e México. Todos os outros projetos já haviam sido confirmados antes da medida.


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