Alta Roda nº 956/306 – 31 /08 /2017
Fernando Calmon |
O
Brasil parece estar deixando de pensar só no curto prazo e planeja estratégias
de crescimento e inserção mundial mais em longo prazo. Embora a instabilidade
política atrapalhe, até novembro se esperam as diretrizes governamentais que
orientarão para onde e em que ritmo a indústria automobilística instalada no
País deve chegar. O programa Rota 2030 estabelece, pela primeira vez, um prazo
de 13 anos, incluído o ano de 2018, para que metas de eficiência energética,
segurança veicular e novas tecnologias agreguem valor ao veículo brasileiro.
Isso sem escalada descontrolada de aumento de custos, que poderia elevar demais
o preço final ao consumidor.
Conciliar curto, médio e longo prazos foi o principal escopo do workshop
Planejamento Automotivo 2018, organizado em São Paulo por Automotive Business. O humor dos compradores de veículos
leves começa a melhorar, porém nem todos os palestrantes mostraram-se
otimistas. Sindipeças, por exemplo, preferiu manter posição cautelosa até mesmo
sobre a recuperação deste ano. Anfavea espera crescimento de 4% sobre 2016, mas
pode revisar a projeção para cima, em breve.
A consultoria IHS Markit, representada pelo francês Carlos da Silva, projetou
que não antes de 2024 o mercado brasileiro voltará aos mesmos 3,6 milhões de
veículos leves (mais 200.000 de veículos pesados) registrados em 2013. Apesar
de o País este ano prever um novo recorde de exportação de produtos montados,
Silva afirmou não acreditar em vendas externas crescentes além do patamar atual
de 700.000 unidades. Uma conclusão algo incoerente, pois ele mesmo imagina que
a moeda continuará a se desvalorizar – o que em geral impulsiona exportações –
até passar de R$ 4,00 por dólar em 2020.
Vitor Klizas, da Jato Dynamics, detectou uma série de mudanças no mercado brasileiro.
A escolha de câmbio automático, por exemplo, subiu de 9% para 40% das vendas de
automóveis novos em 11 anos. Ar-condicionado estava em 32% dos modelos e
cresceu para 91% ao longo de 10 anos. Na opinião da coluna, parte desse avanço
se deu por queda de poder aquisitivo que alijou uma grande leva de compradores
da base da pirâmide social brasileira pelos equívocos de política econômica
entre 2011 e 2015. Quem continuou no mercado manteve sua capacidade financeira
e, naturalmente, pôde gastar mais em equipamentos.
Quanto ao comportamento futuro do comprador de automóveis no Brasil, o mexicano
Alberto Torrijos, da Deloitte Consulting, o identificou como receptivo a
tecnologias de automação ao volante e de segurança veicular, mas nem tanto aos
apelos ecológicos. Quanto ao automóvel compartilhado, as gerações de pessoas
mais velhas não aderem muito à ideia, ao contrário dos jovens.
Apesar de ainda se desconhecerem pormenores da Rota 2030, sabe-se que haverá
metas severas tanto para consumo como para itens de segurança com prazos
pertinentes. Também algum estímulo se concederá a propulsões alternativas como
veículos híbridos – solução mais racional – e até elétricos. Nada que não tenha
sido debatido com todos os atores, nem que possa se corrigir caso os objetivos
de médio e longo prazos não sejam alcançados ou enfrentem dificuldades de
implantação.
RODA VIVA
PICAPE que a VW lançará no início de 2019, fabricada
no Paraná, será maior que a Saveiro, mas não concorrente direta da Fiat Toro.
Esta pode carregar até uma tonelada e para isso a VW já tem Amarok. Porte da
nova opção com arquitetura MQB do Polo/Virtus/T-Cross estará mais próximo ao da
Renault Duster Oroch. Nome ainda sem definição. Conviverá com a Saveiro.
MITSUBISHI acaba de entrar no clube de marcas
centenárias e hoje ativas. Em ordem alfabética: Alfa Romeo, Aston Martin, Audi,
BMW, Buick, Cadillac, Chevrolet, Daihatsu, Dodge, Fiat, Ford, Lancia,
Mercedes-Benz, Opel, Peugeot, Renault, Rolls-Royce, Skoda e Vauxhall. Maserati
só produziu carros a partir de 1926. Spyker, de 1898, permaneceu 70 anos
inativa.
MAIS recente entre as picapes médias renovadas, Nissan
Frontier se destaca pela dirigibilidade. Afinal, é a única de chassi
convencional (tipo escada) com molas helicoidais nos dois eixos. Podia ir
melhor se tivesse direção eletroassistida e não hidráulica. Visibilidade,
também muito boa, pelo banco alto do motorista e capô de desenho côncavo.
PARA se enquadrar na redução de consumo médio da frota
à venda, exigência do Inovar-Auto a partir de 1º setembro (último prazo),
Renault teve de segurar a venda de motores de 2 litros. Compensação é pelo
menor consumo do Kwid, mas este modelo ainda está em curva de aceleração de
produção. Em outubro, entregas começam a atender demanda reprimida.
PNEU do futuro poderá ser esférico, capaz de manter
pressão sempre correta e banda de rodagem se regenerar em caso de cortes ou
furos. Apresentado em março, no recente no Salão de Genebra, o Eagle 360 Urban
foi trazido pela Goodyear. Exigirá carro e pavimentação específicos, em cidades
(ou trechos) futurísticas, que a empresa ainda não ousa prever.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmo fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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