Pérez e Ocón se estranharam na pista.
Verstappen cobra carro melhor
Não é de hoje que dois pilotos de uma mesma equipe agem
em conjunto para causar prejuízos de várias espécies às equipes que os
contrataram.
Os brasileiros conhecem essa novela dos tempos em várias versões e
desde os tempos em que Emerson Fittipaldi
dividiu a equipe Lotus com David
Walker. Verdade que o australiano, lembrado por todos os pilotos que disputaram
freadas com ele, acabou colaborando para a Lotus concentrar atenções no
brasileiro e, dessa forma, pavimentou o caminho para o Brasil conquistar seu primeiro
título mundial na F-1.
Tampouco esquecemos das artimanhas que envolveram o
relacionamento entre Nelson Piquet e Nigel Mansell nos tempos de ambos na
Williams e jamais vão apagaremos da mente a guerra fria entre Ayrton Senna e
Alain Prost. Tudo isso corroborou para formar um discutível estereótipo do
piloto latino na F-1, aquele que pisa fundo na emoção e esquece usar a razão
para acalmar a sede de se impor dentro do time.
A disputa entre Piquet e Mansell transcendeu os
limites da pista (Diário Motor)
Emerson foi o mais calmo e frio de todos os citados e é
uma verdadeira antítese de três personagens do GP da Bélgica disputado domingo,
em Spa-Francorchamps. Trata-se de episódios falam de juventude e latinidade e,
em parte, aumentam tais dimensões, afinal envolvem as culturas da França,
Holanda e do México, cortesia de Estebán Ocón, Max Verstappen e Sérgio Pérez.
O
primeiro e o último passaram perto de um acidente sério e ultrapassaram os
limites de paciência que a equipe Force India dedicou a ambos até então. O
representante da Casa de Orange atuou sozinho ao cutucar a paciência de seus
empregadores num domingo em que seu companheiro de equipe mais uma vez subiu ao
pódio. Christian Horner, líder da equipe, tentou amenizar a situação e
cavalheirescamente direcionou a culpa do abandono de Verstappen ao fornecedor
de motores da equipe
A atuação do franco-catalão e do mexicano teve cores de
grau finale: há vários atos os dois já vinham ensaiando uma demonstração plena
de que que dois corpos não ocupam o mesmo espaço no mesmo instante. Reveja aqui o lance
em vídeo narrado pelo argentino Fernando Tornello em transmissão da Fox
Latino-America. Mais experiente, Pérez até agora vinha conseguindo sair-se
melhor dessas disputas, mas em Spa o resultado foi invertido: Ocón praticamente
zerou o saldo negativo dessa disputa e descontou algumas promissórias com
deságio ao comentar que o mexicano “quase me matou duas vezes”. Nesse vídeo é possível
conhecer as declarações de ambos os pilotos e as análises de Mark Webber e
David Coulthard sobre os acidentes entre ambos,
Sérgio Pérez (E) e Estebán Ocón:os maiores rivais
de uma mesma equipe em 2017 (Force India)
Terminada a corrida uma conversa dura no motorhome da equipe
colocou os pingos nos is e numa calma manhã de uma segunda feira, mais
exatamente a de ontem, os dois pilotos trocaram a sessão de academia por outra
de “mea culpa”e usaram as redes sociais para se desculpar mutuamente.
A cereja desse bolo veio apimentada como convém a um bom
prato da culinária da Índia, Vijay Mallya o número 1 da Force India, anunciou
que daqui pra frente tudo vai ser diferente. Ao comentar o que aconteceu em Spa
Mallya não foi exatamente curto, mas falou bem grosso:
“Estou muito satisfeito com o desempenho da nossa equipe
este ano (…) com nossos dois pilotos disputando posições livremente. Só que
chegamos a um ponto onde os incidentes entre ambos tornaram-se recorrentes e,
no interesse da segurança, não tive outra escolha senão determinar que, de hoje
em diante, vamos implementar uma política de ordens de equipe para proteger
nossos interesses no Campeonato de Construtores”.
O interessante é que Mallya enfrenta problemas
financeiros com o império que construiu na Índia e por isso tem que cuidar bem
de seus dois pupilos: Pérez significa bons patrocínios e Ocón é um investimento
seguro e pode render bons lucros a curto prazo. Ambos garantem que a Force
India seja a quarta melhor equipe do grid, apesar de ter um orçamento nitidamente
inferior ao da maioria dos seus adversários.
Se Pérez é latino por excelência e Ocón tem sangue
catalão (seus pais mudaram da Catalunha para a França antes do seu nascimento,
o que dizer dos arroubos do holandês Max Verstappen. Talvez aqui role uma
mistura de DNA com o comportamento típico de pilotos tão habilidosos quanto
egocêntricos, algo típico de alguns nomes consagrados e de outros arruinados.
O
pai de Max, Jos Verstappen, tem um histórico – os maldosos usariam o termo
“capivara” -, bastante complicado e que inclui tertúlias e até mesmo agressões
o avô paterno e com a mãe do filho pródigo. O próprio Ocón, que derrotou Max
nos tempos que ambos competiam na F-3, já comentou que o arrojo do holandês não
é o estilo de pilotagem que aprecia e pratica.
Nas pistas já é sabido que Max se destaca por sua
habilidade exacerbada em andar rápido quanto jogar duro na disputa por posição.
Esta temporada também revelou que a paciência do rapaz não é proporcional ao seu 1m80 de
altura, muito pelo contrário: volta e meia circulam declarações sobre sua
insatisfação com o carro que a Red Bull lhe entrega, comentários
invariavelmente sugerindo que só seu monoposto não ganha as asas que o energético
oferece.Cabe questionar se uma empresa que investe algo próximo de meio BIlhão
de dólares em sua operação de F-1 estaria propensa a ter prejuízos ao sabotar
um dos seus funcionários mais caros e mais midiáticos.
Alonso e Hamilton: rivalidade histórica foi vendida
pelo inglês (McLaren)
Contra os seis abandonos em 12 etapas experimentados por
Max Verstappen vale lembrar que Daniel Ricciardo, seu companheiro de equipe,
somou 132 pontos na temporada até agora, virtualmente o dobro dos 67 computados
ao holandês. Se ambos usam o mesmo material de trabalho talvez não seja uma
questão de sorte ou azar a diferença de pontuação entre os dois. A explicação
do australiano, que você pode conferir aqui é bem humorada e esclarecedora e pode
ser traduzida assim:
“Durante a corrida eu converso muito com meu carro carro,
faço massagens nele, mas nada de preliminares. Como o Max é mais jovem, ele vai
direto pros finalmentes”.
Em época de renovação de contratos o futuro dos três
pilotos é algo a ser seguido com muita curiosidade. Veterano do trio, Sérgio
Pérez é o que está mais próximo de se consagrar como um bom piloto, acima da
média talvez, e destinado a liderar, no máximo, equipes do meio do pelotão.
Verstappen, por sua vez, terá que amadurecer para consolidar o potencial que
demonstrou ao estrear com vitória na sua equipe atual, caso contrário poderá se
transformar em um enfant terrible que vence corridas a um preço
pouco interessante sob a ótima custo-benefício, quem sabe até um sucessor
incompleto de Fernando Alonso. Sobra para Ocón, que chegou de mansinho e está
comendo pelas beiradas. No último fim de semana essa beirada foi, literalmente,
um muro, mas ele mastigou o seu inimigo público número um, seu companheiro de
equipe. Provavelmente será o mais bem sucedido de todos os três.
Wagner Gonzalez
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