Wagner Gonzalez |
Circuito do Azerbaijão tem curvas de quarteirão e segunda
maior reta do calendário
Os traçados de rua usados pela F-1 demandam maior atenção
ao acerto dos carros: o piso não oferece a mesma aderência do encontrado em
autódromos, há menos referências de ajustes e a preparação tem alta carga de
empirismo. Se Mônaco é a opção mais inofensiva nessa lista, os 6.003 metros de
Baku aparecem no extremo oposto; entre eles encaixam-se Montreal, Melbourne,
Sochi e Cingapura.
Não bastassem as equações de caráter eminentemente técnico,
a corrida deste ano acontece dois meses mais cedo, o que significa que durante
os mais de 2,2 km de reta os pilotos poderão pensar em muita coisa e até sentir
o ar mais frio: estima-se que a temperatura ambiente ficará entre 11 e 13oC.
O percurso homologado para o GP do Azerbaijão que
acontece domingo se destaca por possuir vários trechos de plena aceleração,
situação que exige cuidado especial no que diz respeito ao consumo de
combustível. No trecho considerado como “reta principal” ao longo da enseada, e
que na realidade inclui algumas curvas de alta velocidade, os motores ficam 24”
seguidos funcionando em rotação máxima. Para amenizar a situação pode-se adotar
menor inclinação das asas, em especial a traseira, e adotar um estilo de
pilotagem que os pilotos chamam de “lift-and-coast”, uma pilotagem menos
agressiva e que muitos poderão considerar uma “quase banguela”, referência à
manobra em que se deixa câmbio em ponto morto para permitir o carro aproveitar
o embalo. Só Spa tem um retão mais longo que o de Baku.
Em busca de melhor desempenho a Renault desembarca na
etapa do Mar Cáspio com novas asas e defletores laterais, os “badge
boards” para melhorar a estabilidade e aerodinâmica dos seus R.S.18. Usado em
conjunto com a menor inclinação das asas, em especial a traseira, esse conjunto
ajudará a mitigar o palto consumo de combustível, mas acertos desse tipo trazem
consigo menor carga aerodinâmica nas freadas e nas curvas, sobrecarregando os
freios e os pneus. De acordo com a Brembo, que equipa a maioria dos carros do
grid, as freadas das curvas 1, 3 e 7 implicam em cargas de 154 kg no
pedal de freio durante tempos de 2”03, 2”28 e 1”98, respectivamente.
Na curva 3 a redução de velocidade é a mais drástica de
todo o traçado: ali os pilotos reduzem de 315 km/h para 99 km/h no espaço de 56
metros. No final da reta a redução é ligeiramente mais suave: de 317 km/h para
126 km/h em 50 metros... Detalhe ainda mais curioso é que o circuito
azerbaijano está situado 28 metros abaixo do nível do mar. Por tudo isso, não
surpreende que os pilotos considerem a pista de Baku uma das mais peculiares da
temporada.
“É um traçado diferente das outras pistas de rua: ao
contrário de Mônaco e Cingapura, Baku tem vários pontos de ultrapassagem. O
problema maior é ter confiança de frear no limite. Afinal, se você travar rodas
você bate. Simples assim”, explica Daniel Ricciardo, que venceu o GP da China,
domingo retrasado e foi o ganhador do GP do Azerbaijão em 2017. Para Kevin
Magnussen, a melhor definição de Baku é “uma mistura de Mônaco e Monza, tem
curvas fechadas e trechos muito rápidos”.
Como a grande vantagem da Mercedes ainda é a maior
potência de sua unidade de potência – conjunto que engloba os recuperadores de
energia (MGUs) e motor a combustão -, é provável que o time alemão consiga,
finalmente, sua primeira vitória de 2018 ao explorar a maior eficiência dos
seus carros nas retas. Até agora a atual temporada vem se mostrando abaixo das
expectativas para os comandados de Toto Wolff: dominadora absoluta dos últimos
quatro campeonatos, nos três grids que já foram formados este ano a Mercedes
apareceu uma vez na primeira fila (pole position de Valtteri Bottas, na
Austrália) enquanto a Ferrari ocupou as demais cinco vagas...
Item sempre importante na F-1, o consumo de pneus é outra
equação importante do fim de semana: ao trabalhar na temperatura ideal implica
que os borrachudos funcionam próximos à perfeição: isso ameniza o desgaste e
garante que esse equipamento complemente o trabalho da suspensão e contribuam
sobremaneira para a aerodinâmica. Os compostos escolhidos para a prova de
domingo refletem as características da pista: macios (amarelos), supermacios
(vermelhos) e ultramacios (roxos).
A reta longa esfria a temperatura dos pneus, fato
agravado pelo detalhe da pista ter zonas sob sol e sob sombra (em outras
palavras, pisos em temperaturas de asfalto variando bastante) por si só seriam
suficientes para complicar a escolha e regulagens de calibragem e suspensão.
Como nenhum treino acontece no mesmo horário da corrida, a competição poderá
ser tão surpreendente quanto a do ano passado, quando o vencedor Ricciardo
alinhou num modesto décimo lugar. A largada no domingo está marcada para as
16:10, hora local, 09:10 pelo horário de Brasília.
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