Os carros brasileiros terão que cumprir normas obrigatórias de controle de emissão de gás carbônico (CO2). Na realidade, deverão ficar mais econômicos, pois a diminuição de consumo de combustível é a única forma de reduzir o volume daquele gás em motores de combustão interna. Não se discutirão nesse artigo nuances políticas da questão – e são muitas. O foco está nas alternativas para atingir metas de economia.
Deve-se, antes, demonstrar a enorme evolução técnica dos automóveis, nos últimos 35 anos, em termos de
desempenho e economia. O consultor inglês Roger Bishop, especialista em
tecnologia automobilística, estabeleceu comparação não entre versões de entrada
do VW Golf (carro mais vendido no mundo, somando-se o sedã Jetta dele
derivado), mas dos atléticos GTI.
O primeiro surgiu, em 1975, com motor aspirado de 1,6 l/110 cv,
injeção eletrônica indireta, peso de 810 kg, velocidade máxima de 177 km/h.
Consumo médio de gasolina: 9,5 km/l. A sexta geração do GTI tem motor com
turbocompressor de 2 l/211 cv (mais 92%), injeção direta, peso de 1.393 kg
(mais 72%), velocidade máxima de 240 km/l. O consumo médio deste Golf, no
entanto, melhorou nada menos de 30%: 13,7 km/l.
Apesar do grande salto, há muita novidade a caminho no campo dos
motores. Compressores elétricos, velas de ignição a laser ou de plasma e até
eliminação de velas, caso se chegue ao chamado diesotto em que motores a gasolina
(preferencialmente) poderão trabalhar com ignição por compressão, como se
fossem a diesel, pelo menos em parte do ciclo operacional. A propulsão híbrida,
que combina motores elétricos e a combustão, também terá forte expansão.
No entanto, há muito por fazer para tornar um veículo mais econômico,
além de trabalhar apenas no motor. As pesquisas apontam várias partes e
componentes de um automóvel a serem modificados, visando economia direta ou indireta de combustível. Um simples sensor de
pressão de pneus, por exemplo, tem potencial de cortar o consumo em 2%, se o
motorista corrigir logo a desatenção ao item.
O estudo de Bishop
apontou outras intervenções com percentuais de redução do consumo de
combustível e do CO2 associado
diretamente:
Assistência elétrica: 7%
Câmbio automatizado de dupla embreagem: 5%
Regeneração de energia dos freios: 3%
Diminuição de peso: 10%
Pneus de baixa resistência ao rolamento: 3%
Direção de assistência elétrica: 4%
Melhora aerodinâmica: 3%
Redução de arrasto nos freios: 2%
O problema está nos custos agregados às novas tecnologias. Teriam
de ser repassados ao comprador do veículo, pelo menos em parte. Não é decisão
fácil porque afeta o crescimento do mercado, tanto em países ainda com enorme
potencial, como outros onde a frota precisa de renovação e, por ser tão grande,
levará a ganhos ambientais expressivos. Para complicar, governos endividados
nos países centrais contam com poucos recursos para estímulos fiscais.
E para ninguém pensar que um Golf GTI só melhorou, sem
apresentar a conta, aqui vão referências. No caso, a Suíça, país de moeda
estável e baixíssima inflação. Em 1975, custava cerca de 16.000 francos suíços;
hoje, 42.000 francos suíços. Descontada
a inflação do período, o carro teve um aumento real de quase 60%. E continuará
subindo de preço.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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