sábado, 28 de setembro de 2013

Conversa de Pista com Wagner Gonzalez


“Podemos nos orgulhar deste acordo, que estabelece um cenário mais eficiente para a administração do Campeonato Mundial de F1 da FIA.” Estas foram as palavras de Jean Todt, atual presidente da Federação Internacional do Automóvel, ao anunciar hoje (27/09), em Dubrovink, Croácia, a renovação do famoso Acordo de Concórdia para o período entre 2013 e 2020. Criado em 1981 diante do impasse entre a categoria e a Federação Internacional do Automobilismo Esportivo (FISA), então reguladora do esporte em nível mundial, o acordo estabelece entre outros pormenores o valor que a FOM (sigla em inglês para Administração da Fórmula Um) paga à FIA pelos direitos comerciais de explorar o mundial da categoria. Este documento é considerado o principal item na batalha eleitoral pelo controle desta entidade e que acontece em dezembro.

Ironia do capitalismo, a F1 é de longe a maior fonte de recursos da FIA, porém a que menos recebe em troca. Pode-se descrever esta situação em três atos: a FOM precisa da FIA para validar seu campeonato e atrair as empresas automobilísticas a investir na categoria; essas empresas precisam deste reconhecimento para não arriscar seus programas desportivos em outras categorias onde seus produtos são usados e a FIA tira proveito desta situação para gerar a receita que financia programas variados. Pode-se citar como exemplos a criação da nova Formula E – que usará carros movidos a eletricidade e terá seu primeiro campeonato mundial em 2014 -, e uma campanha de segurança das estradas.

Após o término da II Guerra Mundial o automobilismo esportivo voltou a ser praticado mais intensamente e gerou várias categorias e provas, particularmente na Europa, onde associações do tipo “automóvel clube” reuniam a elite motorizada e promoviam eventos dos mais variados. Fundada em 1904 como representação mundial dos clubes representativos de cada país membro, a Federação Internacional do Automóvel criou em 1950 o Campeonato Mundial de F1, desde então seu evento mais importante. No final dos anos 1950 entra em cena Bernie Ecclestone, então um piloto que tentou sem sucesso classificar-se para o GP de Mônaco de 1958 com um Connaught Alta, monoposto derivado dos então já superados Vanwall VW 57.

Ano após ano o ex-comerciante de motos usadas expandiu seu poder sobre a categoria graças à sua habilidade comercial extraordinária. As constantes diferenças com a Comissão Esportiva Internacional (CSI, divisão da FIA que cuidava dos assuntos esportivos à época) foram crescendo e chegaram a um impasse em 1980, quando Ecclestone – já representante de fato e de direito da maioria dos times – rompeu com Jean-Marie Ballestre, o mandatário da CSI e tentou criar a Federação Mundial de Esportes a Motor. Um acordo batizado de Concórdia (referência ao endereço da FIA, em Paris) e selado simbolicamente na linha de largada do circuito Paul Ricard pôs fim a essa disputa: os dois lados foram inteligentes o suficiente que nenhum dos dois ganharia com esse racha. Décadas depois o Acordo é renovado regularmente... e Ecclestone tornou-se o proprietário do autódromo criado pelo já falecido magnata francês de bebidas Paul Ricard.

Entre outras coisas o Acordo de Concórdia garante aos promotores de grandes prêmios a presença de um número mínimo de equipes – que é inferior ao número de equipes inscritas no campeonato -, e aos construtores uma porção significativa dos proventos gerados pela venda dos direitos de transmissão e patrocínios. Para garantir a exclusividade na negociação desses direito a FOM (ou sua representante) paga à FIA uma quantia desse percentual, um modelo que tornou-se norma em vários países. No Brasil há anos a CBA cede a promotores os direitos de promoção de provas e campeonatos em troca de taxas e cessão de comissários técnicos e desportivos.

A renovação do Acordo de Concórdia fortalece a candidatura de Jean Todt a um novo termo à frente da FIA e, ao mesmo tempo, enfraquece a candidatura de David Ward, cada vez mais visto como um representante de Max Mosley, antecessor de Todt e ligado à Ecclestone a ponto de ter sido seu conselheiro legal. Vale lembrar que à medida que a candidatura de Ward é pintada com cores mais brandas, em que pese sua postura de questionar como a FIA vai usar o dinheiro arrecadado junto à F1, algo a ser controlado por uma nova ode à burocracia já que uma nova comissão foi formada para esse fim. Comenta-se que a corrida presidencial pode ganhar um terceiro elemento, o saudita Mohammed bin Sulayem, atual presidente do Automóvel e Touring Clube dos Emirados Árabes Unidos.

Não é segredo que bin Sulayem tem ambições de se tornar o primeiro árabe a comandar a FIA, sonho que se encaixa na estratégia das nações dessa região em expandir sua proeminência internacional além do mundo das finanças e do petróleo. Em outras palavras, Todt sabe que não terá vida fácil para se manter no cargo, mas já deixou claro que sabe lidar tão bem quanto Ecclestone no que diz respeito aos interesses das equipes de F1. Resta saber até onde vai o fôlego para enfrentar a caminhada de bin Sulayem cujas origens árabes contrastam com as de Todt, que tem descendência judaica.

No Chile usados livres de impostos

Numa atitude sensata e impactante o Governo do Chile anunciou esta semana a liberação da importação permanente de veículos usados de competição e a abolição de taxas e impostos para esse processo. País que importa 100% de sua frota automotiva, até então suas autoridades só permitiram a importação temporária de veículos de competição pelo prazo de seis meses. Vale lembrar que o esporte a motor chileno é concentrado em atividades do tipo fora de estrada e algumas provas em circuito fechado com antigos F3.

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