Convidado pelo *Portal Tribuna do Ceará para ocupar esta semana o espaço destinado a pessoas que viveram emoções esportivas lembrei deste momento mágico e rapidamente escrevei este texto.
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Tribuna Band News - onde está minha coluna "Sem Quilômetros!
A primeira dobradinha brasileira em Interlagos
Roberto Costa relembra a aventura para ir ao autódromo de Interlagos em 1975, quando viu a vitória de José Carlos Pace
*Por Roberto Costa
Imagino que sou um dos poucos insanos que, mesmo morando longe, esteve presente a todos os Grandes Prêmios do Brasil de Fórmula 1 e, com o tempo, dei minha colaboração à Confederação Brasileira de Automobilismo, atuando na equipe de vistoria dos carros chefiada pelo genial Bruno Brunetti. Mas, ao contrário do que possa parecer, meu momento inesquecível não foi “pagando” nos Fórmula 1 ou entrando em todos os boxes. E sim, na vitória de José Carlos Pace,ocorrida em 1975.
Mas quem pensa que foi chegar em Interlagos, vibrar e voltar, é bom saber que a aventura começou em um ônibus semi-leito da antiga Viação Fortaleza. Em mais de 50 horas, heróicamente me desembarcou na antiga rodoviária de São Paulo, a algumas centenas de metros do hotel onde muitos aqui da terrinha, liderados pelo saudoso Miguel Bang Bang, costumavam se hospedar. Boca do lixo à parte, era bem divertido e a notícia que meu pai estava voando pra lá me deixaram bem animados. Mas quando ele chegou e viu a festa tupiniquin, cancelou sua hospedagem, tida como boa, e acabou também ficando por lá mesmo.
Naquela época, passávamos as noites em Interlagos e, por um golpe de sorte na sexta-feira, conseguimos ingressos para a arquibancada à frente da linha de chegada. Mas, se a empolgação da chegada no sábado para os treinos era indescritível, a espera de 30 horas trazia sofrimento que somente um moleque, como eu, conseguia curtir. Muita água, refrigerante, cerveja, cachaça, sanduíches eram democraticamente compartilhados por pessoas que nunca haviam se encontrado na vida e na hora em que muitos iam curtir suas respectivas ressacas, abria-se um glorioso sol, digno das praias cearenses.
Mas tudo tem seu momento. Ao som do primeiro motor ligado, as energias se renovaram, todos se alvoroçavam ao som de uma charanga de bairro e a festa pegava fogo. Como eram bons tempos que não voltam mais, sempre aparecia algum piloto acenando para a torcida e isto funcionava como um maestro regendo um grande coro de entusiastas. O calor estava insuportável e os bombeiros a certa hora ajudavam na festa com jatos de água nas arquibancadas, imaginando evitar casos de ensolação. A espera ia dando lugar a ansiedade, até que o auto-falante chama os carros para o grid. A pilha volta a ficar nova.
O som ensurdecedor dos motores parecia música mesmo para quem, como eu, já a conhecia e a largada foi o momento mágico com Jean Pierre Jarrier sumindo com seu Shadow e José Carlos Pace partindo para o ataque com ultrapassagens que eram contadas uma a uma pelo torcida, que ainda imaginava Emerson Fittipaldi como favorito. O Francês abusou e, com uma “légua” de vantagem (Interlagos tinha oito quilômetros nesta época), quebrou por não saber dosar o equipamento. O público foi ao delírio ao ver o mais simpático e um dos mais competentes pilotos que o Brasil gerou na liderança.
Hoje tenho certeza que na segunda parte da corrida sofri mais que curti. Mas quando Mário Pati deu a bandeirada a José Carlos Pace, com Emerson Fittipaldi em segundo, a festa foi geral. Aplausos, abraços, fogos e tanta coisa para comemorar que até esqueci do pugueiro, digo, hotel e do ônibus de volta. Nos anos seguintes, meu olhar e meu sentimento podem ter mudado, mas ainda acho um Grande Prêmio de Fórmula 1 algo imperdível.
*Roberto Costa é jornalista especializado em automobilismo e responsável pela coluna 100km da rádio Tribuna BandNews FM (101.7)
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