Coluna
3915 - 26.09.2015-edita@rnasser.com.br
Dieselgate, o
escândalo na Volkswagen
Há poucos dias
Martin Winterkorn, CEO da holding Volkswagen, deveria estar tomando
providências paralelas à sua posse como membro do Conselho Diretor da marca e à
renovação de seu contrato até 2018. Engenheiro, meticuloso, preciso,
teria escolhido ao camiseiro e alfaiate em visita ao último andar do prédio de
tijolos, sede da empresa em Wolfsburg, Alemanha, com vista para o Rio Aller, a
trama do algodão egípcio para a camisa branca, tomado a última medida para o
terno em lã fria 150 mesclada com seda, cortado como jaquetão em variação de
azul escuro, marca registrada do conservadorismo alemão; e, rasgo de
liberalidade, ligado a Thomas Schmall, mais novo diretor, ido do Brasil, para
saber o nome da designer brasileira autora das discretas abotoaduras
compondo seu visual.
O discurso
estava pronto, com possível opinião final de Michael Lange, seu homem de
relações com a imprensa internacional e, com idêntica passagem pelos olhos de
Mario Guerreiro, português poliglota, antecessor de Lange e hoje VP nos EUA, um
dos mercados mais visados pela Volkswagen. Conciso, deveria falar linguagem
mundial, onde a empresa atua com seus 660 mil funcionários.
Evitaria, com
habilidade, abrasão com Ferdinand Pïech. Ex ocupante de seu lugar, ex membro,
ex presidente do Conselho, de onde saiu, há três meses, de maneira
surpreendente, ao perder a votação no pequeno colegiado, contra a chegada de
Winterkorn.
Quem
Pïech, talvez o
presidente mais realizador na Volkswagen, traçou o marketing performático da
Audi, criou o modelo Quattro, comandou a aquisição de marcas, a construção do
AutoStadt, é figura de relevo. Aos 78 é um da meia dúzia de acionistas da
Porsche SE, a controladora da Volkswagen e 11 marcas associadas. E tem ações,
muitas, da Volkswagen. O sobrenome o ancora no panorama industrial do automóvel
na Alemanha. Ele é filho de Anton, o advogado casado com a filha do Professor
Porsche. Foi quem deu base legal e feição jurídica ao pequeno escritório hoje
desdobrado em tantos e lucrativos negócios. Pïech, neto do primeiro dos
Porsches é o patriarca da família, e acrescenta ao seu curriculum ter
salvo a VW de quebra que parecia iminente.
Se agastar com
ele nubla o futuro.
Mas não haverá
discursos, nem posse para Winterkorn. Ele renunciou ao cargo executivo. É hoje
o ex quase. A razão da renúncia coloca uma pedra negra no fim de seu caminho,
em especial pelo momento mundial. Winterkorn foi abatido no penúltimo degrau de
sua até então bem sucedida carreira.
Negócios
Problema
ultrapassa os gramados da Volkswagen e seu burgo. Institucionalmente a
Alemanha, base dos negócios, está em grande fase. Entesourada, dá exemplo,
traça regra econômica, é voz poderosa. Tem preocupação ecológica e se orgulha
de praticar e cobrar ações neste sentido.
A Volkswagen tem
bom projeto e bem o administra: ser líder mundial em 2018, e tudo indicava,
aconteceria neste ano, quando ultrapassou a líder Toyota. Pïech desenvolveu
ações – e até um automóvel – para mostrar-se líder em redução de consumo e
emissões. Reconhecida cultora da sustentabilidade, dá exemplo mundial por
construir usinas hidro elétricas no Brasil para reduzir sua demanda energética.
Entretanto,
curiosamente, o dedo do destino – ou algum outro dedo poderoso -instou a
EPA, Environmental Protection Agency, órgão norte americano de regras
ecológicas, a re testar os motores diesel dos produtos Volkswagen e Porsche
vendidos nos EUA. Constatou, tais engenhos reconheciam o protocolo de
avaliação, mudando de regulagem para se enquadrar nos parâmetros. Fora,
poluíam. Em exame, não.
Caminhada
Anunciada a
descoberta, a VW mundial não discutiu nem tergiversou: fez ummea culpa no
mercado dos EUA e outro comunicado ao mundo pedindo desculpas; destinou metade
de sua previsão de lucros em 2015: 6,5 bilhões de Euros para correções e
compensações; suspendeu a venda de carros a diesel; autorizou re-call para
correções de impossível fazer em curto prazo: trocar 11 milhões de chips de
injeção, e tal quantidade não é disponível, sequer foi fabricada.
Apesar do
imediatismo da resposta, não esvaziou a questão, suas ações caíram 20% em
valor, e o Conselho Supervisor declarou sua desconfiança sobre Winterkorn. De
autoridade ao aguardo da renovação do contrato, restou-lhe dizer-se
surpreendido, sem nada saber, assumir a falha, renunciar.
Mas o negócio
saiu do caminho automobilístico, entrou no ecológico e no político. O mundo do
diesel como combustível foi atingido. Estudos e especialistas apareceram e
demandas questionam o uso do diesel – não dos motores diesel VW -, com
alegações técnicas assemelhadas: em suas emissões, na prática a teoria é outra.
Entidades do meio ambiente de todo o mundo querem aferições em seus países. No
varejo, outras marcas, ante a oportunidade de aproveitar vendas eventualmente
decrescentes para os VW, instigam governos a protestar e auditar Volkswagens. E
existirão multas mundiais. Nos EUA fala-se em US$ 18M. No Brasil o único diesel
VW é do picape Amarok e não se sabe se o Ministério do Meio Ambiente mandará re
aferi-lo.
Vendas
diminuirão? Tempo dirá. Este é o segmento final. Afinal, a base do
conceito mundial de Volkswagen é de carro resistente, confiável, durável, com
liquidez para revenda, e estas qualidades continuarão existindo ao motorista do
Volkswagen, do Porsche, do Seat, do Sköda com ou sem motor diesel.
No Brasil isto
ocorreu pioneiramente há duas décadas, na interface para a mudança entre o
carburador e a injeção. A Fiat aplicava carburador apto a gastar e poluir
menos, controlando-o por certa Econo-Box. Depois de aferido e homologado,
descobriu-se: ao perceber a sequência do protocolo, alterava a regulagem e
enquadrava o motor no parâmetro legal. Na operação normal, poluía. A Fiat, após
muito discutir, assinou um TAC, termo de ajustamento de conduta, fez
compensação ao meio ambiente. E as vendas não caíram.
Nas mudanças o
novo CEO para a VW AG, a holding, será possivelmente Matthias Müller, 59,
presidente da Porsche. CEO da marca VW Herbert Diess, recém vindo da BMW, deve
ser barrado pelo conservadorismo alemão. Não parece, mas a grande e
internacional VW é uma empresa familiar.
O Prof. Dr.
Martin Winterkorn vai para casa, viajar, abrir negócio próprio, diferente do
ramo – um ex presidente da Daimler tem hoje pequena cervejaria na Baviera -, ou
talvez lhe sugiram usar seu talento para viabilizar a maior questão europeia de
hoje: receber e acomodar os milhões de sírios deixando seu país e buscando
sobreviver na Europa.
Qualquer seja a
opção, levará uma dúvida: o que futucou a EPA a auditar os motores diesel
VW foi o dedo verde da preocupação ecológica, - ou não ?
A atual cara do
mercado
Bom portal Auto
Data ouviu observação de Rafael Barros, presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC: vendas de automóveis não caíram, mudaram o foco. E
levantou números de venda e mercado nos oito primeiros meses do ano para
conferir. Sindicalista estava numericamente certo: queda de vendas em veículos
não foi de 20,4% como sugerem quantitativos absolutos indicados pelos
fabricantes e seus distribuidores, mas apenas 2,2%.
Raciocínio
seguinte: o setor não se limita às vendas dos carros novos, mas inclui semi novos
e usados. No conceito aritmético, em 2014 as vendas de novos e usados estiveram
estáveis. Em 2015, caiu a dos novos, mas a procura pelos usados cresceu. Assim,
comparando os números totais das vendas de novos + usados, a diferença é
mínima.
Razão para a
mudança de comportamento é, imagina-se, disparada de preços para os carros do
primeiro degrau do mercado dos novos, os antes abaixo de R$ 30 mil, agora
inexistentes, exceto Palio Fire e importados chineses, tipo Chery QQ, Geely J2
e Kia Picanto com câmbio mecânico.
Fabricantes
fomentaram preços, mudaram o mercado, aumentando a distância entre o consumidor
e o bem. E plantaram a cizânia no setor com vendas muito sólidas às locadoras
de veículos. Estas consomem 1/8, 12,5% das vendas de veículos leves. Comprados
a preços inacreditavelmente baixos, tais veículos tem uso mínimo, não esquentam
a vaga de garagem, e logo são vendidos como semi novos, concorrentes dos O Km
ao apresentar-se com baixa quilometragem, preço e financiamento. Sugerem
observadores, maior parte do lucro da operação está em vender o semi novo por
preço superior ao pago nos O Km.
Sem alcançar o
Zero Km, a solução é chegar-se ao usado. Surge aí outra característica
evidente: há como indutor o perceptível ganho de qualidade na construção dos
veículos, sua maior capacidade de oferecer uso sem grandes problemas, e até as
garantias muito aumentadas nos recentes anos. Na prática significa comprar um
veículo melhor equipado, possivelmente com motor mais forte relativamente aos
carros 1,0 dos primeiros degraus na escala dos carros novos, ainda na garantia.
Outro fator a
turbinar o comportamento, é a elevação do nível de exigência do cliente do
carro de entrada. O Km mais caro e menos equipado deu lugar a usado completo. Carro
popular, diz com síntese o Ministro Afif Domingos, agora é o carro usado.
Teoria não é
nova, mas curioso não ter tido movimentos dos fabricantes para corrigir o curso
do mercado. Há tempos, lembra Márcio Stefani, um dos esteios do AutoData,
Herbert Demel, o então presidente da Volkswagen no Brasil, recebeu a
determinação de produzir o Polo no Brasil. Demel tentou convencer a matriz do
fato de o Polo, embora sendo de alcance popular na Europa, não o seria para o
comprador brasileiro. Sem êxito. Tomou coragem, e com algum aval não explícito,
mandou desenvolver o Fox – última aventura da independência da VW do Brasil,
única das filiais da controladora alemã com produtos próprios, Brasília, SP2,
Gol, Fox .... – para ser o carro popular da VW.
Como fica
Se impossível
produzir carros usados, fabricantes devem focar na equação conteúdo x preço,
para re conquistar a clientela, antes da piora da situação. A constatação
mingua eventuais pedidos e pressões para renúncias fiscais em favor da venda
dos O Km. É um objetivo novo e desafiante.
Roda-a-Roda
Dubai boys – Focando
em clientes com capacidade e gosto por diferenças, Cadillac deixou para
apresentar seu novo crossover 2017 XT5 no Dubai Motor Show, em novembro.
Foca começar ante à maior faixa de renda e compradores de Audi Q5, BMW X5 e
Mercedes M Class, os agora GLE.
Independência –
Posição arejada diz-se consequência da mudança da sede da empresa, do
centenário endereço em Detroit para Nova Iorque. Decorado pela Public
School, etiqueta de moda, foco do XT5 é aproveitar a onda migratória dos sedãs
para os crossovers e utilitários esportivos.
Avant garde – Quanto
tempo leva moda estrangeira a impregnar-se no Brasil?
Estofamento
claro em carro escuro é moda há 25 anos nos EUA, e aqui somente agora começa a
ser aceita. Entretanto, temos recorde no tema substituir sedã por utilitário
esportivo. Mal começa no exterior, já adotada aqui.
Caminho - O
carro oficial da Presidente Dilma é o SUV Ford Edge. Talvez siga o então
comandante Chávez, da Venezuela, cujo automóvel de representação não era
execrado produto dos EUA, sólido Mercedes, mas rústico Toyota SW4.
Civiv 2016 –
Honda USA apresentou o novo Civic: 3,5 cm maior entre eixos, porta malas, mais
baixo e com ganho em aerodinâmica, suspensão traseira multi braços. Usa nova
plataforma mundial.
Aqui –
Grandes ganhos em conteúdo para manter crescimento, e deu-lhe trato para ocupar
o teto da categoria. Versões de entrada motor 2,0, e superiores novo 1,5 Turbo.
Transmissões mecânica seis velocidades, automática e CVT. Diz, nova plataforma
permite melhor sensação de condução, em rolagem e silêncio no habitáculo.
E ? - Lá,
neste ano. Aqui, 2º semestre 2016 e não confirma se características chegarão ao
produto nacional.
Acordo –
Matriz GM nos EUA fez acordo com a Justiça para encerrar questões e ações com
relação a danos, prejuízos e indenizações de ferimentos e 124 mortes causadas
pela irresponsabilidade criativa de simplificar fechadura de ignição de carros
da marca. Pagará US$ 900 milhões para encerrar a questão.
Mais – Principal
diferença, a transmissão Powershift, é alvo de interesse do Procon de Minas
Gerais, subordinado ao Ministério Público. Quer saber o porquê de seus
constantes problemas nos novos Fiesta: faz barulhos, trava marchas e outros
inconvenientes, e a fábrica tenta reparar. Aparentemente não atingiu a
causa. MP quer entrar no negócio para organizar responsabilidades.
Caminho –
Ociosa reação dos motoristas de taxi contra os outros, usuários de plataformas
eletrônicas, como o Uber. Briga contra avanço tecnológico é perdida, e virão
com ou sem assembleias estaduais querendo bloquear a concorrência. Barrar a
tecnologia é briga desde a industrialização inglesa, e o ludismo, a oposição à
evidência, perde há dois séculos.
Registro –
Da Internet: Sabe qual a cidade brasileira sem taxis ? Uberlândia...
Gente – Carlos
Galant, engenheiro, criador do Clube Simca em Porto Alegre, passou. OOOO
Leva extenso conhecimento pela marca. OOOO Ausência sentida pela
generosidade com que transmitia seus saberes aos simcófilos. OOOO
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