Wagner Gonzalez |
Muitos prospectos e anúncios de turismo que promovem
Cingapura mencionam este equivalente ao Principado de Mônaco encravado no sul
da península malaia, como “A Fine City”, alusão a uma cidade fina e elegante.
Não deixa de ser verdade, mas o humor inglês capitalizou essa referência à um
substantivo e não a um adjetivo: “fine” também pode ser traduzido como multa e
cai muito bem aos costumes locais.
Em seus 718,3 km2 mascar
chicletes, fumar em lugares públicos, arrancar flores de um jardim e mais uma
enorme lista de direitos é considerado uma infração grave. O assunto é levado a
sério, quase com a mesma fúria que a prefeitura paulistana e sua CET marcam a
vida de seus munícipes.
Cingapura é também um dos
países mais abertos a novos negócios, mas em um passado recente acabou sendo
palco de uma negociata que acabou custando caro a um brasileiro e muito mais
caro a um italiano. Em uma relação que se desgastava a cada volta completada na
temporada de 2008, Nelson Piquet Jr. vivia um período de inferno astral digno
de uma eternidade, consequência da ganância insana de Flavio Briatore e, por
que não, da juventude com que desembarcou na F-1.
Na ânsia de garantir sua
permanência na equipe Renault em 2009, Nelsinho sucumbiu à pressão de Flávio e
aceitou bater contra o muro de proteção na volta 14, manobra que desencadeou a
entrada do safety car e ajudou a consolidar a vitória de Fernando Alonso, que
jogava uma de suas últimas cartadas para disputar o título da temporada.
Briatore chegou a ser banido para sempre da F-1 e mesmo revertendo a situação
através da Justiça, atualmente só dá pitacos eventuais, algo ineficaz para
resgatar seu nome. Nelsinho, por seu lado, recupera pouco a pouco seu prestígio
como piloto.
Quem também desperdiçou
uma rodada nessa ocasião foi Felipe Massa: em luta direta pelo título ele foi
prejudicado quando a mangueira de reabastecimento - recurso então permitido -,
ficou presa no bocal do tanque do seu Ferrari. Uma prestação bem cara numa
temporada em que ele perdeu o título para Lewis Hamilton (98 a 97) na última
curva da última volta da última prova do ano, em Interlagos. Trocando em
miúdos, o primeiro GP disputado em Cingapura foi pleno de emoções...
Até hoje nenhum brasileiro
venceu nesse traçado de 5.065 metros de piso ondulado, típico de pista de rua,
condição que aliada a muitas curvas “de quarteirão” e inúmeras freadas resulta
em velocidade média baixa para os padrões a F-1. Em 2014 Lewis Hamilton fez
barba-cabelo-e-bigode , andando a 172 km/h para garantir a pole position,
vencer a 150 km/h, mas na corrida caiu para 150 km/h. Em 2014 Hamilton fez
barba (pole position com 1’45”681, 172,635 km/h), cabelo (60 voltas em
2h0’4”795, media de 151,780 km/h) e bigode (1’50”417 e 165,137 km/h na volta
mais rápida da prova). Curiosamente, resultado semelhante ao que ele obteve em
Monza na semana retrasada, desta vez com cabelos alourados...
A diferença da velocidade
média registrada na prova de classificação e volta mais rápida em relação à da
corrida é resultado das batidas e consequente intervenção do safety car para
auxiliar na remoção dos carros acidentados e limpeza da pista. Sebastian Vettel
sabe muito bem como é cansativa essa prova: ele venceu em 2013 (1h59’13”132),
2012 (2h0’26”144) e 2011 (1h59’6”757). Além dos períodos em ritmo reduzido, a
alta umidade local, mesmo com a corrida sendo disputada à noite, é outro fator
de desgaste. Este ano também será necessário ficar de olho na qualidade do ar:
uma nuvem de poluição paira sobre Cingapura há algumas semanas e alguns eventos
esportivos a céu aberto foram cancelados recentemente.
Pérez e Maldonado
O mexicano Sérgio Pérez e o
venezuelano Pastor Maldonado foram nomes dos mais citados na imprensa
especializada nas últimos semanas, ambos por causa dos seus endereços para
2015. Enquanto o primeiro deve resolver o assunto neste fim de semana – há
possibilidade da Force India confirma-lo para 2016 na próxima quinta-feira -, o
segundo trata de acalmar seus críticos e na esperança de manter seu lugar na
Lotus, que segue vivendo dias de penúria. A cada dia que passa este sofrimento
se caracteriza mais e mais como uma manobra da Renault para forçar os atuais
controladores do time a aceitar uma oferta mais baixa e, finalmente, assumir
novamente a condição de equipe.
Honda testa no Japão
O site Italia Racing publicou que a Honda considera
testar no Japão o motor de F-1 que fornece à equipe McLaren. A operação
utilizaria um carro da Super Formula, equivalente à GP2 europeia, e seria uma
forma de avaliar a real eficiência do propulsor frente às críticas relacionadas
à sua potencia. Durante o fim de semana o espanhol Fernando Alonso foi taxativo
com relação à falta de performance desse equipamento: na ocasião ele declarou
que perdia cerca de meio segundo por volta nas curvas e quase três nas retas,
onde o número de HPs é diretamente proporcional à velocidade final.
Australia up & over
Enquanto o debate sobre a
permanência de Monza no calendário da F-1, Melbourne já resolveu o assunto.
Conhecido na Europa como a terra do “down under” (clara alusão à sua posição
oposta no globo terrestre), a Austrália garantiu a permanência do traçado de
Albert Park até 2023 e, comparado ao tradicional circuito milanês, está por
cima da burocracia.
Depois de Munro, McLaren
Quem
já assistiu o filme “The World’s Fastest Indian” (Roger Donaldson, 2005), que
retrata a saga de Burt Munro em participar do festival de recordes de Salt Lake
City (EUA), certamente pensou em uma obra semelhante dedicada ao seu
compatriota Bruce McLaren. Se você est´entre eles, seus problemas acabaram:
Donaldson conseguiu o apoio do governo neozelandês e do banco ANZ para fazer um
documentário sobre um dos maiores pilotos e construtores do automobilismo
mundial. McLaren, que nasceu em 1937 e faleceu em 1970 em um acidente quando
testava um modelo Can-Am em Goodwood, disputou 100 Grandes Prêmios e venceu
quatro, o último deles o GP da Bélgica de 1968, a primeira vitória de sua
equipe, resultado que Dennis Hulme repetiu nas duas corridas seguintes, Itália
(Monza) e Canadá (Mont-Tremblant).
WG
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