Alta Roda nº 906/256– 15
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O Brasil se desindustrializou antes de enriquecer e
passar a ser uma sociedade em que os setores de serviço e consumo respondem
pela maior parte do Produto Interno Bruto (PIB), como ocorre nos países
chamados centrais. Essa dura realidade foi apontada por alguns palestrantes do
seminário sobre tendências da indústria automobilística, organizado pela
revista Quatro Rodas, em São Paulo.
Uma crise de vendas como a que assola o setor atualmente torna o cenário ainda
mais difícil por enfraquecer a cadeia de fornecedores. Basta ver o caso da
Volkswagen, atingida por disputa litigiosa com um grupo de fornecedores sediado
na Alemanha, cujas filiais aqui instaladas passaram a atrasar e depois
suspender a entrega de bancos. A empresa deixou de produzir mais de 150 mil
veículos desde o início de 2015 e os seus estoques estão tão baixos que fizeram
diminuir sua participação de mercado. Só no fim deste mês a produção retomará e
as fábricas trabalharão no máximo da capacidade até novembro, de acordo com
David Powels, presidente da VW.
Parte dos problemas se deve à baixa produtividade do trabalho no País,
explicada pelo baixo nível educacional, burocracia e leis superadas, entre
outros motivos. Mas é improvável alguma marca arredar o pé do Brasil, que até
recentemente era o quarto mercado mundial de veículos e deve voltar a essa
posição em algum momento depois de 2020.
Até fabricantes de modelos mais caros com produção local (Audi, BMW, Land Rover
e Mercedes-Benz, presentes ao seminário) acreditam no potencial de 5% das
vendas totais para este segmento, hoje 2,5%. Deram exemplos do Chile, onde a
participação é de 6%, e da China, 10%.
Stefan Ketter, presidente da FCA, criticou o grau de fechamento da economia
brasileira. Para ele, as fronteiras devem ser abertas para o mundo a fim de que
o País possa exportar mais. Isso, porém, não parece fácil, porque cada
fabricante de veículos tem uma estratégia, sem contar os outros setores
industriais e a taxa de câmbio. Dez anos atrás o Brasil chegou a exportar cerca
de 30% de sua produção de veículos e em 2016 mal vai passar de 20%, apesar do
câmbio favorável e do excedente deixado pelo mercado interno.
Ketter também chamou a atenção para o engajamento do comprador na era digital.
Da população de 202 milhões de pessoas, 110 milhões se conectam à internet e
somos o terceiro país que mais usa redes sociais no mundo. Citou que 96% dos
clientes pesquisam na internet antes de comprar um carro. Segundo o Google, até
dez fontes diferentes são usadas na fase de pesquisa, a maioria on-line, mas
quatro são “off-line”: concessionárias, conversas com família e amigos,
anúncios (televisão, jornal e revista) e testes com carros oferecidos pelas
lojas.
Se a falta de confiança na economia está entre os maiores fatores que inibem a
compra de um automóvel novo, há os fenômenos de infidelidade à marca e dúvida a
que todos os fabricantes estão submetidos, em maior ou menor grau. De acordo
com o executivo, 81% dos clientes ainda não haviam decidido o que comprar no
momento de iniciar a pesquisa.
Sim, o cliente ficou digital, mas prever qual será sua escolha é um desafio.
RODA VIVA
FONTES da Coluna sinalizam um atraso no lançamento do Renault Kwid,
provavelmente pelas modificações no projeto original. Ficou para até meados de
2017, mas estará no Salão de São Paulo, em novembro próximo, junto do SUV
Captur. Este, em patamar de preço superior ao Duster, está no cronograma e com
vendas previstas para início de março de 2017.
FIAT deve ceder à pressão da sua rede de concessionárias para lançar uma
versão do Jeep Renegade mais barata com o logotipo da marca italiana e novo
nome. Esta não era a intenção, mas com a virada dos consumidores na direção dos
SUVs e crossovers compactos, além da baixa profunda nas vendas gerais do
mercado brasileiro, o caminho está aberto.
CONVIVÊNCIA de duas versões do Chevrolet Onix, LT/LTZ/Activ
(reestilizadas) e Joy (anterior, com atualização do motor e câmbio manual de
seis marchas), está dando certo para manter a liderança. Diminuição de consumo
de combustível, facilmente notada no uso diário, vem acompanhada da suavidade
do motor 1-litro de 4 cilindros. Regulagem dos retrovisores externos na coluna
dianteira continua a dever em ergonomia.
PROJETO PILOTO da Mercedes-Benz e da Bosch, em Stuttgart, Alemanha,
transforma qualquer carro em “caçador de vagas”. Ideia já em testes é monitorar
espaços para estacionar e, caso o motorista não precise daquela vaga,
disponibilizar a informação por aplicativo para outros motoristas. Essa
experiência colaborativa assemelha-se à do Waze, que se consolidou.
ADOÇÃO das novas placas de veículos do Mercosul no Brasil foi adiada, como
se esperava. Tratava-se, claramente, de jogada política do governo federal
anterior. Argentina e Uruguai, com frotas menores e mesmo idioma, até já se
integraram. Colocar mais 55 milhões de veículos brasileiros (incluindo
motocicletas) nessa malha tem alto custo e baixa prioridade.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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