quarta-feira, 8 de março de 2017

Wagner Gonzalez em Conversa de pista

Wagner Gonzalez
Planejar evita chuvas e trovoadas

Automobilismo nacional vive falta de profissionais
Novo presidente da CBA sinaliza mudança
Categorias não investem para crescer


Planejamento da F-1 é exemplo de logística e execução para o esporte a motor 
A F-1 inicia hoje, em Barcelona, na Espanha, sua segunda e última sessão de treinos pré-temporada para o calendário de 2017, que terá sua primeira etapa dia 26, em Melbourne, na Austrália. A programação desses treinos e o calendário deste ano foram definidos com muitos meses de antecedência e a categoria vive uma nova era no relacionamento do negócio Fórmula 1 com a mídia e com o público que segue a modalidade. Mesmo guardando as devidas proporções e descontando os inconvenientes derivados do letal e letárgico “Custo Brasil” é impossível deixar de perguntar por que isso não acontece no País e o que falta a este país do lado debaixo do Equador para promover o esporte, encher arquibancadas e gerar riquezas.

Deixemos de lado o cacife econômico e promocional do mundo dos Grandes Prêmios e foquemos na realidade verde-amarela. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), a frota circulante brasileira cresceu de 22.889.200 automóveis em 2008 para 35.261.145 em 2015 (último ano em que há esse dado disponível), variação positiva de 54% no período. Ante tamanho aumento seria de se esperar um crescimento marcante no número de pilotos filiados à CBA, ainda que descontados fatores como segundo carro da família, queda de interesse pelo esporte e crise econômica.

Não foi o que aconteceu: nesse período o número de pilotos filiados à Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) permaneceu praticamente inalterado em torno de 12 mil registros; muito pior, passou de um piloto para cada 1.907,4 automóveis em 2008 para apenas um piloto para cada 2.938,4 automóveis. Não se pode nem de longe colocar a culpa de tal situação única e exclusivamente na CBA, mas, sem dúvida, ela é a principal culpada por isso. Clubes, equipes, federações estaduais, pilotos, preparadores e até mesmo a imprensa têm culpa no cartório.

Contam-se nos dedos da mão esquerda, e com unha encravada, as ações feitas pela confederação e por boa parte desse grupo para aumentar grids, formar novos pilotos ou colaborar para a consolidação de categorias novas. A realidade é que pilotos não se unem para cobrar seus direitos, preparadores não enxergam a necessidade de pensar a longo prazo e equipes, patrocinadores e promotores pouco ou nada fazem para inverter a população das salas de imprensa, nos últimos anos povoada de assessores e depauperada de representantes de veículos. Nas corridas regionais paulistas, então, nem sala de imprensa há...

Promotores da F-Truck e CBA se envolveram em desgaste desnecessário na renovação de acordo.

Vale lembrar que a agenda dos dirigentes jamais foi tão confusa e contraditória. Mais recentemente tornou-se comum cartolas declararem que a CBA não tem por obrigação promover campeonatos, nada mais equivocado. A julgar pelo que consta do parágrafo 2 do artigo 6º dos seus próprios estatutos a CBA deve, sim, “promover, autorizar e fiscalizar a realização de campeonatos e torneios desportivos nacionais e internacionais;”. Ocorre que dá trabalho planejar, estruturar e realizar, atividades nem tanto prezadas por uma entidade que sequer mantém em ordem os arquivos de resultados dos eventos que ela deve promover, autorizar e fiscalizar.

Mais, episódio recente e contraditório registrou uma rixa insalubre entre a entidade e os promotores da F-Truck, imbróglio que incluiu até a publicação de edital convidando interessados em assumir a categoria; o texto foi eternizado como uma atitude revanchista da CBA e continha a apropriação descabida da marca registrada em nome da família Félix, que por sua vez poderia ter conduzido melhor a defesa dos seus interesses.

Quando se aproxima o fim da catastrófica gestão de oito anos exercida por Cleyton Pinteiro e a posse, dia 17, de seu afilhado político e sucessor Waldner Dadai Bernardo a esperança, famosa por ser reconhecida como a última que morre, deu ares de sua graça. Em ação inédita Bernardo tem acertada a contratação de um profissional especializado para assumir a diretoria de marketing da entidade. Trata-se de Milton Santana, que tem larga experiência em ações desenvolvidas com prefeituras pernambucanas, em particular as festas de São João em Campina Grande, Caruaru e Garanhuns, Paixão de Cristo em Nova Jerusalém e outros trabalhos junto às prefeituras de Caruaru e Jaboatão dos Guararapes. Segundo Bernardo, o antecessor de Santana no cargo de diretor de marketing não deverá nem mesmo permanecer nos quadros da entidade.

Milton Santana tem boa reputação no mercado pernambucano de promoção 
Santana tem um perfil profissional aprovado por seus pares na Ampro, a Associação de Marketing Promocional, onde ocupa o posto de vice-presidente regional. Para que os automobilistas brasileiros referendem essa admiração sua chegada deve provocar consequências que contribuam para o esporte e evitem que ele entre para a história como um sinal de continuísmo. Uma dose significativa de profissionalismo para que o esporte ganhe práticas profissionais e éticas será mais do que bem-vinda: ajudará a implementar no universo de dirigentes e cartolas de plantão um padrão de trabalho que permita às equipes profissionais e ao automobilismo de base se organizar e facilitar o acesso ao esporte.

Além de Santana outra novidade da gestão de Dadai é o retorno de Pedro Sereno ao comando da Comissão Nacional de Kart, a CNK. E aqui vai uma situação que espelha a forma como um dos setores mais industrializados do esporte a motor brasileiro é tratado: o Regulamento Nacional de Kart de 2017 foi divulgado no dia 30 de janeiro... de 2017. Como uma empresa, uma equipe ou um pai de família podem fazer seu planejamento para o ano quando as regras são anunciadas dessa forma?

Existe a torcida para que no final de 2017 não tenhamos que esperar por 2018 para saber se uma categoria como a F-3 vai continuar existindo, se as novas modalidades terão o apoio que necessitam para crescer e por aí afora. Não seria demais cobrar ações que motivem as indústrias de automóveis, autopeças e de serviços a dar sua parcela de participação e colaborar em prol de grids maiores e arquibancadas cheias nos autódromos nacionais.

Hembrey no Brasil
Paul Hembrey, que comandava a operação F-1, agora cuida da Pirelli na América Latina 

O inglês Paul Hembrey, até a semana passada o responsável pelos programas da Pirelli nos campeonatos mundiais de Rally e F-1, foi nomeado presidente executivo para da marca para a América Latina na área de vendas – ou “consumer” na definição executiva do seu cargo. Inglês de Yeovil, Somerset, ele iniciou sua carreira na própria Pirelli em 1992 e agora substitui Paolo Dal Pino, hoje o principal executivo industrial da marca em todo o mundo. Paul Hembrey terá sob sua responsabilidade a operação das fábricas da Pirelli na Argentina, Brasil e Venezuela e continuará coordenando as atividades de esporte a motor em nível mundial, área na qual Mario Isola fica responsável pelo setor de automóveis, Giorgio Barbier pelo de motos e Gianni Guidotti pelas operações técnicas e comerciais.

Wagner Gonzalez

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