Alta Roda nº 728/88 – 11/04/2013 |
Fernando Calmon |
Conhecidos os resultados consolidados da indústria
automobilística em março, que a Anfavea divulga todos os meses, poucos
atentaram a um pormenor estatístico. Pela primeira vez as quatro maiores marcas
– Fiat, Ford, GM e VW – alcançaram 68,6% dos automóveis e comerciais leves
comercializados. Ou seja, ainda representam pouco mais de dois terços das
vendas, mas pela primeira vez abaixo de 70%.
Não é tão incomum, em outros países, as quatro
maiores marcas dominarem cerca de dois terços do comércio interno, ao contrário
do que muitos pensam. Japão e Índia são dois exemplos. Ou seja, a concorrência
aqui é feroz e as quatro maiores tendem a perder participação de forma mais
acelerada.
Esse surto de novas marcas vem em razão do rápido
crescimento das vendas no Brasil, quarto maior mercado mundial e quase quatro
milhões de unidades (com caminhões e ônibus) ao fim de 2013. Isso significou
lucros crescentes, mas desalinhados do resto do mundo?
Segundo Carlos Gomes, presidente da PSA Peugeot
Citroën Brasil e América Latina, cerca de 70 milhões de veículos leves
produzidos no mundo, em 2012, deixaram lucro aproximado de US$ 50 bilhões.
Desse total, US$ 18 bi foram ganhos na América do Norte; US$ 17 bi, na China;
US$ 4 bi, na América Latina; US$ 2 bi, na Europa e US$ 9 bi no resto do mundo.
Nossa região representou 8% das vendas e 8% dos lucros. América do Norte, 22% e
36%, respectivamente. Quem está mal mesmo é a Europa: 22% e apenas 4%.
Nos EUA há grandes distorções. Picapes e SUVs (45%
das vendas) lá são considerados caminhões leves. Mas as margens são até quatro
vezes maiores do que as de automóveis, o que não se considerou em pesquisa
atribuída à consultoria IHS e ao Sindipeças. Pormenor: nos EUA não há
importação de picapes pois o imposto tem alíquota de 25%, cerca de 10 vezes
superior ao de automóveis, desproporcionalidade única no mundo. Em carros
ganha-se um tantinho e em picapes/SUVs, um tantão...
Outro estudo recente, do Instituto de Planejamento
Tributário, comparou preços com e sem impostos de algumas mercadorias nos EUA,
Itália e Brasil. Claro, aqui tudo muito mais caro. Escolheram o Corolla entre
os automóveis, mas só o confrontaram com os EUA, alegando ser modelo
indisponível na Itália. Poderiam ter elegido o Focus, vendido nos três
continentes. Será porque, sem impostos, a diferença de preço é pequena, ao
contrário dos itens pesquisados?
De qualquer forma o cenário obrigará a diminuir a
defasagem dos lançamentos, com impactos sobre rentabilidade. O site inglês just-auto chama
a atenção de que mercados emergentes desejam comprar logo os carros expostos
todos os dias na internet. E citou o caso da Honda, que decidiu descentralizar
desenvolvimento e compras já a partir do novo Fit, abreviando seu lançamento
aqui, em 2014. Até afirmou que a filial duplicará o número de engenheiros no
País.
É o caso também da Fiat. Em Pernambuco produzirá
crossover utilitário e picape média dele derivado já em 2015. Em 2016, versão
utilitária para a marca Jeep e sedã médio baseado no Dodge Dart/Fiat Viaggio.
Para Minas Gerais, ficará o subcompacto sucessor do Mille, em 2015. Tudo com
forte participação técnica de brasileiros para agilizar.
RODA VIVA
DIMINUIÇÃO de importações e recuperação de estoques
fizeram do mês passado o melhor março da história: 319 mil unidades, de todos
os tipos, produzidas. No primeiro trimestre a recuperação da produção, em
relação a 2012, foi de 12%. Até dezembro, Anfavea espera que as fábricas
produzam mais 4,5% sobre 2012, apesar de exportações fracas.
QUANTO às vendas, o presidente da associação (em fim
de mandato), Cledorvino Belini, acredita que o ano será bom. Mas preferiu
manter, por enquanto, previsão de crescimento de 3,5% a 4,5%, mesmo com dois
aumentos de IPI cancelados até o fim do ano. Chegou a admitir 5% de avanço em
2013. Comportamento do PIB será decisivo para os resultados.
MERCEDES-BENZ deu uma guinada com
novo Classe A, em versões de R$ 99.900 e R$ 109.900. De pequeno monovolume
passou a hatch de estilo arrojado e coeficiente aerodinâmico dos melhores (Cx
de 0,27). Interior cresceu: entre-eixos generoso de 2,69 m. Bancos dianteiros
de encosto alto e alavanca seletora de câmbio na coluna de direção agradam.
MOTOR turbo 1,6 L/156 cv tem ótimo torque de 25,5
kgf∙m, entre 1.250 e 4.000 rpm. Casa à perfeição com câmbio automatizado de
dupla embreagem, sete marchas. Interessante função aciona o freio de
estacionamento ao se pisar com firmeza o pedal de freio, quando em
marcha-lenta. Faltam GPS e faróis de neblina, justo na versão mais cara (de
série, na de entrada).
UNIÃO Europeia deve rever ciclos de teste de
consumo de combustível em laboratório. Números otimistas demais e difíceis de
reproduzir na prática, em especial modelos híbridos. Provavelmente vão optar
por correção linear dos valores, como aconteceu nos EUA e no Brasil, pois novo
ciclo foi adotado há pouco mais de quatro anos.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro,
palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas
automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda
começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e
revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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