Alta Roda nº 746/97– 05/09/2013 |
Fernando Calmon |
A
última rodada de testes de impacto do Latin NCAP (sigla em inglês para programa
de avaliação de carros novos) resultou em novas críticas sobre a real segurança
dos automóveis vendidos no mercado brasileiro e em toda a América Latina,
incluído o México.De
fato, comentários negativos deveriam se centrar nos legisladores porque,
afinal, os modelos vendidos na região estão de acordo com as regulamentações
oficiais. No entanto, esse é um assunto complexo, pois não existe consenso em
torno do tipo de teste, velocidades envolvidas, ferimentos nos dummies (bonecos com sensores) e
atribuição de notas na escala de uma a cinco estrelas.
A
regulamentação daqui prevê que as fábricas podem escolher entre o padrão
americano (batida em 100% da frente, a 56 km/h, contra barreira indeformável) e
o europeu (batida em 40% da frente, a 64 km/h, contra barreira deformável).
Especialistas apontam que o primeiro se preocupa com dispositivos internos de
retenção e o segundo com a estrutura do habitáculo. Há sérias controvérsias
técnicas e políticas sobre o tema.
EuroNCAP
surgiu na Europa, em 1997, como organização não governamental de entidades de
consumidores. Houve conflitos iniciais com fabricantes, mas hoje as regulamentações
são discutidas sob cronogramas adequados. Decidiu, então, expandir os negócios
para a única região ainda inexplorada. Latin NCAP, braço da entidade europeia sediado
no Uruguai, começou há três anos com regras relativamente mais severas para atuar
em mercados de menor poder aquisitivo. Escolheu o padrão europeu, mesmo sabendo
que as regras no Brasil admitem o padrão americano. Outras trapalhadas técnicas
ocorreram, por açodamento e incompetência.
Nova
legislação brasileira foi anunciada há cinco anos para automóveis e comerciais leves
e, a partir de 2014, nenhum desses poderá ser comercializado sem atender
critérios biomecânicos de proteção aos ocupantes. Airbags frontais e freios ABS
(antitravamento) serão mandatórios.Segundo
André Dantas, engenheiro mecânico e mecatrônico, “carro de quatro estrelas não
é matematicamente duas vezes mais seguro que o de duas estrelas. Isso só
confunde o consumidor leigo. Além disso, velocidades em cidades são bem menores
e, em estradas, podem gerar forças superiores às suportadas por órgãos internos
do corpo humano. Sistemas de segurança são eficazes apenas em uma faixa estreita
de riscos potenciais”. Para ler seu artigo completo: tinyurl.com/pylxqb4 .
O
Observatório Nacional de Segurança Viária também questiona os critérios de
estrelas e as notas díspares entre segurança nos bancos dianteiros e de cadeiras
infantis no banco traseiro.Na
recente batelada de resultados, o Latin NCAP testou um modelo sem airbags,
embora este seja vendido no Brasil e na Argentina somente com tais equipamentos
de série. Espécie de “castigo” por serem exportados “inseguros” para outros
países latinos. A entidade também se envolveu em querelas com o Centro de
Experimentação e Segurança Viária, da Argentina.
Na
realidade, veículos mais seguros têm custos maiores. Carros grandes, em geral,
oferecem maior proteção que os menores. Um equilíbrio deve haver. De preferência
sem atitudes oportunistas e com discussões racionais.
RODA
VIVA
FORD foi mais ágil e
lançará o novo Focus, no fim do mês, com primeiro sistema de injeção direta para
gasolina e etanol hidratado (flex). Tal recurso permite aumentar potência e
diminuir consumo, mas cada fabricante faz acertos específicos. No caso, potência
do motor 2 L subiu 20% para 178 cv (etanol). Também decidiu concentrar esforço
de marketing na versão sedã.
MARCAS como a Audi podem
se dar ao luxo de ter duplo sistema de injeção, direta e indireta (quatro
injetores para cada um). É assim o A3 Sportback com motor 1,8 L/180 cv/25,5
kgf∙m. O hatch médio-compacto também está 90 kg mais leve e, combinado ao novo
motor especialmente suave, faz esquecer das agruras do trânsito na cidade. E se
deliciar nas estradas.
CARROS elétricos têm
prioridade temática para a Renault e também o Brasil entrou no radar da empresa.
Até agora, apenas a Nissan, sua coligada na aliança franco-nipônica,
estabeleceu esforços por aqui nesse campo. Primeira experiência com a Companhia
Paulista de Força e Luz assemelha-se à da Fiat com a Itaipu Binacional.
ESCALADA de potência nos
motores Diesel de picapes e SUVs médios chegou à S10 e ao Trailblazer. No
ano-modelo 2014, entrega 200 cv igualando-se à Ranger. Além disso, torque
atinge nada menos que 51 kgf∙m. A Chevrolet já havia diminuído o preço do
Trailblazer porque tinha errado na mão. Acrescentou sistema de áudio com tela
tátil de sete pol. e GPS via celular.
PEUGEOT anunciou o preço do
408 com câmbio automático de seis marchas e motor 2 litros/151 cv. Antes
disponível apenas com o turbo de 1.6 L/165 cv, versão Allure sai por R$ 65.990
ou R$ 2.000 a mais que o anterior automático de quatro marchas. Vale a pena: trocas
de marchas bem mais suaves e silêncio a bordo.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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