terça-feira, 19 de novembro de 2013

Wagner Gonzalez em Conversa de pista

Domínio de Vettel não sossega F1


Wagner Gonzalez


Se a mais nova conquista de Sebastian Vettel – domingo, em Austin -, não surpreendeu absolutamente ninguém, os acertos e negociatas que envolveram pilotos, equipes e engenheiros antes da prova indicaram que o escambo está mais do que vivo na F1 atual. 





Foto GEPA Pictures
No capítulo em questão Vettel venceu pela oitava vez consecutiva e registrou um novo recorde para esse quesito, mas os protagonistas do final de semana foramdois finlandeses: Kimi Räikkönen - que ironicamente nem apareceu na capital texana - e Heikki Kovalainen, mais novo inimigo de infância do italiano Davide Valsecchi. Eles três e o alemão Nico Hulkenberg foram os personagens que disputaram o cockpit do Lotus número 7 com diferentes armas. Terça-feira passada eu escrevi que a decisão seria na base do poder econômico e assim foi, embora Kovalainen não tenha entrado com nenhum centavo.

foto Lotus F1 Team/LAT
A história começou de verdade no ano passado, quando a Lotus atrasou o pagamento de salários de Kimi Raikkonen pela primeira vez. Este ano a situação se repetiu e de forma mais grave. Além de um fixo de €3 milhões, o campeão mundial de 2007 teria acertado para 2013 um bônus de € 50 mil por ponto. Trocando em graúdos, os rendimentos do Iceman congelam aproximadamente €12,15 milhões do orçamento da Lotus em 2013. Nada bom para uma equipe que desde o início do ano faz malabarismos e promessas para fechar um pacote de investimentos com a Quantum, empresa multinacional que estaria disposta a salvar o time fundado por Colin Chapman nos anos 1950.
O acordo de bônus por ponto é uma espécie de contrato de risco para piloto e equipe envolvidos e onde o lado bom é que se primeiro conseguir um resultado perfeito a equipe recupera o investimento com o prêmio final no campeonato dos construtores. Consta que a diferença entre chegar em segundo, terceiro ou quarto lugar – posições que Mercedes, Ferrari e Lotus disputam domingo, em Interlagos -, significa receber U$ 20 milhões a mais ou a menos. Este valor, por si só, paga as dívidas da equipe inglesa com o piloto finlandês: ao câmbio de ontem o débito em euros entre Kimi e a Lotus equivale a U$ 16,418 milhões...

Na mais pura prática da Lei de Gérson (o “Canhotinha de Ouro” da Copa de 70 que gostava de levar vantagem em tudo), a luta pela sobrevivência – para muitos a expressão ideal seria prática da ganância -, das equipes de F1 implica num autêntico vale tudo e mais um pouco e torna difícil encontrar almas puras no paddock. Quando Kimi assinou contrato com a Ferrari já era sabido que ele sofria algumas dores na coluna, mas mesmo assim não tinha deixado de se aplicar e cumprir sua parte no contrato com a Lotus. Como o tempo passava e os salários e bônus combinados não inundavam sua conta bancária as dores aumentaram e pouco a pouco chegou-se ao inevitável: a operação deveria ser realizada o quanto antes.


E assim aconteceu: o finlandês foi internado no Hospital da Universidade de Strasbourg, na França, sob os cuidados do Professor Doutor Afshin Gangi, nascido em Teerã e formado pela Universidade dessa cidade francesa próxima da fronteira com a Alemanha, onde é presidente do instituto de radiologia. A cirurgia foi um sucesso e evidentemente o retorno às pistas deverá esperar sua completa recuperação.


A ausência forçada de Kimi criou um conto de fadas na cabeça de David Valsecchi, piloto reserva da equipe Lotus e que sonhava ser contemplado com o final feliz. Não foi bem isso que aconteceu: os diretores do time de Enstone jamais esconderam a preferência em assinar com o alemão Nico Hulkenberg para 2014. A ausência forçada de Kimi levou-os a enxergar a chance de adiantar seus planos, pois, afinal, a Sauber, atual equipe de Nico, também estava com os salários atrasados. Só que a bruxa má acabou ganhando ares de protagonista em um papel preenchido por uma strega, como esse mito é conhecido na Itália.
foto Lotus F1 Team/LAT


Hulkenberg é reconhecido como um piloto rápido, conhece bem os pneus atuais, mas não foi a Pirelli que pilotou a vassoura da vez. Colocar o alemão no lugar de Räikkönen aumentaria as chances da Lotus no campeonato de construtores, mas ocorre que a ligação da Sauber com a Ferrari vai muito além do fornecimento de motores. Legalmente Hulkenberg podia alegar quebra de contrato para mudar seu endereço na F1 de Hinwill para Enstone, onde teria, inclusive, feito uma visita para moldar seu banco. Com a história caminhando para esse final feliz para a equipe inglesa, não exatamente num passo de mágica a Ferrari teria comparecido com os salários atrasados, em torno do milhão de euros. Esta manobra, evidentemente, evitava que a Lotus aumentasse suas chances no mundial de construtores. Pir-lim-pim-pim, abra-cadabra e, de repente, não mais do que de repente, Hulkenberg reata com a equipe suíça e de quebra ainda fez um corridão em Austin.

Foto Sauber Motorsport AG
Com o alemão fora do jogo Valsecchi voltou a pensar que ainda tinha uma chance...ledo engano. Tentando capitalizar no fato que Kovalainen conhece alguns engenheiros da Lotus – dos tempos que a equipe ainda era Renault – e correu a temporada de 2012, seu cacife foi considerado mais alto que o do italiano. Só que isso acabou custando caro a Gérard Lopez e Eric Bouiller, o bam-bam-bam e o respectivo vice da estrutura da Lotus. Sucede que Kovalainen era o piloto reserva da equipe Caterham, que por sua vez já tinha contratado James Crook e Paul Cusdin, dois engenheiros especializados em fluidodinâmica que estavam insatisfeitos com o clima de trabalho em Enstone.


Foto Caterham F1
Existe um certo acordo entre as equipes para controlar as mudanças de técnicos e engenheiros: quem pedir as contas só pode deixar o emprego depois de uma quarentena que varia entre três e seis meses sem trabalhar nem aqui, nem lá. Quando a Lotus quis Kovalainen a Caterham nem pensou duas vezes para botar preço na liberação imediata do seu piloto reserva. Falando em números, mas em forma de letras, era trocar o finlandês por Crook e Cusdin. E aí Valsecchi, que estava no mato sem cachorro, acordou e teve a certeza que vai terminar a temporada numa abóbora.
Foto Lotus F1 Team/LAT

Analisando o que rolou no fim de semana não dá para dizer que Kovalainen correspondeu às expectativas. Ele até que começou bem os treinos e deixou forte a chama da esperança da Lotus em, pelo menos, diminuir muito a diferença de pontos em relação à Ferrari. 





foto Lotus F1 Tam/LAT

O tiro de festim só não foi pior porque Romain Grosjean fez uma apresentação impecável – marcou mais pontos que Fernando Alonso -, e Felipe Massa novamente não correspondeu às expectativas e não marcou pontos. Para quem vai encarar as arquibancadas de Interlagos nesse fim de semana isso ajuda a esperar por alguma emoção na prova final de uma temporada amplamente dominada por Sebastian Vettel e a eficiência de Adrian Newey, projetista da Red Bull. Equipe, que por sinal, já escalou Daniel Ricciardo como substituto de Mark Webber, que se despede da F1 na corrida de domingo.

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