Domínio
de Vettel não sossega F1
Wagner Gonzalez |
Se a mais nova conquista de Sebastian Vettel – domingo, em Austin -, não surpreendeu absolutamente ninguém, os acertos e negociatas que envolveram pilotos, equipes e engenheiros antes da prova indicaram que o escambo está mais do que vivo na F1 atual.
Foto GEPA Pictures |
foto Lotus F1 Team/LAT |
A história começou de verdade no ano passado, quando a Lotus
atrasou o pagamento de salários de Kimi Raikkonen pela primeira vez. Este ano a
situação se repetiu e de forma mais grave. Além de um fixo de €3 milhões, o
campeão mundial de 2007 teria acertado para 2013 um bônus de € 50 mil por
ponto. Trocando em graúdos, os rendimentos do Iceman congelam aproximadamente
€12,15 milhões do orçamento da Lotus em 2013. Nada bom para uma equipe que
desde o início do ano faz malabarismos e promessas para fechar um pacote de
investimentos com a Quantum, empresa multinacional que estaria disposta a
salvar o time fundado por Colin Chapman nos anos 1950.
O acordo de bônus por ponto é uma espécie de contrato de risco para
piloto e equipe envolvidos e onde o lado bom é que se primeiro conseguir um
resultado perfeito a equipe recupera o investimento com o prêmio final no
campeonato dos construtores. Consta que a diferença entre chegar em segundo,
terceiro ou quarto lugar – posições que Mercedes, Ferrari e Lotus disputam
domingo, em Interlagos -, significa receber U$ 20 milhões a mais ou a menos.
Este valor, por si só, paga as dívidas da equipe inglesa com o piloto
finlandês: ao câmbio de ontem o débito em euros entre Kimi e a Lotus equivale a
U$ 16,418 milhões...
Na mais pura prática da Lei de Gérson (o “Canhotinha de Ouro” da Copa de
70 que gostava de levar vantagem em tudo), a luta pela sobrevivência – para
muitos a expressão ideal seria prática da ganância -, das equipes de F1 implica
num autêntico vale tudo e mais um pouco e torna difícil encontrar almas puras
no paddock. Quando Kimi assinou contrato com a Ferrari já era sabido que ele
sofria algumas dores na coluna, mas mesmo assim não tinha deixado de se aplicar
e cumprir sua parte no contrato com a Lotus. Como o tempo passava e os salários
e bônus combinados não inundavam sua conta bancária as dores aumentaram e pouco
a pouco chegou-se ao inevitável: a operação deveria ser realizada o quanto
antes.
E assim aconteceu: o finlandês foi
internado no Hospital da Universidade de Strasbourg, na França, sob os cuidados
do Professor Doutor Afshin Gangi, nascido em Teerã e formado pela Universidade
dessa cidade francesa próxima da fronteira com a Alemanha, onde é presidente do
instituto de radiologia. A cirurgia foi um sucesso e evidentemente o retorno às
pistas deverá esperar sua completa recuperação.
A
ausência forçada de Kimi criou um conto de fadas na cabeça de David Valsecchi,
piloto reserva da equipe Lotus e que sonhava ser contemplado com o final feliz.
Não foi bem isso que aconteceu: os diretores do time de Enstone jamais
esconderam a preferência em assinar com o alemão Nico Hulkenberg para 2014. A
ausência forçada de Kimi levou-os a enxergar a chance de adiantar seus planos,
pois, afinal, a Sauber, atual equipe de Nico, também estava com os salários
atrasados. Só que a bruxa má acabou ganhando ares de protagonista em um papel
preenchido por uma strega, como esse mito é conhecido na Itália.
foto Lotus F1 Team/LAT |
Hulkenberg é reconhecido como um piloto rápido, conhece bem os pneus
atuais, mas não foi a Pirelli que pilotou a vassoura da vez. Colocar o alemão
no lugar de Räikkönen aumentaria as chances da Lotus no campeonato de
construtores, mas ocorre que a ligação da Sauber com a Ferrari vai muito além
do fornecimento de motores. Legalmente Hulkenberg podia alegar quebra de
contrato para mudar seu endereço na F1 de Hinwill para Enstone, onde teria,
inclusive, feito uma visita para moldar seu banco. Com a história caminhando
para esse final feliz para a equipe inglesa, não exatamente num passo de mágica
a Ferrari teria comparecido com os salários atrasados, em torno do milhão de
euros. Esta manobra, evidentemente, evitava que a Lotus aumentasse suas chances
no mundial de construtores. Pir-lim-pim-pim, abra-cadabra e, de repente, não
mais do que de repente, Hulkenberg reata com a equipe suíça e de quebra ainda
fez um corridão em Austin.
Foto Sauber Motorsport AG |
Com o alemão fora do jogo Valsecchi
voltou a pensar que ainda tinha uma chance...ledo engano. Tentando capitalizar
no fato que Kovalainen conhece alguns engenheiros da Lotus – dos tempos que a
equipe ainda era Renault – e correu a temporada de 2012, seu cacife foi
considerado mais alto que o do italiano. Só que isso acabou custando caro a
Gérard Lopez e Eric Bouiller, o bam-bam-bam e o respectivo vice da estrutura da
Lotus. Sucede que Kovalainen era o piloto reserva da equipe Caterham, que por
sua vez já tinha contratado James Crook e Paul Cusdin, dois engenheiros
especializados em fluidodinâmica que estavam insatisfeitos com o clima de
trabalho em Enstone.
Foto Caterham F1 |
Existe um certo acordo entre as equipes para controlar as mudanças de
técnicos e engenheiros: quem pedir as contas só pode deixar o emprego depois de
uma quarentena que varia entre três e seis meses sem trabalhar nem aqui, nem
lá. Quando a Lotus quis Kovalainen a Caterham nem pensou duas vezes para botar
preço na liberação imediata do seu piloto reserva. Falando em números, mas em
forma de letras, era trocar o finlandês por Crook e Cusdin. E aí Valsecchi, que
estava no mato sem cachorro, acordou e teve a certeza que vai terminar a
temporada numa abóbora.
Foto Lotus F1 Team/LAT |
Analisando o que rolou no fim de semana não dá para dizer que Kovalainen
correspondeu às expectativas. Ele até que começou bem os treinos e deixou forte
a chama da esperança da Lotus em, pelo menos, diminuir muito a diferença de
pontos em relação à Ferrari.
foto Lotus F1 Tam/LAT |
O tiro de festim só não foi pior
porque Romain Grosjean fez uma apresentação impecável – marcou mais pontos que
Fernando Alonso -, e Felipe Massa novamente não correspondeu às expectativas e
não marcou pontos. Para quem vai encarar as arquibancadas de Interlagos nesse
fim de semana isso ajuda a esperar por alguma emoção na prova final de uma
temporada amplamente dominada por Sebastian Vettel e a eficiência de Adrian
Newey, projetista da Red Bull. Equipe, que por sinal, já escalou Daniel
Ricciardo como substituto de Mark Webber, que se despede da F1 na corrida de
domingo.
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