Fernando Calmon |
Cenário cada vez mais desafiador está previsto no mercado
interno de veículos para 2014 e os próximos anos. Desafiador costuma ser o
sofisma usado no mundo dos negócios, quando se quer dizer que a situação pode
piorar muito. Especificamente, o risco de uma guerra de preços ou, no mínimo,
forte contração das margens de comercialização. Como alguns acreditavam – e até
continuam a acreditar – que essas margens explicavam os preços altos praticados
internamente, talvez revejam esses conceitos.
Em primeiro lugar, a desvalorização do real frente ao dólar,
e em especial ao euro, colocou algumas coisas em seus devidos lugares, ao se
compararem tabelas aqui e no exterior. Por outro lado, cerca de 50 marcas que
produzem ou vão produzir no Brasil, além das importadas por vocação ou por
oportunismo, estão em disputa feroz. Há uma reviravolta em curso com a decisão
de fabricação local de modelos premium, nas faixas inferiores de preço. Quem
compra agora os atuais carros nacionais de topo certamente se sentirão
estimulados a subir um degrau graças à oferta diversificada e mais em conta. No
mínimo pode considerar a possível manutenção rápida e peças algo menos caras.
Marcas premium verdadeiras e as que pegam carona no conceito
representam por volta de 1,5% do mercado brasileiro. Em outros países de poder
aquisitivo semelhante, o percentual situa-se entre 3% e 5%. Assim, triplicar as
vendas desse segmento, nos próximos quatro anos, é previsão aceitável. E a concorrência
continuará intensa.
Essa coluna já apontou o preço do Golf 7, por enquanto importado
da Alemanha, como sendo fortemente subsidiado. Mas como o modelo será produzido
no Paraná, poderia se justificar, em parte. Outro exemplo recente: Nissan
Altima. Este não se fabricará aqui e custa menos de R$ 100.000. Seu preço nos
EUA, onde é feito, na versão completa, está em torno de US$ 30 mil. Ao agregar
a diferença de impostos (já desconsiderada taxação adicional do Inovar-Auto) e
custos elevados de comercialização, teria que ser vendido aqui em torno de R$ 140
mil. Claro, trata-se de importação estratégica e em pequenos volumes, porém
indicador da forte concorrência. Esses subsídios indicam que não haverá queda
súbita de preços, como acontece em alguns casos.
Para se ter ideia da alta participação de impostos e de deficiências
internas do País basta ver a etiqueta do Mercedes-Benz Classe S, topo de linha
da marca alemã. Custa aqui, em dólares, o dobro do valor de venda no varejo dos
EUA. Nesse caso inexiste subsídio, pois se aloja no nicho do nicho de
interessados.
Promoções e políticas de desconto refletem ciclos. A cada
onda de preços no alto são atraídos novos atores ao mercado e se inicia um
ciclo de baixa. Sempre tendo como referência o nível real, isto é, considerada a
correção inflacionária. Concessionárias de veículos no Brasil precisarão
enfrentar uma realidade diferente e nada fácil de reverter. Em outros países há
margens menores nos veículos zero-km e maiores em seminovos e usados, produtos
financeiros (seguros e financiamentos) e serviços de pós-venda (acessórios,
peças e manutenção). Se os fabricantes não ajudarem a reverter esse quadro,
nenhum sofisma disfarçará esse complicador.
RODA VIVA
CONFORME previsto
pela coluna, o protótipo (quase pronto) do Ka, exibido semana passada na Bahia,
não é subcompacto. Trata-se de um compacto curto, na mesma arquitetura do New
Fiesta, a ser lançado em meados do segundo trimestre de 2014. Ford talvez
ofereça só uma versão pouco abaixo de R$ 30.000 (depende do IPI), pois será bem
equipado e com ênfase na conectividade.
VERSÃO sedã do
novo Ka chegará seis meses depois. Bill Ford, presidente do conselho da empresa,
confirmou que o projeto desenvolvido em Camaçari, interagindo com outras
filiais, não se restringirá a países emergentes. Além do novo motor de 3
cilindros/1 litro (potência de 82 cv/etanol), oferecerá componentes como
ar-condicionado de última geração.
ALGUNS equipamentos
de ponta do Mercedes-Benz S 500 L (entre-eixos longo), que chega em dezembro,
só estarão disponíveis depois de testes adicionais no Brasil. Um deles é a
inédita câmera estéreo no para-brisa. Ela permite vislumbrar irregularidades na
pavimentação – fartas por aqui – e pré-ajustar a suspensão pneumática para o
que der e vier.
ADIADO por 18 meses,
para julho de 2015, oferta exclusiva de gasolina aditivada. ANP exigiu que a
Petrobras, monopolista em combustíveis, não repassasse para as distribuidoras
essa obrigação. A empresa, estimulada pelo Ministério das Minas e Energia,
propõe ainda misturar gasolina de baixa qualidade ao etanol (E85). Seria
desastroso por facilitar fraudes e outros problemas.
LANÇADO pela
TomTom serviço de informações de trânsito em tempo real para ruas e estradas no
Brasil. Já disponível em 33 países, Traffic é um sistema sofisticado de referência
de localização dinâmica, em padrão de código aberto para navegação e
cartografia, além de colaborativo. Refaz rotas em função dos engarrafamentos, mas
aparelhos só chegam no início de 2014.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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