Alta Roda nº852/202– 03/09 /2015
Roberto
Scaringella, engenheiro civil e jornalista, falecido em 2013, fundador da
Companhia de Engenharia de Tráfego da cidade de São Paulo, ex-presidente do
Contran e conhecido por sua dedicação aos temas de segurança de trânsito,
cunhou a frase: “Justiça social não se confunde com a necessidade de Inspeção
Técnica Veicular (ITV).” Ele se referia aos sucessivos adiamentos da ITV em
razão de muitos acharem injusto tirar de circulação veículos velhos, na
realidade malconservados. Seus donos não têm dinheiro para fazer manutenção,
evitar acidentes e diminuir a poluição, mas elegem políticos.
Em 2015 completam-se 18 anos que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB)
estabeleceu a abrangência nacional da inspeção. No 23º Simpósio Internacional
de Engenharia Automotiva (Simea), realizado no fim do mês passado em São Paulo,
nada menos de 20 entidades pela primeira vez assinaram uma carta aberta,
entregue ao representante do Ministério das Cidades, Aílton Brasiliense, sobre
a urgente implantação, por todos os Estados, da ITV. Será que a maioridade do
CTB agora será respeitada em meio à crise econômica e política?
O Simea, organizado pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, com
mais de 1.200 participantes ao longo de dois dias, foi muito mais que isso. O
escopo desta edição, Tecnologia e Conectividade Melhorando a Mobilidade, atraiu
cerca de 60 trabalhos técnicos.
Uma das apresentações mais interessantes foi da Ericsson com seu projeto de tráfego
conectado em nuvem. Trata-se de plataforma de internet das coisas para
compartilhar anonimamente as condições de trânsito em tempo real entre veículos
conectados e administradores de circulação em ruas e estradas, sem desrespeitar
a privacidade das pessoas. Para a Microsoft, o telefone celular é o novo painel
do automóvel, capaz de informar, controlar e até assumir comandos antes
exclusivos dos motoristas.
No Brasil, rodovias pedagiadas também vão implantar novas tecnologias para
chegar ao ideal de o sistema cobrar por trecho percorrido. No futuro, ainda um
pouco distante, as cabines de cobrança poderão ser substituídas por cortinas de
raios laser que ajudarão na identificação de cada veículo e o uso que fez da
estrada. Afinal, espera-se que um dia o carro seja usado mais “a passeio” em
viagens e menos nos deslocamentos urbanos.
Pensando mais no presente, três empresas de autopeças apresentaram no Simea um
novo sistema universal de partida a frio para motores flex quando usam etanol.
Iniciativa da Mahle, criadora do inovador módulo de pré-aquecimento, contou com
laboratórios da Continental para testes e gerenciamento eletrônico. Como é mais
eficiente que os dispositivos atuais em termos de consumo de energia da
bateria, emissões e economia de combustível, surgiu a ideia de incluir novo
catalisador de custo menor e para tanto a Umicore participou.
Projeto idealizado por engenheiros brasileiros, que dividiram conhecimentos sem
visar à vinculação entre as três empresas e a preço bastante competitivo, será
oferecido a qualquer fabricante de motor com os atuais equipamentos de injeção
indireta de etanol/gasolina (mais de 90% dos modelos à venda, hoje). União fez
a força.
RODA VIVA
CONFIRMADO fim de produção do Celta (antecipado
aqui), restam ainda em linha dois “veteranos de guerra”: Chevrolet Classic
(praticamente igual desde 1995) e Fiat Palio Fire (de 2006). Aquele sem data de
aposentadoria e este deve parar em 2016 com a estreia do segundo subcompacto da
Fiat. Primeiro deste segmento foi o 147, depois o Ford Ka original e agora VW
Up!.
GENERAL MOTORS, em plano mundial, diversifica além dos
motores de 3 cilindros de 1 a 1,5 L (aspirado e turbo). No seminário sobre
inovações atuais e futuras em junho último, em Detroit, mostrou câmbios manuais
de cinco, seis e sete marchas e três tipos de automáticos: CVT, DCT (dupla
embreagem) e convencionais (epicíclico) de seis, oito e, em breve, dez
marchas.
HYUNDAI IX35 recebeu mudanças de meia geração,
basicamente em faróis e lanternas. SUV médio-compacto produzido em Anápolis
(GO) agora tem três versões, cujos preços vão de R$ 99.990 a R$ 122.990, o que
dá flexibilidade de escolha. Previsão de vendas: 1.800 unidades/mês. Suspensões
ficaram mais macias e confortáveis, mas seu curso poderia ser um pouco maior.
TERMINOU, depois de três anos e meio, a disputa na
Justiça internacional entre Suzuki e Grupo VW. Marca japonesa queria recomprar
dos alemães o lote de ações vendidas (19,9% do seu capital) em 2009 porque o
acordo de transferências mútuas de tecnologias não funcionou a contento.
Tribunal deu ganhou de causa à Suzuki.
APROVADA na Câmara dos Deputados, mas ainda
dependendo do Senado, obrigatoriedade de uso de faróis durante o dia nas
estradas. Há dúvidas sobre a exigência em países tropicais. Os Estados Unidos,
com a maior frota de veículos do mundo e depois de longos estudos, recusaram a
proposta. Bom mesmo são luzes de uso diurno (LEDs) que não se confundem com
faróis comuns.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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