Alta Roda nº 868/218– 23 /12 /2015
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Fernando Calmon |
Fazer o balanço de um ano tão difícil para a indústria
automobilística, como o de 2015, é tarefa nada agradável. Afinal, em dezembro
de 2014 se imaginava pequena queda de vendas este ano porque o Produto Interno
Bruto (PIB) iria cair 1%. As últimas previsões apontam para recuo do PIB no
mínimo de 3,5% e isso explica parte do mergulho, sem ser a única nem a principal
razão.
EUA e países europeus passaram por crises nos seus mercados
internos que em alguns casos chegaram a 50% de encolhimento nos últimos sete
anos. No entanto estão em plena recuperação, em especial os EUA. Japão teve
queda menor e a China, sempre exceção, apenas diminuiu o ritmo de crescimento
em 2015, embora mantenha com folga a posição de maior do mundo com mais de 23
milhões de veículos comercializados.
Quando esta coluna começou, em 1999, registrou grande decepção
no emplacamento de veículos (somados automóveis e comerciais leves e pesados).
O Brasil quase havia rompido a barreira de 2 milhões de unidades, exatas
1.943.458, e veio um tombo inesperado de 35% ao fim de dois anos para 1.078.215.
A partir daí o mercado voltou a crescer e chegou perto de 4 milhões de unidades:
3.802.071. Falava-se até em vendas de 4,5 milhões, em 2017.
De lá para cá, só frustrações. Foram três quedas
sucessivas: 1% em 2013, 7% em 2014 e no mínimo 27% em 2015, de acordo com projeções.
Em três anos, acumulou-se perda acima de 37%. Mesmo previsões mais pessimistas
do início deste ano estimavam menos 15%. Houve uma conjugação de fatores: antecipação
de compras em 2012, aumento de impostos, encolhimento do crédito, menor poder
aquisitivo, aumento do desemprego e, acima de tudo, a mistura explosiva de
crise política e econômica que minou a confiança dos compradores.
O Brasil perdeu a quarta colocação (2,5 milhões de
unidades em 2015 ou 1 milhão a menos) no ranking mundial de mercados e vai
terminar em sexto ou sétimo este ano. Uma marcha à ré surpreendente em um País
com apenas cinco habitantes/veículo. A Honda concluiu a fábrica nova de
Itirapina (SP) e decidiu por enquanto não produzir, enquanto a Chery trabalhou
com 5% de sua capacidade total na nova unidade de Jacareí (SP).
Nem tudo foi ruim em 2015. Novidades importantes de
produção regional como HR-V, Renegade, 2008 e Duster Oroch (ordem cronológica)
e boas reestilizações no Versa, Focus, HB20 e Cobalt, além do up! TSI. FCA
inaugurou a fábrica de Goiana (PE). Audi voltou a produzir (A3 sedã) e a BMW
completou os cinco modelos previstos. Apenas carros da faixa superior de preço
cresceram em torno de 20%. Preços de tabela ficaram em média alinhados à
inflação, mas quem pôde comprar recebeu descontos e bônus. As exportações
subiram 12%.
Fabricantes que se concentram em automóveis mais acessíveis
viram sua fatia de mercado encolher. Fiat, GM, VW e Ford (só esta conseguiu
ligeiro aumento) ficaram até novembro com 56,5%, somando-se importados e produzidos
no Mercosul de cada marca. Há 15 anos os chamados Quatro Grandes abocanhavam
mais de 80% do mercado.
Perda de 10% no número de empregos diretos sobre 2014 foi
menor que a queda de produção (cerca de 23%), mas a ociosidade média deve ter
superado 30%.
RODA VIVA
ALGUNS fatos
positivos também marcaram 2015: fim da obrigatoriedade dos extintores de
incêndio (apesar da tentativa de retorno por meio de lobby no Congresso
Nacional) e isenção do imposto de importação (II) para carros elétricos. Os
híbridos recarregáveis ou não em tomada foram incentivados com II entre 0 e 7%,
dependendo de consumo e montagem no País.
OUTRA boa
notícia, agora no final de ano: previsão do controle eletrônico de estabilidade
até 2020 para projetos novos ou com grandes mudanças. O prazo não precisava se
estender até 2022 para modelos que estão à venda no momento. Possivelmente, o
governo pensou nos anos difíceis ainda por vir. Retomada discreta das vendas
pode se dar apenas em 2017.
HB20X Premium
automático de seis marchas é prejudicado pelo preço alto (mais de R$ 65.000 com
tela multimídia e bancos de couro marrom), mas atende proposta do conceito
“aventureiro”. Direção eletroassistida, finalmente, chegou e deveria equipar
todos os HB20. Vão livre aumentado em 4,1 cm absorve bem os buracos e, claro,
não permite exageros em curvas.
ESTUDO da
Delphi mostra crescente aceitação do sistema de ar-condicionado no mercado
brasileiro, incluídos os carros importados. Em 2008, 67% dos modelos novos
vendidos recebiam esse equipamento, mesmo se oferecidos opcionalmente. Para
2015 a estimativa é de o percentual subir para 84%. Há impacto no consumo de
combustível, mas vale a pena.
GOVERNO de São
Paulo reduziu de 90 para 60 dias o prazo para leilão de veículos apreendidos e
não reclamados pelos donos. Se multas, impostos e taxas não pagos e preço das
diárias no pátio ultrapassarem o valor do carro, leilão pode ser antecipado. Quem
sabe parte das “sucatas” ambulantes saia de circulação, mesmo as isentas de
IPVA (mais de 20 anos).
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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