Alta Roda nº 869/219– 30 /12 /2015
Fernando Calmon |
De uns tempos para cá, pesquisas apontam desinteresse dos jovens em
dirigir automóveisou até se candidatar a uma carteira de motorista. Essa
tendência aparece em países centrais de alta taxa de motorização e se atribui,
entre outras razões, ao crescente grau de conectividade da internet em
dispositivos portáteis, à menor necessidade de deslocamentos e, de certa forma,
a meios de transporte coletivos e alternativos, incluindo aplicativos para
táxis e motoristas particulares do Uber.
Quem produz autopeças, fabrica veículos e os comercializa estão atentos sobre o
impacto desses novos consumidores. Já se prevê salões de concessionárias
diminuindo de área e até com apenas um ou dois modelos em exposição – o mais
vendido e/ou o recém-lançado.
No Brasil esse caminho poderá também ser trilhado, só não se sabe em que ritmo.
Para prospectar intenções, a pesquisa Jovem x Automóvel conduzida por Lupércio
Thomaz, jornalista e diretor da rede social Campus Universitário, entrevistou
404 estudantes (51% homens e 48% mulheres) entre 18 e 25 anos, de São Paulo e
Ribeirão Preto. Uma das revelações foi de que 59% dos entrevistados ainda não
têm carteira de habilitação, mas entre esses 95% pretendem se habilitar,
demonstração de sensível diferença em relação às enquetes no exterior.
Curiosamente, o carro significa expressão de liberdade para 18% desses
universitários, enquanto 51% o consideram apenas meio de transporte. Para as
gerações do Século XX a resposta à mesma pergunta provavelmente teria proporção
invertida.
Outros dados interessantes da pesquisa:
• 69% declaram que utilizam pouco ou raramente carros em seus deslocamentos.
Ônibus (46%) e metrô (31%) são as alternativas mais citadas. Motocicleta 3% e
bicicleta 5%.
• 60% dão carona a quem estuda ou trabalha junto.
• 90% usariam menos o automóvel, se o transporte público fosse melhor.
• 77% aceitariam compartilhar um veículo, a exemplo de bicicletas.
• 73% não estariam dispostos a se endividar para ter um carro.
• Se tivessem R$ 50.000, apenas 13% comprariam um automóvel. Outras respostas:
intercâmbio cultural (18%), viagem de estudo (15%), pós-graduação (12%), cursos
complementares (11%), outra graduação (8%), turismo (7%) e outros projetos
(16%).
• Entre os que indicaram a preferência pelo carro, 53% são homens e 47%
mulheres.
Das conclusões que se podem tirar do estudo, há sentimento de diminuição de
prioridade do automóvel na vida dos jovens. Vontade de compartilhar e não se
endividar podem ser sinais de alerta tanto para fabricantes quanto
concessionárias sobre o futuro do negócio.
Mais negativo, porém, o fato de apenas 11% considerarem o carro como objeto de
desejo, enquanto 7% o apontam como fonte de poluição/barulho, 6%, vilão do meio
ambiente; 5%, estorvo para o trânsito; 2%, gerador de acidentes.
Por outro lado, objeto de desejo e expressão de liberdade somam 29%, contra 20%
de posições críticas. Também é necessário frisar que a pesquisa foi conduzida
em duas das maiores cidades do Estado mais desenvolvido do País. Em regiões com
taxa de motorização menor, o resultado certamente seria outro. Para sorte do
automóvel.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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