Alta Roda nº 867/217– 17
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Fernando Calmon |
O Inovar-Auto é
o exemplo puro de excesso de intervenção governamental em geral e na indústria
automobilística em particular. Pode ter havido intenção de fortalecer o setor
ao criar obstáculos para quem não produz localmente, mas a estratégia acabou
por produzir uma legislação complexa e difícil de implementar. O marco legal
começou em 2011 e incluiu incentivos para inovação. Foi preciso editar duas
leis, quatro portarias e um decreto ao longo de quatro anos para um programa
que teoricamente termina em 2017.
Apesar do viés protecionista e questionado por organismos internacionais,
sempre é bom lembrar que o México tem uma lei mais direta: só pode importar
quem produz localmente. Mas se sabe que o “jeitinho” mexicano também apareceu
por lá e o número de acordos comerciais multilaterais ajudou. Aos poucos atraiu
várias fabricantes – a última foi a Kia – para se tornar o maior produtor de
veículos da América Latina. Em razão da crise atual, o Brasil verá o México
(com o mercado dos Estados Unidos escancarado para eles) ainda mais à frente
por muitos anos, apesar de nosso grande mercado interno potencial.
Exigência de eficiência energética, embutida no Inovar-Auto, é realmente um
ponto indiscutivelmente positivo. Os fabricantes terão de demonstrar, a partir
de outubro de 2016, que atendem a meta mínima de redução de 12,08% no consumo
de etanol e gasolina sobre a média dos veículos à venda de cada marca, tendo
como referência 2011. As multas em caso de descumprimento são altíssimas e,
assim, todos deverão se ajustar.
Com a fase atual de preços altos de combustíveis, essa é boa vantagem para os
consumidores na hora de abastecer. Também exigirá das fábricas, especialmente
as que produzem modelos de maior porte (picapes e SUVs médios), um acerto fino
da produção para se manterem dentro da média obrigatória de economia. Vendas
adicionais de modelos menores terão de compensar eventuais desajustes. Talvez
signifique um crescimento na procura por motores de 1 litro de cilindrada.
Há um problema adicional nessa adequação. A indústria domina várias tecnologias
para menor consumo, mas tem de manter preço competitivo em momento de forte
recessão no mercado. A Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA)
apresentou um estudo recente, feito na Austrália, que compara os valores de
custo de cada recurso técnico com o respectivo potencial de economia de
combustível. A análise inclui não somente motores, mas itens de carroceria
(aerodinâmica, peso), acessórios (direção, pneus) e tipos de caixas de câmbio.
A pesquisa demonstra uma equação bastante complexa e cada fabricante monta um
verdadeiro quebra-cabeça. Considera o dólar australiano em R$ 2,67, a preço de
custo (sem impostos ou margem de lucro) e não de venda. Um veículo híbrido
consegue 45% de economia por menos de R$ 10.000. Um elétrico compacto economiza
100% de combustível, mas seu custo é de R$ 35.000 ou 250% mais caro de produzir
sem incentivo fiscal. Esta é uma das maiores dificuldades para aceitação do
carro elétrico.
A diferença de custo entre um motor turbo simples com 7% de economia e um turbo
com todos os recursos para economizar 20% chega a 450%.
RODA VIVA
FORD prepara ampliação da família de motores de
três cilindros no Brasil, segredo bem guardado. Inteiramente novo e batizado de
Dragon, tem 1,5 litro de cilindrada e se destaca pela economia. Estreia aqui
(sem versão turbo, de início) na renovação do EcoSport em novembro de 2016. Já
o motor de 1 litro turbo para o Fiesta deve sofrer atraso pelas condições
atuais.
SITE inglês just-auto.com antecipou: fabricante
indiano Mahindra acertou a compra de uma das casas de estilo mais importantes,
a Pininfarina. Nada de oficial ainda se anunciou. Ícone italiano do desenho
automobilístico (Ferrari e outras marcas), fundado em 1930, venderá 76% de seu
capital. Tata, também indiana, é dona da Jaguar Land Rover desde 2008.
RENAULT Duster Oroch começa a ultrapassar Montana para
garantir o terceiro lugar em venda entre as pequenas compactas. Espaço interno,
acesso por quatro portas e comportamento exemplar (suspensão traseira
independente) são pontos fortes. Motor 1,6 L até vai bem no uso urbano, mas o
de 2 L aproveita melhor todo seu potencial, apesar do consumo elevado.
SUPERDOSE de crossovers anunciada pela Chery. Além
do Tiggo 5 e sua geração anterior Tiggo 3 para produção em Jacareí (SP), a
marca chinesa também produzirá o Tiggo 1, baseado na arquitetura do compacto
Celer. Os planos são para 2016 e 2017. Antes, chega o subcompacto QQ em março
próximo. É preciso fôlego para manter uma linha tão diversificada.
LOBBY dos extintores de incêndio para automóveis
tenta reverter decisão correta tomada pelo Contran. Comissão de Viação e
Transporte da Câmara dos Deputados deu apoio ao decreto legislativo que traz de
volta os extintores sob argumento falacioso de 40.000 desempregados. Falta
passar por outra comissão e pelo Plenário. Assim, ainda há esperança de
rejeição.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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