Alta Roda nº 892/242– 09 /06 /2016
Fernando Calmon |
Persistência do povo japonês é conhecida. Que tal ter uma ideia
disruptiva, no já longínquo ano de 1997, começar as vendas apenas no Japão e,
inicialmente, enfrentar perdas de até US$ 10.000 (R$ 35.000) por unidade
comercializada? Pois assim começou a história do híbrido Prius. Apenas
300 unidades no ano de lançamento, quase 18.000 em 1998 e 15.000 em 1999,
segundo o site Wikipedia.
No Brasil o híbrido da Toyota chegou em 2013 e enfrentou taxação elevada. A marca absorveu impostos, desvalorização cambial e conseguiu vender o total de 783 unidades até abril último. Agora, na quarta geração, faz um relançamento do carro, ainda subsidiando seu preço, em versão única, por R$ 119.950. Há incentivos administrativos (isenção do rodízio na cidade de São Paulo), além de descontos no IPI e no IPVA (São Paulo e Rio de Janeiro).
Sua base modular TNGA (arquitetura Toyota de nova geração, em tradução livre)
também dará origem ao próximo Corolla, que estreia nos EUA em março de 2017 e
um ano depois no Brasil. O novo híbrido tem linhas futurísticas e até ousadas
demais na parte traseira. A carroceria ganhou em aerodinâmica (Cx 0,24 inferior
apenas ao novo Audi A4, Cx 0,23), ficou 2 cm mais baixa e há sensível melhoria
de visibilidade à frente graças à base do para-brisa 7 cm mais próxima do solo.
Espaço interno se assemelha ao do Corolla (igual entre-eixos de 2,70 m), mas o
porta-malas é raso e comporta 407 litros, ou 15% menos. Sob o banco traseiro
fica a bateria de níquel-hidreto metálico (versão de íons de lítio não será
importada). Além de dispensar motor de arranque, caixa de câmbio tradicional e
ser bastante econômico (18,9 km/l, cidade; 17 km/l, estrada), o Prius gerencia
de forma inteligente a potência combinada de 123 cv dos dois motores. A fábrica
afirma que a bateria alcança a mesma vida útil do carro em condições normais de
uso.
Como sempre arranca em modo elétrico e o motor a combustão é bem silencioso, cria
nova experiência ao volante. Claro, se o motorista acelera fundo, resta ao
motor elétrico apenas tirar o automóvel da inércia, porém nesta condição
apresenta eficiência bem maior. Ao pisar no freio regenera energia cinética
para recarregar a bateria. Efeito de freio motor acentuado pode se selecionar
por botão e, em teoria, melhora o consumo médio.
Foi muito fácil chegar a 20 km/l em trechos das vias expressas de Brasília,
apesar de a cidade se situar a 1.172 m de altitude, o que diminui a potência do
motor de ciclo Atkinson (patenteado em 1882) ideal para fazer par ao elétrico.
Suspensões estão calibradas para maior conforto, sem comprometer o
comportamento seguro em curvas.
O Prius custa 15% mais que um Corolla Altis, mas a diferença de consumo ajuda
quem roda muito.
RODA VIVA
ANFAVEA sinaliza que, consolidados os cinco primeiros
meses de 2016, as vendas diárias em torno de 8.000 unidades – já chegou a bater
15.000 veículos/dia há três anos – sinalizam o fundo do poço do mercado interno
brasileiro. Até o final do próximo semestre é possível uma pequena reação.
Ficará para 2017 o início do longo processo de recuperação do atual pesadelo.
TARDIAMENTE, a associação dos fabricantes revisou suas
previsões para 2016. Não mais uma queda de apenas 5% nas vendas e sim de 19%
sobre 2015, para 2,080 milhões de veículos. As exportações, com crescimento
expressivo de 21,5%, ajudarão a amortecer o mergulho da produção para menos
5,5% ou 2,3 milhões de unidades, mesmo nível de 12 anos atrás.
EXPRESSIVA percepção de solidez logo surge ao dirigir
um Subaru Outback 4x4. O crossover japonês (mais próximo a uma station wagon)
destaca-se ainda pelo motor boxer, 3,6 litros, de grande suavidade e respostas
firmes. Sintonia do rádio da central multimídia é confusa e freio de
estacionamento eletroassistido só tem funcionamento automático em declives.
FIAT espera um impulso nas vendas mornas do Mobi com a
chegada agora às lojas das versões “aventureiras” Way e Way On (topo de linha).
Além dos penduricalhos de praxe, o modelo ganhou mais 1,5 cm de altura livre do
solo, o que melhora o desempenho das suspensões em pisos esburacados e estradas
de terra. Preços de R$ 39.300 a 43.800 devem em competitividade.
APESAR de todas as dificuldades econômicas do País, a
XXII edição do Brazil Classics Show, em Araxá (MG), manteve a tradição do
encontro bienal de carros antigos do mais alto nível. Vencedor absoluto deste
ano é exemplar único e não exibido ao público anteriormente. Trata-se do
Lincoln K Coupé Le Baron, de 1936, com motor V-12, de propriedade de Rubio
Fernal.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
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