Wagner Gonzalez |
CORRIDA MORNA, INDÍCIOS QUENTES
Estratégias ousadas, abandonos mal explicados e manobras
mal concluídas não serviram para tornar a disputa do Grande Prêmio do Canadá
algo mais atraente do que um evento do Campeonato Mundial de Fórmula 1: foi uma
corrida morna com indícios quentes. Não se pode dizer que isso é culpa do clima
local: a transmissão de TV mostrou muita gente em manga (curta) de camisa
durante a prova. De qualquer forma, o que se pode concluir é que a competição
serviu para dar indícios mais quentes do que vem pela frente nos próximos dois
terços da atual temporada.
Apesar de ser verão no hemisfério norte, não é exagero
lembrar que o calor que a Ferrari ameaçou dar à Mercedes ficou mesmo na
promessa. Sebastian Vettel fez tudo que podia, desde assumir a ponta na largada
(foto de abertura)
até sair da pista na esperança de recuperar o tempo perdido em uma troca de
pneus que pouca gente, ou ninguém exceto Maurizio Arrivabene, saberá explicar.
No final das contas vale até dizer que foi um resultado ambientalmente correto:
duas gaivotas simplesmente ignoraram o Ferrari do alemão se aproximando e não
arredaram pena do “S” de baixa após a reta de largada. Ativistas de direitos
dos animais e fãs da F-1 já começaram a cobrar de Lewis Hamilton doações em
prol dos animais, afinal, isso ajudou o inglês a vencer com cinco segundos de
vantagem. Falando em resultados, aqui você tem todos os números dessa prova.
Se exatos 5”011 selaram a derrota de Vettel, o finlandês
Valteri Bottas cruzou a bandeirada mais de 40″ atrás do alemão e celebrou o
resultado como se fosse uma vitória. “Foi uma das minhas melhores corridas”,
declarou o finlandês em sua conta no Twitter. Mais do que seu segundo pódio
consecutivo em Montreal, sua atuação o coloca em alta no mercado de pilotos;
mesmo para um finlandês, acostumado com as baixas temperaturas do seu país, a
forma como a Williams impediu sua transferência para a Ferrari no ano passado
teve o efeito de uma ducha de gelada em sua carreira a ponto de afetar seu
desempenho.
Mais do que Bottas só mesmo Max Verstappen: o holandês se
impôs (mais uma vez) a Daniel Ricciardo e levou Nico Rosberg a uma disputa de
posição que certamente não constará da sua coletânea de melhores momentos, mas
que você pode ver
aqui. Se Verstappen sobe, Rosberg continua líder, mas viu sua zona
de conforto passar de conforto passar de uma cama king size para um beliche:
citando números, sua vantagem na liderança da temporada passou de 43 pontos
para apenas n-o-v-e… Para muitos, cenas daqueles filmes que passam em primeira
exibição na TV brasileira, ou seja, todo mundo já viu isso algumas vezes no
passado.
Desdobramentos dessa situação levam à renovação de seu
contrato com a Mercedes. A situação é tão crítica que Rosberg contratou um dos
negociadores mais hábeis em tal seara: Gerhard Berger. Sem nunca ter sido
campeão mundial, o austríaco sempre garantiu bons contratos com as cinco
equipes que defendeu: ATS (1984), Arrows (1985), Benetton (1986 e 1996/97),
Ferrari (1987/89 e 1993/95) e McLaren (1990/92). Rosberg quer renovação de três
temporadas, a Mercedes oferece apenas uma e, entre oferta e demanda, fala-se
que a Ferrari poderia ser seu destino, algo que creio ser pouco provável.
Correndo quase por fora, posto que a Manor não lhe entrega um carro com desempenho
dentro de padrões competitivos, está outro alemão, Pascal Wehrleim.
A Ferrari, aliás, é famosa por ter um coração de mãe,
embora nem sempre caiba mais alguém no seu plantel. Na atual gestação de novos
acordos fala-se em Valteri Bottas (mais uma vez), Daniel Ricciardo (idem…),
Romain Grosjean (veja aqui sua largada e primeiras voltas), Rosberg e até mesmo
Sérgio Perez, além de Kimi Räikkönen já ter dado sinais sóbrios de que quer
continuar onde está. Ocorre que os resultados tipo montanha russa do homem de
gelo não satisfazem a gestão de Maranello.
Seguindo os passos da Scuderia, a Renault começa a ser
destino de ouro de muitos nomes: Felipe Massa, Felipe Nasr e, graças a uma
declaração de Alain Prost, o espanhol Carlos Sainz. A dupla atual da equipe
francesa esta longe de corresponder aos anseios de uma equipe oficial: Kevin
Magnussen mostra-se arrojado demais e Jolyon Palmer tem toda a pinta de ser um
piloto ao nível do seu pai, Jonathan, que em 83 GPs e quatro não classificações
conseguiu um quarto, quatro quintos e dois sextos lugares. Assim, cresce a cada
volta as apostas de uma troca de pilotos digna do fornecedor de combustível
desse time, a francesa Total. Os brasileiros poderiam ser úteis aos interesses
da Renault no País, assim como Sainz: a Espanha é um dos maiores mercados da
marca francesa.
Tal qual Nico Rosberg, Kevin Magnussen e Jolyon Palmer,
quem também começa a pensar em procurar novos CEPs para 2017 são o russo Daniil
Kvyat, o inglês Jenson Button e mexicano Estebán Gutiérrez. Kvyat ainda não
digeriu ter sido trocado por Max Verstappen e, de um momento para outro,
começou a ser vinculado como provável nome na Williams, algo que só deve
acontecer na base de abrir portas a patrocinadores russos. A mesma equipe
estaria abrindo espaço para a volta de Jenson Button, que passou por lá no ano
2000; Button sabe que o belga Stoffel Vandoorne deve ocupar seu lugar no ano
que vem e já ensaia o discurso que quer um carro competitivo, que ainda se
sente motivado, que ainda ama o esporte, etc e tal. Gutiérrez ainda deve uma
atuação convincente para justificar sua manutenção na equipe Haas, caso
contrário será convidado a dar adiós à sua permanência na equipe
americana, onde Grosjean se consolidou como líder logo na primeira corrida.
É nesse panorama que caminha a humanidade da F-1 a
caminho do Azerbaijão, onde a temporada prossegue domingo com a disputa do GP
da Europa. Trata-se de um circuito de rua, digno da tradição de Monte Carlo
e, como mostra o
site do evento, uma refrescante mudança nos traçados artificiais e
megalômanos criados por Hermann Tylke.
Cassinos são proibidos no Azerbaijão, mas nada impede que
o resultado dessa primeira prova seja uma autêntica loteria, algo muito bem
vindo, pois vai embolar ainda mais um campeonato que começou com quatro
vitórias seguidas de Nico Rosberg.
Brasileiros em Le Mans
A lista de inscritos para a 24 Horas de Le Mans, que
larga neste sábado (18) às 15h00 locais/10h00 horário de Brasília, inclui
pilotos brasileiros em várias categorias e traz nomes que podem brilhar. Dos
seis inscritos o que apresenta melhor retrospecto em provas de resistência é o
jovem Pipo Derani, que este ano venceu a 24 Horas de Daytona e a 12 Horas de
Sebring e está em grande fase.
Suas chances de uma vitória na classificação
geral no circuito do departamento (o correspondente ao conceito de estado no
Brasil) de Sarthe são reduzidas: Derani disputa a classe LM P2, com um Ligier
JS P2 Nissan, onde também competem Bruno Senna (com um carro semelhante) e
Oswaldo Negri (chassi igual mas com motorização Honda). Na classe principal,
Lucas Di Grassi (Audi R18) e Nélson Piquet Jr. (Rebellion R One) são os
destaques,enquanto Fernando Rees volta a defender as cores da Aston Martin a
bordo de um modelo Vantage.
Um dos três maiores eventos do automobilismo mundial,
as 24 Horas de
Le Mans reúnem público estimado em torno de 350 mil pessoas
espalhadas em vilas de lazer onde são oferecidos espetáculos de música,
quermesse, circo e outros. Tal como nos últimos anos, Audi, Porsche e Toyota
dividem o favoritismo, com ligeira vantagem para a marca de Stuttgart, que
venceu em 2015.
WG
Nenhum comentário:
Postar um comentário