quinta-feira, 9 de março de 2017

Fernando Calmon - Alta Roda - Abre-te, sésamo

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Fernando Calmon
Comando por voz chegou ao automóvel de forma meio capenga. A novidade era interessante porque proporcionava uma forma mais natural de acessar funções, sem provocar distrações, desviar os olhos do caminho à frente e, portanto, com potencialidade de evitar acidentes. Entretanto, o sistema apresentava falhas. Além de se limitar a frases exatas, o reconhecimento de voz muitas vezes deixava a desejar. Era motivo de constante reclamação de motoristas nos EUA, onde a novidade começou a se expandir. 

Em um primeiro momento parecia fácil a solução. Bastaria reposicionar o microfone, porém isso desagradou os proprietários de carros que já tinham problemas, pois quase sempre a adaptação não era possível. As centrais multimídia precisavam também de reformulação e assim se adiava o problema para o ano-modelo seguinte. Mas sempre permaneciam limitações à necessária intuitividade. 

As coisas mudaram graças aos avanços recentes de empresas de informática. Segundo Kristin Kolodge, em relatório da J.D. Power que acaba de ser publicado nos EUA, “os dispositivos de reconhecimento de voz rapidamente transformaram-se na tecnologia que se espalha por toda a indústria e alcançou mais inovações nos últimos três anos do que nos últimos trinta”. 

Tudo graças aos assistentes pessoais virtuais introduzidos em casas e escritórios. Amazon Echo e Google Home tendem a cair no gosto por seu desempenho prático e confiável. Originalmente desenvolvidos para receber instruções verbais e regular a distância termostatos, acionar interruptores de luz, ativar sistemas de segurança, abrir e fechar portas de garagens, logo encontram aplicações em veículos para chamadas telefônicas, recebimento e envio de mensagens, instruções de navegação, buscas de pontos de interesse e controles de climatização. Sem falhas, sem complicações. 

Apesar de 28% dos consumidores, em pesquisa daquela consultoria, se declararem de alguma forma interessados ou muito interessados em utilizar em seus carros os sistemas originalmente desenvolvidos para fins domésticos, ainda há algumas dúvidas. Os céticos acreditam que o custo para se manter conectado é alto, há possibilidade de hackers descobrirem vulnerabilidades e que o motorista também pode se distrair ao usar comandos de voz. Sugerem até perda de privacidade sobre informações coletadas. 

Entretanto, mais modelos estão sendo oferecidos com estes novos recursos e há tendência clara de crescimento nos próximos anos. Compradores continuam bem interessados em conectividade, em especial na faixa de 18 a 34 anos. 

Para a indústria automobilística resta descobrir como administrar as duas opções agora em uso. Intenção é evitar problemas iniciais ocorridos quando o espelhamento de telefones celulares não era simultaneamente compatível com as centrais de multimídia. Android Auto ou Car Play funcionavam em alguns modelos e em outros, não. Hoje são dois sistemas consagrados de comandos por voz, porém podem vir outros. 

Livrar-se de botões, teclas, comandos manuais e sua distribuição desarmonizada entre os fabricantes de veículos são bons efeitos colaterais das novas tecnologias. 

RODA VIVA

VOLKSWAGEN fabricará o Polo no Brasil com a inteiramente nova arquitetura de ponta da plataforma MQB A0. Esta Coluna antecipa: começo de produção em 1º de julho e no mercado três meses depois. Lançamento quase simultâneo com o Polo europeu que estreia no Salão de Frankfurt, em setembro. Versão simples do Gol continuará em linha e receberá leve reestilização. 

MQB A0 será a base também para SUV, sedã e picape compactos com os quais a Volkswagen esperar recuperar a liderança do mercado brasileiro nos próximos dois anos. O sedã não se chamará Voyage, e sim Virtus. Início de sua produção está previsto para o final deste ano. As vendas começarão nos primeiros meses de 2018. SUV virá em seguida e, por último, nova Saveiro. 

MERCADO continua ruim, mas é preciso avaliar os números de fevereiro dessazonalizados: mês curto e carnaval. Referência melhor continua sendo vendas diárias. Fevereiro apontou crescimento não desprezível de quase 13% em relação a janeiro deste ano. Sobre uma base baixa é fácil crescer, certo. Pessimismo irracional, contudo, não ajuda nada. 

CONCRETIZADA a venda pela GM de sua subsidiária europeia Opel/Vauxhall para o Grupo PSA (Peugeot Citroën). Empresa americana afirma que é mais fácil ganhar dinheiro nos EUA e na China. Automóveis Chevrolet fabricados aqui desde 1968 eram todos de origem Opel com colaboração da engenharia brasileira: Opala, Chevette, Monza, Kadett, Omega, Corsa, Vectra, Astra, Celta, Zafira, Meriva e Agile. 

KIA SPORTAGE é exemplo da evolução da marca sul-coreana. Estilo marcante se junta ao ambiente interno de nítida inspiração alemã. Painel sóbrio tem tudo no lugar certo, materiais de boa qualidade e sem rasgos de modernismos. Banco do motorista tem 10 regulagens elétricas. Motor perdeu 11 cv de potência para diminuir consumo e isso dá para notar. 

PROJETO na Câmara dos Deputados cria a obrigatoriedade de motivação por escrito nas decisões dos julgamentos das autuações e penalidades de trânsito. Deve ficar esquecido nas comissões. Iniciativa do deputado Alberto Fraga (DEM-DF) esbarra na falta de estrutura das juntas de apelação. Motoristas ficam sem saber por que seu recurso foi indeferido. Lamentável. 


PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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