Alta Roda nº 981/281 – 09 /03 /2017
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Fernando Calmon |
Comando por voz chegou ao automóvel de forma meio
capenga. A novidade era interessante porque proporcionava uma forma mais
natural de acessar funções, sem provocar distrações, desviar os olhos do
caminho à frente e, portanto, com potencialidade de evitar acidentes.
Entretanto, o sistema apresentava falhas. Além de se limitar a frases exatas, o
reconhecimento de voz muitas vezes deixava a desejar. Era motivo de constante
reclamação de motoristas nos EUA, onde a novidade começou a se expandir.
Em um primeiro momento parecia fácil a solução. Bastaria reposicionar o
microfone, porém isso desagradou os proprietários de carros que já tinham
problemas, pois quase sempre a adaptação não era possível. As centrais
multimídia precisavam também de reformulação e assim se adiava o problema para
o ano-modelo seguinte. Mas sempre permaneciam limitações à necessária
intuitividade.
As coisas mudaram graças aos avanços recentes de empresas de informática.
Segundo Kristin Kolodge, em relatório da J.D. Power que acaba de ser publicado
nos EUA, “os dispositivos de reconhecimento de voz rapidamente transformaram-se
na tecnologia que se espalha por toda a indústria e alcançou mais inovações nos
últimos três anos do que nos últimos trinta”.
Tudo graças aos assistentes pessoais virtuais introduzidos em casas e
escritórios. Amazon Echo e Google Home tendem a cair no gosto por seu
desempenho prático e confiável. Originalmente desenvolvidos para receber
instruções verbais e regular a distância termostatos, acionar interruptores de
luz, ativar sistemas de segurança, abrir e fechar portas de garagens, logo
encontram aplicações em veículos para chamadas telefônicas, recebimento e envio
de mensagens, instruções de navegação, buscas de pontos de interesse e
controles de climatização. Sem falhas, sem complicações.
Apesar de 28% dos consumidores, em pesquisa daquela consultoria, se declararem
de alguma forma interessados ou muito interessados em utilizar em seus carros
os sistemas originalmente desenvolvidos para fins domésticos, ainda há algumas
dúvidas. Os céticos acreditam que o custo para se manter conectado é alto, há
possibilidade de hackers descobrirem vulnerabilidades e que o motorista também
pode se distrair ao usar comandos de voz. Sugerem até perda de privacidade
sobre informações coletadas.
Entretanto, mais modelos estão sendo oferecidos com estes novos recursos e há
tendência clara de crescimento nos próximos anos. Compradores continuam bem
interessados em conectividade, em especial na faixa de 18 a 34 anos.
Para a indústria automobilística resta descobrir como administrar as duas
opções agora em uso. Intenção é evitar problemas iniciais ocorridos quando o
espelhamento de telefones celulares não era simultaneamente compatível com as
centrais de multimídia. Android Auto ou Car Play funcionavam em alguns modelos
e em outros, não. Hoje são dois sistemas consagrados de comandos por voz, porém
podem vir outros.
Livrar-se de botões, teclas, comandos manuais e sua distribuição desarmonizada
entre os fabricantes de veículos são bons efeitos colaterais das novas
tecnologias.
RODA VIVA
VOLKSWAGEN fabricará o Polo no Brasil com a inteiramente nova arquitetura
de ponta da plataforma MQB A0. Esta Coluna antecipa: começo de produção em 1º
de julho e no mercado três meses depois. Lançamento quase simultâneo com o Polo
europeu que estreia no Salão de Frankfurt, em setembro. Versão simples do Gol
continuará em linha e receberá leve reestilização.
MQB A0 será a base também para SUV, sedã e picape compactos com os quais a
Volkswagen esperar recuperar a liderança do mercado brasileiro nos próximos
dois anos. O sedã não se chamará Voyage, e sim Virtus. Início de sua produção
está previsto para o final deste ano. As vendas começarão nos primeiros meses
de 2018. SUV virá em seguida e, por último, nova Saveiro.
MERCADO continua ruim, mas é preciso avaliar os números de fevereiro
dessazonalizados: mês curto e carnaval. Referência melhor continua sendo vendas
diárias. Fevereiro apontou crescimento não desprezível de quase 13% em relação
a janeiro deste ano. Sobre uma base baixa é fácil crescer, certo. Pessimismo
irracional, contudo, não ajuda nada.
CONCRETIZADA a venda pela GM de sua subsidiária europeia Opel/Vauxhall
para o Grupo PSA (Peugeot Citroën). Empresa americana afirma que é mais fácil
ganhar dinheiro nos EUA e na China. Automóveis Chevrolet fabricados aqui desde
1968 eram todos de origem Opel com colaboração da engenharia brasileira: Opala,
Chevette, Monza, Kadett, Omega, Corsa, Vectra, Astra, Celta, Zafira, Meriva e Agile.
KIA SPORTAGE é exemplo da evolução da marca sul-coreana. Estilo marcante
se junta ao ambiente interno de nítida inspiração alemã. Painel sóbrio tem tudo
no lugar certo, materiais de boa qualidade e sem rasgos de modernismos. Banco
do motorista tem 10 regulagens elétricas. Motor perdeu 11 cv de potência para
diminuir consumo e isso dá para notar.
PROJETO na Câmara dos Deputados cria a obrigatoriedade de motivação por
escrito nas decisões dos julgamentos das autuações e penalidades de trânsito.
Deve ficar esquecido nas comissões. Iniciativa do deputado Alberto Fraga
(DEM-DF) esbarra na falta de estrutura das juntas de apelação. Motoristas ficam
sem saber por que seu recurso foi indeferido. Lamentável.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
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