Alta Roda nº 987/337 – 05 /04 /2018
Fernando Calmon |
O lançamento do
Tiggo2, semana passada em Itupeva (SP), trouxe uma pequena surpresa. No palco,
durante a apresentação à imprensa, havia uma unidade azul com uma singela folha
de papel branco encobrindo pequena área do lado direito da traseira do
crossover/SUV sino-brasileiro.
Ao se retirar a folha, apareceu um novo logotipo, Caoa Chery (mesma tipologia),
que não estava em nenhum dos carros entregues para avaliação aos jornalistas.
O significado vai além do puro simbolismo. Afinal, estavam presentes para dar o
aval dois diretores chineses da Chery: o presidente, Anning Chen, e o
presidente de operações internacionais, Pan Yanlong. O grupo brasileiro havia
anunciado, em novembro do ano passado, que se tornou um fabricante de origem local
– o único, atualmente – ao comprar por US$ 63 milhões (R$ 200 milhões) 50% da
filial nacional da empresa fundada na China há apenas 16 anos.
É possível, se alcançada participação de mercado mais substancial, que os
modelos estampem apenas Caoa no futuro. Há caso semelhante na Índia, onde a
japonesa Suzuki utiliza também o nome local Maruti.
O País já teve marcas próprias. A primeira foi a Puma, especializada em
automóveis esporte. Também abrigou cerca de duas dezenas de pequenos
fabricantes de bugues, utilitários e carros esporte.
Focaram em produzir veículos com componentes mecânicos, na maior parte, de
origem VW. Gurgel foi mais longe ao projetar, além de utilitários, o próprio
motor de dois cilindros e o minicarro BR-800.
Todas acabaram sucumbindo por falta de capital, erros administrativos e
impossibilidade de competir com filiais de fabricantes consagrados no exterior.
Não se pode esquecer, ainda, que nos primórdios da indústria em 1956 havia uma
marca, Romi-Isetta, que combinava também um nome brasileiro e um
italiano.
Os planos da Caoa Chery são audaciosos. A empresa promete investir R$ 2 bilhões
nos próximos anos e aumentar a participação de mercado de 0,6%, em 2018 para
2%, em 2020. Até o fim deste ano o número de concessionárias saltará de atuais
25 para 55.
Há outros três lançamentos até o fim do ano, todos com produção local, mas de
baixo índice de localização. Fontes da Coluna indicam que, além do sedã Arrizo
5 (mesmo porte de VW Virtus e Honda City), estreará o Tiggo 4, SUV médio que
acaba ser lançado no Chile.
Serão produzidos ao lado do QQ e Tiggo 2, em Jacareí (SP), onde os Celler hatch
e sedã foram descontinuados. O Tiggo 7, SUV de maior porte, está reservado para
a fábrica da Caoa, em Anápolis (GO).
O atual Tiggo 2 evoluiu em termos de dirigibilidade, acabamento e qualidade de
montagem. Seus pontos altos: estilo mais refinado e o motor quatro-cilindros de
1,5 litro, 110/115 cv (gasolina/etanol). Distância entre eixos é de 2,55 m
(quase igual à do Polo, de 2,56 m). Ótimo porta-malas de 420 litros.
Apesar de ser o mais alto dos atuais SUVs compactos, suspensões dão conta do
recado. Mas há muito ruído aerodinâmico em estrada, isolamento acústico fraco
em velocidades mais altas e posição de guiar excessivamente elevada, que deixa
a alavanca do câmbio manual distante do motorista. Câmbio automático de quatro
marchas estará disponível em junho.
Preços de lançamento, entre R$ 55.900 e 66.490, ficam dentro do esperado.
RODA VIVA
DOIS acidentes letais recentes com Tesla S
e X semiautônomos, nos EUA, abriram os olhos dos órgãos de segurança de
trânsito. Há preocupação sobre motoristas que não reassumem o controle, mesmo
após avisos do sistema AutoPilot (nome infeliz ao sugerir piloto “automático”).
Poderá levar resistências à homologação do nível 3 de autonomia, como já ocorre
na Alemanha.
VOLKSWAGEN confirmou seu primeiro SUV produzido no
Brasil para a fábrica de São José dos Pinhais (PR), de onde também saem os Audi
A3 sedã e Q3, Golf e Fox. O T-Cross, segundo fonte da Coluna, terá arquitetura
do Virtus e início de produção em 1º de janeiro próximo. A empresa informou,
apenas, que estará à venda no primeiro semestre de 2019.
PORSCHE 911 GTS subiu de patamar ao trocar o
último motor aspirado (3,8 litros) por um turbo de 3 litros, 450 cv e nada
menos de 56,1 kgfm de torque. Respostas ao acelerador são imediatas,
praticamente sem atrasos dos antigos motores com turbocompressor. Decisão
acertada porque o 911 cresceu muito em dimensões e isso fica demonstrado pelo
habitáculo espaçoso.
HONDA decidiu começar a produzir seus automóveis
na nova fábrica de Itirapina (SP), a partir do início de 2019. Essa unidade,
que consumiu R$ 1 bilhão, está pronta e fechada desde abril de 2015. Receberá
paulatinamente toda a produção de Sumaré (SP). Fábrica mais antiga manterá
centro de engenharia e fornecerá motores e componentes à unidade mais
moderna.
FÁBRICA de motores da Ford em Taubaté (SP) começa
a produzir o equilibrado três-cilindros de 1,5 litro do EcoSport e, em breve,
também para o Ka Freestyle. Motor vem sendo importado da Índia, mas desde o
início previu-se a nacionalização. Demora ocorreu em razão de o governo de São
Paulo ter atrasado a devolução de créditos fiscais gerados por
exportações.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em
assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua
coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma
rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no
Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
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