terça-feira, 19 de agosto de 2014

Wagner Gonzalez em Conversa de pista


Tormenta em alto asfalto
Não é de ontem que a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) se vê envolta em denúncias e problemas, seja por intermédio de suas filiadas, seja por atos da sua diretoria. Matéria publicada pela revista Isto É no fim de semana foi desqualificada pela entidade, mas o clima entre os dirigentes parece fustigado por ventos uivantes

Nem deu tempo de investigar a fundo uma informação sobre os dissabores provocados pelos gastos do departamento jurídico da CBA, assunto que me foi passado em Goiânia, por ocasião da Corrida do Milhão. A fonte - com conhecimento de causa, interesses políticos e uma boa dose de idoneidade confirmada por conterrâneos sem ligações familiares, comerciais ou esportivas -, me confidenciou que tal departamento estava custando boas centenas de milhares de reais “mas que não havia recursos para investir no esporte”. Também pincelou deixas de que outros "mal feitos" estavam borbulhando. Assim, a matéria de Heloisa Borges que recheia a edição da revista Isto É que está nas bancas não me causou tanto espanto.

Efetivamente o índice de investimento da entidade no esporte só perde pela ausência quase total de ações de marketing e programas para honrar os compromissos cobrados pelos estatutos da entidade. O que surpreende é a pouca repercussão do assunto junto à grande imprensa e a passividade com que o tema é tratado até mesmo nos autódromos. Esta situação me leva a considerar duas possíveis explicações: ou há mais gente comprometida do que se supõe ou – mais provável -, quem faz automobilismo profissional e sério já não se importa mais com as  em prosa e verso cantadas mazelas que adornam a imagem dos cartolas do esporte.

Tudo culpa da legislação desportiva brasileira, documento arcaico e conservador a ponto de privilegiar o continuísmo e tolher da categoria mais numerosa dos praticantes do esporte o poder do voto. Para ser piloto o Brasil é necessário ao piloto filiar-se a um clube, que por sua vez elege com seus pares o presidente da Fau (como as federações estaduais são tratadas no jargão do esporte) correspondente ao seu Estado, e estes elegem a diretoria da CBA a cada quatro anos. Tente saber quantos pilotos já votaram em um nome para dirigir seus clubes e a fotografia ganhará foco absoluto e dispensará qualquer tipo de photoshop, seja o recurso licenciado ou comprado num shopping “ching-ling”.

Esta situação não é obra e graça da atual gestão da CBA, mas foi foi aperfeiçoada às vésperas da eleição que levou ao poder a atual diretoria. Dois pontos do episódio merecem destaque. Até então o poder de voto das federações era proporcional à atividade: mais categorias e modalidades significavam mais votos; antes do sufrágio o estatuto foi alterado para igualar federações como as do Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo às do Pará, Paraíba e Sergipe. As três primeiras concentram a maioria dos pilotos e clubes federados, as outras...

A outra lembrança é que, uma vez eleito por unanimidade em uma votação sem chapa de oposição, Cleyton Pinteiro insistia em lembrar que sua permanência no cargo terminaria ao final do mandato para o termo 2009/2012. Tal qual a balela de ter declarado a alguns jornalistas especializados que se acorrentaria aos portões de Jacarepaguá para evitar a destruição do autódromo, o pernambucano de alma carioca já está no sexto ano do seu assumido compromisso quadrienal...

Nesse período brotaram inúmeras categorias e tantas outras faliram; jamais foi cobrado dos novos organizadores o respaldo financeiro e organizacional para garantir ao projeto um período mínimo de existência que respeitasse o investimento feito por pilotos, equipes e empresários que aderissem às novidades. Graças a uma tendência de privilegiar sistemas monomarca, mono isto e mono aquilo, chegamos ao ponto em que a única categoria nacional realmente multimarca e com liberdade de trabalho para preparadores é a F-Truck. Poucas vezes o clima de insatisfação com os cartolas esteve tão alto e claro.

A matéria da Isto É destaca o trabalho de ex-correligionários do atual presidente e que alegam ter levado o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil a investigar gastos com cartões de crédito corporativo e outras despesas além da estrutura jurídica da entidade. A CBA divulgou nota oficial desqualificando a reportagem, que não chega ao âmago da questão: o corporativismo da classe política, algo que esbarra no conformismo e se instala na letargia. Obviamente não se deve generalizar e tampouco aplicar o princípio da unanimidade nessa lide, porém o número de cartolas que almejam um automobilismo sadio é bem menor que os dedicados ao continuísmo e pouco fazem para que o esporte cresça.

Pior é ver que categorias como o arrancadão de caminhões que recentemente teve uma vítima fatal em uma praia em Santa Catarina, ter o respaldo da Fau local apesar do seu regulamento ser um exemplo de maus exemplos; tentativas de acessar o site da entidade (www.fauesc.org.br) na tarde de ontem indicaram que a página está fora do ar. As poucas iniciativas que tem dado certo, como a Fórmula RS, no Rio Grande do Sul, cresceram por esforço local.

O que fazer? Há esperança? Esperança existe, há motivos para isso e o que deve ser feito é trabalhar sério e replicar no lado burocrático do esporte o progresso que equipes e pilotos conquistaram nas pistas e oficinas. Aumentar o número de pilotos filiados com a expedição de licenças para situações especiais – como aquelas para competidores que querem disputar uma única prova de regularidade off-road –, ou habilitar um piloto a correr na Nova Zelândia e cassar sua carteira depois de um investimento de muitos milhares de dólares – como ocorreu com Pedro Piquet no início do ano -, não é o que deve ser feito ou, muito menos, um sinal de esperança. Reaproximar-se das fábricas de automóveis e assumir os erros cometidos no passado pode ser um primeiro passo para começar a cumprir o prescrito pelo seu estatuto.

Stock, pneus e calendário 
A Stock Car prosseguiu sua temporada 2014 em grande estilo no último fim de semana: uma apresentação que lembrou os bons tempos do automobilismo popular e disputado num circuito que agrada público e pilotos. Reformado e reconstruído para ser adequado às exigências atuais, o Autódromo Zilmar Beux, em Cascavel (PR) ainda preserva boas arquibancadas naturais para o público e o traçado desafiador onde se destaca o temível Bacião, uma das curvas mais rápidas e desafiadoras do País.

Na corrida destaques para Rubens Barrichello, que ganhou a corrida de 40 minutos, e Marcos Gomes, que ao terminar em primeiro a segunda prova do dia conquistou a terceira vitória em quatro participações.Vale registrar as atuações do paranaense Júlio Campos e do gaúcho Vitor Genz. Campos foi consistentemente rápido em todas as sessões de treinos e largou na pole position. Liderava a competição quando escapou na saída da curva do Bacião e foi superado por Barrichello.

Novato na categoria, Genz fez o terceiro tempo na prova de classificação, conseguiu um sexto lugar na primeira bateria e era vice-líder na segunda até quebrar a manga de eixo dianteira esquerda quando faltavam duas voltas para o final. A pane mecânica no carro de Genz repetiu o ocorrido no carro de Ricardo Zonta durante os treinos e gerou preocupações: o item foi modificado para acomodar os pneus adotados este ano e não deveria falhar co tão pouco tempo de uso. No caso do carro do gaúcho a pane na manga aconteceu subitamente, sem qualquer indício prévio de fadiga.

O campeonato prossegue dia 31 com a sétima etapa a ser disputada no circuito completo (3.695 metros) de Curitiba (PR). 

Os resultados de Cascavel foram os seguintes; Primeira corrida: 1) Rubens Barrichello (Full Time Sports), 34 voltas em 41’14”398; 2) Júlio Campos (Prati-Mico's Racing), a 2s150; 3) Átila Abreu (Mobil Super Racing), a 2s634; 4) Cacá Bueno (Red Bull Racing), a 4s308; 5) Gabriel Casagrande (C2 Team), a 7s956; 6) Vitor Genz (Boettger Competições), a 8s041; 7) Sergio Jimenez (Voxx Racing Team), a 11s268; 8) Valdeno Brito (Shell Racing), a 11s842; 9) Marcos Gomes (Schin Racing Team), a 12s205; 10) Max Wilson (Eurofarma RC), a 13s101.

Segunda corrida: 1) Marcos Gomes (Schin Racing Team) 17 voltas em 21’17”952; 2) Valdeno Brito (Shell Racing), a 0s545 3) Max Wilson (Eurofarma RC) 0s794; 4) Sergio Jimenez (Voxx Racing Team), a 1s553; 5) Átila Abreu (Mobil Super Racing), a 2s757; 6) Popó Bueno (Shell Racing), a 3s674; 7) Antonio Pizzonia (Prati-Mico's Racing), a 5s776; 8) Felipe Lapenna (Hot Car Competições), a 8s062; 9) Thiago Camilo (Ipiranga-RCM), a 8s231; 10) Tuka Rocha (RZ Motorsport) 10s625.

Situação no Campeonato - Pilotos: 1) Átila Abreu, 104 pontos; 2) Rubens Barrichello e Sérgio Jimenez, 93; 4) Marcos Gomes e Júlio Campos, 91. Equipes: 1) Prati Mico’s Racing, 165 pontos; 2)Full Time Sports, 149; 3) Voxx Racing, 142.

Informações que circularam nos boxes em Cascavel dão conta que a cidade de ribeirão Preto, que aparece no calendário oficial como penúltima etapa no dia 15 de novembro, poderá não acontecer. Negociações para definir sua substituição estão em andamento.

F1 volta de férias com novidades
Após um período de férias a F-1 volta à ativa neste fim de semana com a disputa do Grande Prêmio da Bélgica, em Spa Francorchamps, na região das Ardenhas, próximo à cidade de Liége. Um dos últimos remanescentes da época da criação da categoria, em 1950, o traçado usa estradas públicas e permite uma das médias de velocidade mais altas da temporada, em torno dos 235 km/h, com máxima superior a 320 km/h. Desempenho da equipe Mercedes à parte, tais características poderão facilitar o trabalho das equipes Williams e McLaren, cujos modelos 2014 se destacam pela velocidade de ponta. Spa permite que se percorra 5040 metros (72%) do seu percurso com o acelerador a pleno e sua reta principal mede nada menos que 2.015 metros.

Além da introdução de novas soluções aerodinâmicas, apropriadas para Spa e Monza, a corrida seguinte, há novidades entre os pilotos: Kamui Kobaiashi deve dar lugar ao alemão André Lotterer na equipe Caterham e o francês Jean-Eric Vergne inicia os treinos ciente que não continuará na equipe Toro Rosso em 2015: para seu lugar já foi anunciado o holandês Max Verstappen, que tem 16 anos (nasceu aos 30 de setembro de 1997) e atualmente disputa a F-3 européia. Concretizada sua estréia na próxima temporada, Verstappen será o piloto mais jovem a disputar um GP em todos os tempos.


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