Alta Roda nº799/149 – 28/08/2014
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Fernando Calmon |
Dois lançamentos no mesmo
dia, do mesmo fabricante, é incomum, mas em mercado recessivo e de muita
concorrência pode ocorrer, como aconteceu com o hatch de teto alto Fox 2015 e a
cabine dupla da picape compacta Saveiro (esta, na realidade, só chega às lojas
em três semanas).
Comparar preços continua sendo missão difícil
porque os carros vão ficando mais completos e caros, porém o que é
acrescentado, em geral, tem repasse inferior ao custo real em razão da forte
competição. O Fox com motor de 1 litro agora parte de R$ 35.900 (modelo 2014
custa apenas cerca de R$ 500 a menos, ar-condicionado também opcional), mas
recebeu, além de uma atualização externa e interna inspirada no Golf, novos
equipamentos como direção eletroassistida com volante regulável em altura e
distância.
A estratégia da VW reposicionou o modelo para cima
em razão do fim de produção do Polo, antes do final do ano. Explica recursos
antes indisponíveis, entre eles controle eletrônico de
estabilidade/tração/partida em rampa, sensores de estacionamento dianteiro e
traseiro, sistema de navegação com tela tátil e inédito farol de neblina com
luz de conversão. Oferece, ainda, o novo motor 1.6 l/120 cv (etanol), de duplo
comando multiválvulas, e câmbio de seis marchas, conjunto realmente bastante superior
ao atual (ainda aplicado nas versões mais acessíveis). Em viagem de avaliação
impressionou pela suavidade, respostas em baixos regimes e silêncio a bordo.
Com todos os opcionais possíveis um Fox supera os
R$ 63.000. E daí? Representará apenas 1% ou 2% das vendas, se tanto, da mesma
forma que bem poucos vão comprá-lo sem ar-condicionado. Antes havia um
intervalo de no máximo 50% entre os preços das versões de entrada e de topo, na
maioria dos modelos. Agora, pode ir além de 70%, o que indica direito de livre
escolha do mercado.
Na briga entre cabines duplas Saveiro versus
Strada, a comparação é mais complicada. Acrescentar a terceira porta teve custo
elevado para a Fiat, cuja versão de topo passa dos R$ 70.000, preço superior ao
de picapes médias. Saveiro começa em R$ 47.500 e a versão Cross vai a R$ 63.000
(34% de diferença). Enquanto a Fiat pode ter motor mais potente (1,8 l/132 cv),
a picape da VW é superior no uso fora de estrada, inclusive com freio ABS
específico e controles de tração/partida em rampa/estabilidade. Seu bloqueio
eletrônico do diferencial é muito mais eficaz nessas condições do que o sistema
eletromecânico da rival, que obriga o motorista a parar e apertar um botão,
além de inoperante acima de 20 km/h.
Apesar de a Strada ser mais larga externamente
graças aos penduricalhos, ela é oito cm mais estreita no banco traseiro e foi
homologada para apenas dois passageiros atrás. A Saveiro pode levar três, desde
que sejam crianças ou pessoas de baixa estatura e não robustas. Tem pequena vantagem
no espaço para joelhos e na inclinação do encosto do banco traseiro. Apesar de
suas portas dianteiras maiores, é incomparável a facilidade de acesso da rival.
A picape da VW peca por nem ao menos dispor de um conjunto corrediço nos bancos
dianteiros. As caçambas de ambas apresentam o mesmo volume de 580 litros, mas o
estepe da Saveiro é embutido. Plano de manutenção da VW, a cada seis meses
apenas, deixa seus produtos em desvantagem financeira frente aos concorrentes.
RODA VIVA
FORD pretende ampliar a faixa de atuação do Ka, antes
mesmo da GM definir sua nova família de modelos de entrada. Há espaço abaixo de
R$ 35.000 e acima de R$ 45.000. No segundo caso com o motor de 1,6 l/130 cv do
Fiesta ou de 1 litro/3 cilindros com turbo e injeção direta (EcoBoost), numa
versão esportiva.
PAÍSES da
América do Sul, fora do Mercosul, estão nos planos para aumentar as exportações
brasileiras de veículos, hoje dependentes da Argentina. Exige acordos entre
governos a fim de diminuir tarifas de importação. Para funcionar, o Brasil
teria que importar mais rosas colombianas e bananas equatorianas, por exemplo.
SANDERO subiu
alguns degraus em dirigibilidade, acabamento e estilo nessa nova geração. Por
seu preço muito competitivo ainda deve em maciez de direção e comando do
câmbio, mas espaço interno é referência no segmento. Motor de 1 litro/80 cv,
pouco para seu porte, é econômico. O de 1,6 litro/106 cv demonstra melhor
equilíbrio desempenho/consumo.
PEUGEOT 208
foi bem no teste de impacto frontal do Latin NCAP: quatro estrelas.
Estruturalmente é igual ao modelo homônimo francês, mas o modo de pontuação
continua discutível e baseado em premissas irreais para mercados de menor poder
aquisitivo. Serve apenas como referência comparativa, pois Onix e Palio
alcançaram três estrelas.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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