Alta Roda nº 865/215– 03 /12 /2015
A
forte queda de vendas de veículos novos este ano, que ficará entre 22% e 25% em
relação a 2014, não se deve apenas ao clima de insegurança gerada pelas crises
política e econômica (uma autoalimenta a outra). Veio também de uma conjugação
de fatores herdada de tempos recentes. Da mesma forma que os financiamentos
foram facilitados nos tempos de aumento de poder aquisitivo, agora estão mais
restritos mesmo para aqueles que aparentemente oferecem baixo risco para bancos
e instituições de crédito.
Os erros cometidos na condução da macroeconomia ao longo dos últimos cinco anos
mais ou cedo ou mais tarde acabariam se refletindo em forma de aumento de
inflação e aprofundamento da recessão. Sustentar vendas por meio de reduções
temporárias de impostos se esgotou. Cria o indesejável efeito sanfona. As
indústrias automobilística e de eletrodomésticos demoraram a perceber que o
movimento de antecipação de compras cobraria alto ônus adiante. Ninguém pensou
que ia dar errado, mas deu.
O consumidor reagiu indo em direção ao carro seminovo, assim considerado
aqueles com até três anos de uso. Seu preço ficou atraente porque a
desvalorização normal se deu a partir da referência de IPI reduzido e de antes
do aumento de custos com os itens de segurança obrigatórios (airbags e ABS). No
primeiro semestre deste ano pela primeira vez o número de veículos seminovos
financiados ultrapassou o de novos.
Neste fim de 2015, porém, essa válvula de escape travou. Em outubro, a venda
total de seminovos, usados jovens (quatro a sete anos), usados veteranos (oito
a onze anos) e velhinhos (12 anos ou mais) recuou 9% em relação a setembro. É
possível que a única boa notícia do ano – comercialização de usados em alta
sobre 2014 – nem se confirme.
Ajudaria a oxigenar o mercado se o sistema de consórcio fosse alterado. O
estoque de cotas contempladas sem que o consorciado retire o bem para o qual se
inscreveu acaba gerando distorções. No passado havia um prazo de três meses
para o interessado decidir o que comprar. Essa obrigatoriedade foi revogada em
tempos de congelamento de preços, há 20 anos, quando um carro usado chegou a
ser mais caro que um novo em razão de planos econômicos heterodoxos sempre
fracassados.
O consórcio hoje se tornou mais um instrumento de poupança paralela, sem nenhuma
ação de equilíbrio entre tempos bons e bicudos da produção de bens. Não comprar
nada significa um bom investimento com correção garantida e baixo risco. Por
isso bancos de varejo passaram a atuar neste segmento de olho na polpuda taxa
de administração.
Devolver uma cota contemplada, depois de noventa dias, para uma nova rodada de
sorteio e lance pode melhorar sensivelmente a mecânica de funcionamento de
consórcios. Se alguém não está com pressa ou não pode comprar no momento o seu
veículo novo ou usado, que ceda a vez a outro que aguarda a oportunidade muitas
vezes com ansiedade para ter acesso ao bem. O direito do consorciado que abriu
mão de sua contemplação seria naturalmente restabelecido, pois voltaria a
concorrer em novo sorteio.
Uma mudança da regra atual poderia aquecer a economia, sem gerar efeitos
colaterais ruins no combate à inflação.
RODA VIVA
PRIMEIRA renovação em cinco anos do Citroën Aircross,
principalmente grade e faróis, acrescentou versão de entrada por R$ 49.990 sem
estepe externo. Conforme esta coluna adiantou, o monovolume C3 Picasso parou.
Motor flex de 1,5 L/93 cv (etanol) ainda mantém partida a frio auxiliada por
gasolina. Com motor de 1.6 L/122 cv e câmbio automático sai a R$ 58.900.
AIRCROSS evoluiu em economia de combustível porque
está até 45 kg mais leve, utiliza agora direção eletroassistida, pneus verdes e
diferencial alongado em 5% para alcançar nota A no programa de etiquetagem
veicular. Tela multimídia de 7 polegadas e câmera de ré estão na versão de topo
por R$ 69.290. Suspensões recalibradas melhoram a dirigibilidade e o conforto
de marcha.
OITAVA geração do Passat acaba de chegar. Estilo segue
a escola evolutiva da marca, porém sua estrutura está mais rígida. Motor de 2
litros, turbo, sistema de injeção dupla, 220 cv/35,7 kgf.m e câmbio
automatizado de 6 marchas formam um conjunto instigante e eficiente. Bom espaço
atrás. Impostos empurram preço para R$ 144.500.
PERUA Mini Clubman Cooper S é pouco fotogênica.
Precisa ser vista ao vivo para se mudar de opinião e entender sua proposta
alternativa aos SUVs e crossovers atuais. Dimensões internas estão entre os
pontos altos, mas o porta-malas de 360 litros fica no limite do aceitável.
Motor 2 litros turbo de 192 cv garante agilidade. Suspensão é dura como o preço
de R$ 179.950.
ENTRE as surpreendentes mudanças de comportamento no
mercado brasileiro está a escolha do câmbio automático. Peugeot, em campanha
por tempo limitado, oferece essa opção sem custo, equivalente a um desconto em
torno de R$ 4.000. No site de classificados Webmotors a oferta de veículos com
câmbio automático cresceu 30% em um ano.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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