Alta Roda nº 950/300
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Fernando Calmon |
Pode parecer estranho o título desta coluna
coincidir com o de uma novela televisiva atual. Foi proposital porque neste mês
de julho as notícias eletrizantes sobre a invasão de carros elétricos no mundo
se sucederam, como os capítulos dos populares folhetins noturnos de TV.
Primeiro foi o estudo divulgado pela equipe especializada em transportes da
Bloomberg New Energy Finance (BNEF), empresa de pesquisa que tem acompanhado a
evolução do assunto. O relatório chama a atenção para reduções importantes no
preço das baterias de íons de lítio que tornarão os elétricos tão baratos como
os convencionais.
Fala também em cerca de 700 mil veículos leves desse tipo vendidos em todo o
mundo em 2016. A equipe agora estima que os elétricos representem 54% de todas
as vendas mundiais de automóveis até 2040.
Em seguida, a Volvo pegou a onda e seu presidente afirmou que depois de 2019
todos os novos projetos dos modelos da marca terão motores elétricos. Passou
pouco mais de uma semana e foi a vez de o governo francês anunciar o objetivo
de em 2040 banir a venda em todo o seu território de carros equipados com
motores a combustão (diesel ou gasolina).
Ao mesmo tempo o elétrico Tesla 3 saía da linha de montagem nos Estados Unidos,
primeiro “popular” da marca. Seus modelos atuais custam em torno de US$ 100
mil, mais que o dobro de um modelo convencional (o “popular” também), mesmo com
incentivos governamentais em dinheiro aos compradores.
Todo esse enredo, porém, precisa ser mais bem explicado. Afinal, novela é peça
de ficção, algumas até inspiradas em fatos da vida real. Apesar de todo o
respeito pela BNEF, certas afirmações estão incompletas. É muito comum somar,
sem informar, híbridos (de motor a combustão e elétrico, recarregável ou não em
tomadas) e elétricos puros. Aquelas 700 mil unidades incluem os dois tipos e
representaram menos de 1% do que se vendeu no mundo no ano passado.
Passar a 54% em apenas 23 anos é grande exercício de otimismo. O preço das
baterias já caiu e continuará a cair, como está no relatório. Mas elas terão de
ser substituídas e recicladas depois de dez anos a um preço que ninguém sabe.
Isso não aparece no relatório, e deveria.
Volvo pertence à chinesa Geely, fabricante de veículos de capital privado, que
deve se enquadrar nas orientações do governo do país oriental. Antes de 2025 o
ciclo de modelos atuais da marca sueca não se encerrará e não foi dito se
híbridos conviverão com elétricos.
Já o governo francês se enquadra muito bem no título da novela. As intenções
são nobres, sem dúvida. Trata-se de um país onde quase toda a eletricidade vem
da energia nuclear, mas faltou explicar a que custo a infraestrutura de recarga
será implantada. E, novamente, como reciclar milhões de baterias que sairão dos
carros ainda com 20% de energia residual. Podem em parte ser usadas em “bancos
de energia”, mas depois a reciclagem terá de vir. Também falta saber se o lítio
se manterá a preço estável ou haverá nova dependência mundial: em vez de óleo,
metal...
A maioria das novelas mostra um final feliz. O carro elétrico também?
RODA VIVA
INDEPENDENTEMENTE da maré elétrica de otimismo,
motor diesel pode ver sua aplicação restringida em automóveis na Europa. Há
movimentos fortes em algumas cidades e países para forçar a indústria a uma
atualização da frota circulante. Daimler, pressionada na Alemanha, convocará 3
milhões de veículos a diesel usados depois de alegar que não tinham
problemas.
PORSCHE, por sua vez, admitiu agora que até o fim desta
década decidirá se continuará a oferecer motores a diesel nos SUVs e no sedã
Panamera. Marca tem apenas 15% de vendas mundiais com essa motorização e pode
substituí-la por híbridos a gasolina. Também investe em um sedã totalmente
elétrico. Para 2025, estima que entre 25% e 35% da sua produção será de
elétricos.
APLIQUES ajuizados e altura de rodagem elevada em
3,1 cm fazem do Ford Ka Trail um produto adequado na faixa dos pseudoaventureiros.
Enfrenta quebra-molas, valetas e buraqueira sem comprometer de forma
preocupante o comportamento em curvas. Retoques no habitáculo são discretos.
Motor de 1 litro e 3 cilindros permite ter preço competitivo.
PEUGEOT acaba de anunciar iniciativas de peso na
prestação de serviços da sua rede de concessionárias para reconquistar mercado.
Revisão em 24 horas (se atrasar, cliente não paga); empréstimo de veículo
quando o reparo ultrapassar quatro dias, mesmo em casos fora da garantia;
reboque gratuito por oito anos, em eventos de pane ou colisão. Exemplo a ser
seguido.
PRÊMIO Inovação Brasil, do jornal Valor Econômico,
demonstra que parte da indústria de autopeças continua a investir em pesquisa e
desenvolvimento no País. Na edição deste ano, a Mahle Metal Leve apareceu
novamente na segunda posição no ranking de empresas automobilísticas. Possui
140 patentes ativas e seu Centro Tecnológico de Jundiaí (SP) gera uma média de
20 depósitos por ano.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmo fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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