terça-feira, 3 de dezembro de 2019

WAGNER GONZALEZ em Conversa de pista

Wagner Gonzalez

Boesel no Hall da Fama e Interlagos fora do WEC

Automobilismo brasileiro vive momentos antagônicos

No mesmo dia em que a Federação Internacional do Automóvel (FIA) homenageou o paranaense Raul Boesel (foto de abertura/Embrashow) por sua vitória no Campeonato Mundial de Resistência de 1987, os
atuais organizadores desse evento anunciaram, ontem, o cancelamento da etapa brasileira que estava prevista para acontecer dia 1º de fevereiro em Interlagos.

A falta de garantias financeiras foi a razão para tal medida, algo que já era comentado entre as equipes desde a etapa de Shangai, disputada dia 10 de novembro. A exclusão da etapa brasileira afeta o automobilismo brasileiro por se tratar da terceira oportunidade que etapas de campeonatos internacionais no Brasil são anunciadas e canceladas.

Raul Boesel foi o único brasileiro presente na festa, que inclui todos os campeões mundiais da categoria Endurance das temporadas de 1981 até 1992 (Então conhecido como Campeonato Mundial de Carros Esporte) e de 2012 até 2018/2019. Na temporada de 1987 Boesel disputou todas as 10 etapas do campeonato pela equipe oficial da Jaguar, e venceu as etapas de Jerez, Silverstone, Nürburgring (em dupla com o norte-americano Eddie Cheever), Brands Hatch (com o dinamarquês John Nielsen) e Spa-Francorchamps(com o inglês Martin Brundle e o escocês Johnny Dumfries), totalizando 127 pontos contra 102 da dupla Jan Lammers (Holanda) e John Watson (Irlanda). Boesel também disputou 23 GPs de F-1 nas temporadas de 1982/83.

Na América do Norte largou em 199 corridas das fórmulas Indy e Cart e conseguiu um terceiro lugar nas 500 Milhas de Indianapolis, em 1989; seu melhor resultado nos Estados Unidos foi a vitória nas 24 Horas de Daytona de 1991 a bordo de um Jaguar XJR-9 compartido com Martin Brundle e John Nielsen. Atualmente Boesel é um renomado DJ internacional e participa de eventos em várias cidades do mundo.

CBA e promotor evitam comentar cancelamento
Tanto a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), quanto a Duduch Motorsports, promotora do evento “6 Horas de Interlagos”, evitaram comentar e responder questões sobre o cancelamento da prova, anunciada com pompa e circunstância há cerca de ano e meio como etapa brasileira do Campeonato Mundial de Resistência, mais conhecido como WEC. Tal cenário em nada contribui para esclarecer uma situação que traz danos variados ao automobilismo brasileiro aqui e no Exterior: nos últimos anos a F-Indy já foi anunciada e cancelada em São Paulo e em Brasília e a capital paulista e o Rio apareceram no calendário oficial da F-E e tiveram desfecho idêntico. Pior, autoridades cariocas insistem em anunciar que o GP do Brasil de F-1 deverá ir para o Rio em 2021, assim como o Campeonato Mundial de Motociclismo terá uma etapa no ainda inexistente Autódromo de Deodoro. Questionado sobre a forma como apoiou o evento do WEC e se pretende impor alguma exigência ou medida para evitar que tais cancelamentos se repitam, o presidente da CBA, Valdner Bernardo, optou por responder, via sua assessoria, escolheu desprezar a oportunidade de esclarecer o tema como se conclui ao ler sua resposta:

“A Confederação Brasileira de Automobilismo lamenta o cancelamento da etapa do Mundial de Endurance que aconteceria em São Paulo. Desde que fomos procurados pelo promotor local, ainda em 2017, acompanhamos o processo e prestamos todo o apoio esportivo, que é o que cabe à CBA em face ao evento privado. A presença de uma prova com essa atratividade seria um grande acontecimento para os apaixonados por esporte a motor. Esperamos que os obstáculos que impediram a vinda do WEC ao Brasil sejam ultrapassados e que, em um futuro breve, possamos receber essa tão importante categoria do automobilismo mundial.”

Tal posicionamento parece inadequado ao que consta no parágrafo D, artigo 6º do seu estatuto (“promover, autorizar e fiscalizar a realização de campeonatos e torneios desportivos nacionais e internacionais), entre outros. Independente do resultado obtido no apoio que presta ao kartismo, não há motivo para tratar com indiferença fatos que contribuem para prejudicar a imagem do esporte frente a organizadores internacionais e potenciais investidores do esporte. Deixar de se posicionar claramente sobre o cancelamento de um evento internacional dois meses antes de sua realização ajudaria muito a entidade a recuperar sua própria imagem em um momento em que circulam rumores sobre a possível perda de sua sede própria devido a operações financeiras questionadas na Justiça.

Outra curiosidade sobre o anúncio do cancelamento da prova 6 Horas de Interlagos foi a maneira como a decisão foi divulgada: o comunicado de imprensa sobre o assunto foi divulgado por uma agência que chegou a interromper sua prestação de serviços ao promotor do evento. Questionada sobre os motivos que levaram Gérard Neveu (CEO do Campeonato Mundial de Resistência da FIA) a rejeitar as garantias financeiras oferecidas e cancelar a prova, a agência Néctar respondeu com um lacônico “Neste momento, não temos informações adicionais ao comunicado (sic)”.

Dois outros pontos deixam claro que o cancelamento da corrida em Interlagos não era algo novo. Em reunião com as equipes participantes do WEC durante a etapa de Xangai, há cerca de um mês, Neveu admitiu as dificuldades que a Duduch Motorsports enfrentava e em seu comunicado de ontem anunciou um evento que substituirá a prova brasileira na temporada 2019/2020 da categoria, a Lone Star Le Mans, dias 22 e 23 de fevereiro, no Circuito das Americas, em Austin, Texas. Posto que um evento dessa magnitude demanda organização logística e negociações extensas, fica evidente que o destino da “6 Horas de Interlagos” já estava selado há tempos. Independente do esforço e do investimento despendidos pela empresa Duduch Motorsports é primordial que promotores e autoridades do automobilismo brasileiro atuem de forma a interromper uma lamentável frequência de cancelamentos de eventos internacionais.

Um comentário:

  1. Pois é Wagner; nós conhecemos bem os meandros tortuosos que sempre colocam obstáculos intransponiveis na elaboração e realização de eventos dessa magnitude. Nunca se sabe se tem o dedinho de quem quer ocupar a área do autódromo para fins não dirigidos ao esporte , ou simplesmente uma quadrilha interessada nos "advances" necessarios para a viabilização do evento. Sem dinheiro - um belo punhado na frente, a coisa não anda, e quem é que vai assinar o papagaio de garantia, considerando a reputação dos envolvidos. ? Dificil e frustrante acompanhar isso tudo.... Só não podemos desistir. Abs

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