Quase superada a batalha contra emissões de gases tóxicos
(monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e hidrocarbonetos), que se aproximam
de zero, a indústria automobilística mundial enfrenta desafio ainda maior. O
inimigo a bater é o dióxido de carbono (CO2), um dos precursores do
efeito estufa e de possíveis mudanças climáticas. Único meio de combatê-lo é
diminuir o consumo de combustíveis de origem fóssil (diesel, gasolina e gás).
Quem já leu a ficha técnica de um modelo europeu deve ter
ficado maravilhado com os dados de economia de combustível, quando comparados
ao de motores feitos no Brasil. Se analisados de forma adequada, há importantes
ressalvas, a começar pela gasolina, bem diferente quanto ao teor de etanol (lá
no máximo 10% e aqui até 27,5%). Isso implica em diferentes poderes caloríficos,
mas não é o principal fator.
Deve-se atentar ao NEDC (sigla em inglês para Novo Ciclo
Europeu ao Guiar), considerado bastante “camarada” em termos de consumo medido
em laboratório. No Brasil, NBR 7022 se baseia no ciclo americano US 75, mais
rigoroso. Há quatro anos o Inmetro (responsável pela etiquetagem veicular brasileira
de eficiência energética) seguiu o mesmo critério da EPA (Agência de Proteção
Ambiental, dos EUA) e introduziu um fator de correção a fim de aproximar as
referências de laboratório ao mundo real. Hoje, diferenças entre teórico e prático
são mínimas.
Na Europa, porém, essa discrepância é bem maior desde que
o NEDC surgiu em 2008. O grupo de lobby “verde” Meio Ambiente & Transporte
fez reclamações públicas sobre o exagero de alguns fabricantes ao divulgar
números de consumo em laboratório otimistas em demasia. Segundo a entidade, em
certos casos a diferença atinge até 50% e o motorista dispenderia 500 euros (R$
1.600) extras com combustível por ano, na vida real.
Tais falhas se corrigirão em 2017 ao surgir o WLTP (Procedimento
de Teste Universal para Veículos Leves, em tradução livre do inglês). Desencadeará
esforços adicionais para conter o consumo e, dessa vez, a aerodinâmica cumprirá
papel mais preponderante.
Para se ter ideia, se o Cx (coeficiente de forma
aerodinâmica) diminuísse de 0,32 para 0,20 nos novos modelos, emissões de CO2
cairiam até 20% e gasto de combustível na mesma proporção. Tendência já
apareceu em protótipos, como VW XL Sport (foto) e Renault Eolab, no recente
Salão do Automóvel de Paris. Podem-se prever carrocerias com foco no fluxo de
ar – limitando a criatividade dos desenhistas –, pneus e rodas estreitos, além
de expansão da chamada aerodinâmica ativa que altera certas superfícies com o
aumento da velocidade, de grande utilidade em estradas, mas também em percursos
urbanos.
Entre as modificações está o fim dos espelhos
retrovisores externos, a exemplo daqueles dois modelos. Pequenas câmeras assumirão
essa função, com eficiência adicional em visibilidade e segurança. Será
possível graças à constante queda de preços das telas digitais, na esteira da
popularização dos sistemas multimídias, que depois dos automóveis grandes invadiram
os painéis frontais de modelos médios e até de compactos.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
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