Alta Roda nº834/184– 30/04/2015
Fernando Calmon |
Com
a perspectiva de aprofundamento da crise de vendas neste
ano, várias ações criativas estão em curso. Todo o elenco de estratégias –
desde a “troca com troco” até os intermináveis feirões – foi sacado numa
tentativa de animar o comprador a entrar na loja e sair com um carro zero-quilômetro.
Apenas o mercado de veículos usados conseguiu uma reação – previsível – depois
de anos de apatia e queda de preços. Há clara tendência de valorização do usado
e movimentação de trocar um modelo mais antigo por um menos antigo ou mesmo
seminovo (até cinco anos de fabricação pelo entendimento geral). A maioria das
concessionárias vem tomando ações proativas para ter mais relevância neste
mercado. Em suas entrevistas coletivas mensais a Anfavea tem citado com
frequência as estatísticas da Fenauto, associação dos lojistas independentes
que tem forte presença na compra e venda de veículos usados inclusive na
formação de preços.
Agora as atenções se voltam ao consórcio, por duplo motivo: oferta menor (e a
juros maiores) de crédito e estoque de cotas contempladas que não se
transformaram em vendas efetivas. A indústria automobilística sempre viu com
bons olhos o crescimento desta modalidade ao garantir uma demanda fixa por seus
produtos. Segundo a Abac (Associação Brasileira de Administradoras de
Consórcios), o número de consorciados aumentou 8% no primeiro trimestre em
relação ao mesmo período do ano passado.
Embora não existam estatísticas precisas – só o Banco Central tem controle
efetivo sobre cartas de crédito em circulação –, o sistema de consórcio
responde em média por 10% das vendas de veículos leves, podendo dobrar essa
participação em períodos de crise como o de hoje. A situação atual está mais
delicada porque 8% dos três milhões de consorciados de veículos leves e pesados
(sem contar motocicletas) foram contemplados em sorteio e decidiram não usar o
seu crédito. São 240.000 compradores que simplesmente preferiram sentar em cima
do dinheiro (que continua aplicado pelas administradoras) e não adquirir nenhum
veículo.
Esse cenário motivou Anfavea, Fenabrave e Abac a lançarem, em conjunto, uma
promoção, inicialmente por 45 dias, para tentar convencer as pessoas a usar
imediatamente suas cartas de crédito. Sempre há um porcentual de compradores
que adiam compras por motivos variados, como aguardar um lançamento, mudança de
ano de fabricação e até a contemplação por sorteio antes do período planejado.
De início, 16 fabricantes aderiram e prometem oferecer condições especiais
(descontos e opcionais e IPVA grátis).
Todos os tipos de ações promocionais são válidos, mas essa em especial talvez
obtenha alcance limitado. O contemplado pode simplesmente estar se sentido
inseguro em retirar o carro no momento em que a falta de confiança permeia a
economia brasileira. Afinal, tem de enfrentar despesas correntes de uso
(combustível, manutenção, impostos, estacionamento, multas injustas), além de
se sentir perseguido só por usar um automóvel.
A Abac afirma que os 8% de contemplados sem uso imediato do seu crédito estão
dentro da média histórica. Se for isso mesmo, poucos estariam à espera de dias
melhores para efetuar sua compra, o que não parece refletir a realidade atual.
RODA VIVA
DECISÃO pragmática e elogiável do governo, publicada
em 26 de março, estimulará adoção de novos recursos para aumentar eficiência
energética (economia de combustível) dentro do programa Inovar-Auto. Estão
contemplados sistema desliga-liga o motor de forma automática, monitor de
pressão dos pneus, indicador de troca de marcha e ajuste aerodinâmico de grades
frontais.
SUZUKI S-Cross é novo contendor interessante na faixa
de SUVs e crossover compactos que oferece, além de bom acabamento, a
racionalidade de aliar um motor de 1,6L/120 cv a peso contido (1.125 kg com
câmbio automático CVT). Oferece versões 4x2 e 4x4 (com controle eletrônico
sofisticado), além de porta-malas de 440 litros. Preço começa em R$ 74.900 e
vai a R$ 105.900.
TOUAREG na versão de topo agora inclui acabamentos
antes cobrados à parte na versão R-Line. Preço é alto – R$ 298.800 –, porém
mais em conta que um Porsche Cayenne com o qual divide o projeto. Destaques:
posição de dirigir, suave motor V-8 de 360 cv, câmbio automático de oito marchas
e consumo de combustível razoável para o alto desempenho oferecido.
ANTECIPAR a venda do subcompacto QQ reestilizado,
antes de sua produção nacional no segundo semestre, ajuda a Chery a enfrentar a
greve que paralisa a fábrica onde produz o Celer. Agora partindo de R$ 31.990 –
25% mais caro que a versão básica anterior importada da China – já embute, além
das melhorias técnicas e de acabamento, as dores do chamado Custo Brasil.
SMART Light Evolucar, lanterna extra vendida como
acessório com sensor que detecta movimentos do veículo para indicar mudança de
direção pode exacerbar o pouco uso convencionais, sem contar o mau hábito de
esquecer de consultar os espelhos. Outros acham que ligar a seta é suficiente,
sem ter certeza se a manobra foi consentida ou percebida.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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