Alta Roda nº832/182– 16/04/2015
|
Fernando Calmon |
A
verdadeira invasão de SUVs compactos e crossovers no mercado – três modelos
novos em menos de um mês – certamente terá impacto em outros segmentos. Na
realidade, acrescentando outros dois nacionais (Ford EcoSport e Renault Duster)
e importados como Chevrolet Tracker e Suzuki S-Cross, além dos chineses, haverá
mudanças até certo ponto radicais.
Stations e monovolumes pequenos serão ainda mais atingidos, mas os próprios
hatches e sedãs, tantos os compactos como os médios-compactos, perderão
participação. O mercado está ávido por modelos com maior altura livre do solo e
inspirados no modo “aventureiro”. Um fenômeno mundial, sem explicações
racionais, em tempos de economia de combustível e preocupações com gás
carbônico (CO2). Veículos mais pesados e altos vão na contramão do viés de
“salvar o planeta”.
O 2008 é um típico crossover sem possibilidade de tração 4x4 e nem mesmo versão
de entrada. Peugeot assumiu que o público prefere modelos completos e abandonou
pacotes de opcionais. É o produto mais em conta (à exceção do Duster) ao partir
de R$ 67.900 (Allure) e chegar a R$ 79.590 (Griffe). Como referência, um Jeep
Renegade Trailhawk a diesel 4x4 automático, com tudo que tem direito, pode
passar de R$ 140.000, se aparecer comprador disposto.
Em estudo meticuloso a marca francesa fez comparações com os concorrentes,
inclusive precificando itens que estes dispõem e o 2008, não. Na planilha
apresentada no lançamento sempre apareceu com menor preço em versões
equivalentes, mas faltaram alguns itens como superfícies de plástico suave
entre aqueles visíveis e suspensões independentes nas quatro rodas, entre os
poucos visíveis. Também não se justifica eliminar encaixes Isofix (originais)
para bancos infantis por uma diferença de R$ 100. Em manobras há avisos
sonoros, mas é melhor câmera de ré.
Entre características bastante apreciáveis estão menor diâmetro do volante, o
que permite leitura do quadro de instrumentos por cima dele e o teto panorâmico
de vidro (Griffe somente). Tela multimídia colorida de 7 pol. inclui aplicativo
para telefones inteligentes com funções extras. Porta-malas de 355 litros é
maior em relação a EcoSport e Renegade, mas perde para os do Honda HR-V e
Duster.
A engenharia fez um belo trabalho nas suspensões para conciliar estabilidade e
um vão livre de 20 cm. Equipado com o primeiro motor turboflex – THP de 173 cv
e 24,5 kgfm – em modelos pequenos (antes do up! que chega dentro de um mês), o
2008 Griffe faz jus ao título dessa Coluna. Por ser relativamente leve, pede
passagem até a carros maiores: acelera de 0 a 100 km/h em apenas 8,1 s com
câmbio manual de seis marchas. Há quatro modos de assistência à tração nesta
versão mais cara, suficientes para uso leve fora-de-estrada.
A Peugeot garante que não há espaço físico para um câmbio automático de seis
marchas no seu modelo de topo. Mas fontes asseguram que o de quatro marchas
será totalmente substituído pelo de seis, já em 2016, em todos os compactos
tanto da Peugeot quanto da Citroën, inclusive no motor aspirado de 1,6 L/122
cv. O câmbio automático atual foi recalibrado, tem modo econômico, mas deixa a
desejar embora vá representar 70% das vendas, segundo prevê o fabricante.
RODA VIVA
LAND ROVER guarda uma surpresa para o início de 2016, quando
inaugura fábrica de Itatiaia (RJ). Conforme a Coluna adiantou, o primeiro
modelo a entrar em produção é o Range Rover Evoque, atualmente o mais vendido
da marca no Brasil e no mundo. Alguns meses depois chegará a vez do Discovery Sport.
Venda começa agora, importado da Inglaterra.
ANFAVEA assumiu que, pelas condições atuais da
economia, os números de produção (com impacto direto sobre empregos), vendas e
exportações em 2015 serão (bem) piores do que previa. Agora admite queda de 10%
e 13,2%, respectivamente, para os dois primeiros indicadores. Restou apenas um
dado positivo: mais 1,1% nas exportações.
ESTOQUES totais (fábricas e concessionárias) caíram de
50 dias em fevereiro para 46 em março, ainda em torno de 50% acima do ideal.
Sindipeças prevê declínio de 11,5% no faturamento nominal de seus cerca de 500
associados. Durante a feira Automec, só setores de peças de reposição e
manutenção confiavam na grande frota circulante para sopro de otimismo.
EXISTE equilíbrio de vendas entre versões do Cruze:
52%, sedã e 48%, hatch (Sport6). Em termos de câmbio, automáticos estão em 80%
dos hatches e nada menos que 95% dos sedãs. Aperfeiçoamentos no automático
aparecem claramente no uso cotidiano, em cidade ou estrada. Ambos muito agradáveis
de guiar, mas suportes laterais dos assentos dos bancos dianteiros são duros.
INMETRO anunciará nos próximos dias a extensão do
Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) a veículos leves a diesel. Picapes e
SUVs de todos os portes terão índices de consumo de combustível para
compradores conhecerem os mais econômicos. A GM deve, finalmente, readerir ao
PBE, embora não 100% de seus modelos, o que só acontecerá em 2018.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
Nenhum comentário:
Postar um comentário