Alta Roda nº838/188– 28/05/2015
Fernando Calmon |
Ganho de
eficiência energética, ou menor consumo de combustível, é o maior benefício ao
consumidor com o programa governamental Inovar-Auto. É economia direta para o
bolso do motorista, principalmente se os fabricantes de veículos forem atraídos
pelos incentivos adicionais estabelecidos e ultrapassarem a meta — compulsória
— de 12% de ganho em 2017 em relação ao consumo da média dos modelos vendidos
por cada marca em 2011.
As metas colocadas como desafio são consumir menos 15% e menos 19%, cada uma
com prêmio de 1 ponto percentual de IPI, revertido para as empresas, por só três
anos. No melhor cenário se atingiria a média de consumo de gasolina atual na
União Europeia, apesar dos métodos de medição e combustíveis diferentes que, na
prática, dão vantagem ilusória aos carros de lá. Até o momento nenhum
fabricante daqui se voluntariou, mas há forte movimentação e segredos
estratégicos.
No simpósio sobre eficiência energética, emissões e combustíveis, realizado
semana passada em São Paulo pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva
(AEA), viu-se que soluções são conhecidas, embora esbarrem em custos maiores.
Como o País necessitará, nos próximos anos, de importação crescente de gasolina
e diesel, contar com uma economia de até 28 bilhões de litros de gasolina entre
2014 e 2021 seria uma boa forma de manter em níveis baixos ou mesmo anular os
gastos com combustíveis do exterior.
Para Francisco Nigro, professor da USP e pesquisador do IPT, diferenciar metas
do Inovar-Auto para etanol e valorizá-las adequadamente fazem todo sentido para
o desenvolvimento tecnológico do setor no país. Sugeriu IPVA menor para carros
com motores flex de melhor consumo relativo de etanol (há proposta semelhante
no âmbito federal que ainda não saiu do papel). Lembrou que motor turbo,
injeção direta e câmbio CVT formam combinação bastante favorável ao etanol, sem
prejuízo de eficiência e desempenho ao usar gasolina.
Mário Massagardi, representando o Sindipeças, defendeu que os modelos mais
eficientes em seus segmentos tenham incentivo específico ao apresentarem
redução de consumo superior à média entre todos os modelos à venda. Ajudaria a
estimular a introdução de tecnologias inovadoras e compensaria em parte seu
maior preço.
Até agora o governo federal optou por dar uma espécie de “prêmio” a recursos
que melhoram o consumo na vida real, porém sem refletir nos ciclos
cidade/estrada medidos nos laboratórios: sistema desliga-liga motor,
indicadores de troca de marcha e de pressão dos pneus, além de controle da
aerodinâmica da grade frontal. Ar-condicionado de maior eficiência ainda não
foi contemplado, embora esse equipamento esteja em mais de 80% dos veículos
leves novos.
Discutiu-se ainda como veículos híbridos, plugáveis em tomada elétrica ou não,
se enquadrarão numa segunda fase do Inovar-Auto e também a convergência
aprofundada dos programas de consumo e de emissões veiculares. Má notícia veio
dos bastidores: governo deve adiar pela segunda vez, para 1º de janeiro de
2017, a aditivação obrigatória da gasolina, para motores mais limpos e
eficientes. Assim não dá.
RODA VIVA
EMBORA tenha diferenças em relação ao carro lançado na Índia, o
compacto Kwid será produzido no Brasil, numa prova de pragmatismo da Renault:
um produto puramente francês, como o Clio, não se enquadraria na faixa dos R$
30.000 necessária para ser competitivo aqui. O hatch é mais curto que outros
compactos, mas com bom espaço interno.
SUBSTITUTO do Linea em alguns países, o Aegea
(nome provisório) modificado ainda é o candidato mais forte a quarto produto da
“fábrica Jeep” em Goiana (PE). Sua plataforma, a mesma do Renegade, já gerou os
sedãs Dodge Dart (EUA) e Fiat Viaggio (China). Dimensões maiores em relações
aos compactos anabolizados (do City ao Logan) aumentam suas chances no mercado.
TERCEIRA geração do Audi TT o deixou com ares mais
modernos, sem macular as linhas inconfundíveis. Recebeu quadro de instrumentos
totalmente eletrônico e programável, ficou 50 kg mais leve, ganhou 4 cm na
distância entre-eixos (sem melhorar exíguo espaço atrás) e aerofólio de
elevação automática. Agora a potência é 11 cv maior: 230 cv. Preços: R$ 209.990
a 229.990.
GOLF VARIANT atraiu muitas curtidas no Facebook
desse colunista por seu estilo equilibrado e por ser o modo mais racional de
ter um porta-malas de nada menos que 605 litros. Mecânica idêntica à do Golf,
inclusive motor turbo de 1,4 L/140 cv. Importada do México, tem versões de R$
87.400 a R$ 94.990. Fato é que as pessoas ainda gostam de peruas, mas preferem
comprar SUVs...
MERCEDES-BENZ aposta que sua linha AMG ainda tem
como crescer no Brasil, apesar dos preços proporcionais ao alto desempenho:
sedã C 63 S por US$ 209.990 (dólar referenciado em R$ 2,60 pela desvalorização
do euro). Empolga mesmo é o cupê biposto Mercedes-AMG GT S (US$ 329.900), um carro
esporte autêntico com chassi próprio, V-8 de 510 cv, e mais do que perfeito em
curvas.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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