Alta Roda nº837/187– 21/05/2015
Fernando Calmon |
Deu para notar que, de repente, não se comparam
mais preços dos carros no Brasil com os de outros mercados,
em especial dos EUA? Na maioria das vezes versões diferentes em equipamentos e
motorização dificultavam as avaliações, fora frete e impostos lá cobrados à
parte. Esta Coluna sempre citou variações cambiais como causa de aberrações
para cima e para baixo.
Só há uma certeza: automóvel aqui paga impostos altamente abusivos. A carga
fiscal real – diferença entre o custo do veículo e por quanto ele sai da loja
após todos os impostos e frete embutidos – é a maior do mundo com exceção da
Dinamarca, mercado pequeno e diferente do resto da Europa. Mas essa “primazia”
começamos a perder até para a Argentina.
Sim, o nosso vizinho criou imposto extra para carros considerados “de luxo”,
com preço de tabela acima do equivalente a cerca de R$ 70.000. Corolla vendido
na Argentina é idêntico ao brasileiro. O preço lá começa em R$ 81.000 e vai a
R$ 138.000 (no Brasil, de R$ 70.000 a R$ 100.000). Poucos reverberaram essa
distorção combinada de taxa de câmbio e voracidade tributária.
No dia 15 de março último o dólar (câmbio oficial) bateu R$ 3,30. Vamos tomar
como exemplo o Cruze sedã americano, modelo igual ao produzido em São Caetano
do Sul (SP). Versão de entrada LS tem inclusive o mesmo motor, mas é pouco
equipado por disputar compradores de menor poder aquisitivo. Sem frete o modelo
custava, naquela data, quase US$ 20.000, ou R$ 66.000. Aqui o mesmo carro, na
versão LT, parte de R$ 74.000, mas menos equipado o preço ficaria quase igual,
apesar da abismal diferença de impostos entre os dois países (8% contra 55%).
Já uma S10 LTZ Flex cabine dupla 4x2 saía aqui por R$ 98.000 e lá a versão
equivalente por R$ 102.000, pois no Brasil picapes são um pouco menos
tributadas que automóveis.
Segundo a agência Fitch, a cotação do dólar deveria estar em R$ 3,75 só para
compensar a diferença inflacionária da última década, sem considerar o chamado
custo Brasil. Aí, então, as comparações seriam aberrantes ao extremo. Teríamos
ao mesmo tempo os veículos mais taxados e simultaneamente entre os mais baratos
do mundo.
Também se criou, antes da escalada do dólar, a fantasia chamada “lucro Brasil”
que impregnou até redes sociais. Obviamente, pelo mercado de veículos ter
dobrado em 10 anos, os fabricantes ganharam muito dinheiro no período
2005-2013. Lucro operacional – diferença entre preço de custo e de venda –
ficou mesmo acima da média mundial, mas isso não explica preços altos como
alguns aloprados teorizavam. Afinal, com a cotação do dólar a R$ 1,70 em 2010 a
distorção comparativa era enorme e incentivou remessas de lucros para socorrer
empresas matrizes na crise financeira das grandes economias.
Sem dúvida o País perdeu competitividade industrial por razões mais do que
sabidas. E só a desvalorização cambial não resolverá tudo, inclusive baixa
produtividade geral. Agora, chegou a era do “prejuízo Brasil”. Segundo o Banco
Central, em março passado nenhum centavo foi remetido ao exterior pela cadeia
de produção automobilística. E com queda de produção e ociosidade crescente os
preços subirão acima da inflação pela primeira vez nos últimos anos.
Preparem-se.
RODA VIVA
ESTE tem sido ano excepcional de lançamentos
concentrados. Apenas coincidência pois projetos sofrem atrasos em diferentes
fases e são difíceis de recuperar. Informantes garantem início de produção do
Golf nacional em julho próximo em São José dos Pinhais (PR) e da picape média
da Fiat em Goiana (PE) em setembro. Vendas até 60 dias depois.
POUCO se sabe ainda sobre Ford GT. Supercarro esporte
terá chassi de alumínio e compósito de fibra de carbono. Interior (ainda não
exibido) sem alavancas de limpador e setas. Motor V-6 biturbo de 3,5 litros e
mais de 600 cv. Produção de 250 unidades/ano e preço superior a US$ 300 mil.
Será feito em Ontario, Canadá pela Multimatic. Pronto só em 2016, ao se
completarem 50 anos das três primeiras posições do GT 40 original na 24 Horas
de Le Mans.
BMW 428i Grand Coupé reúne elegância ímpar de um
sedã-cupê de quatro portas ao tamanho racional e desempenho alto. Tudo na
medida certa e com muitos poucos a desafiá-los no quesito preço-benefício.
Janelas sem molduras metálicas conferem toque adicional de esportividade. Mas o
teto baixo exige atenção a quem entra no banco traseiro.
EXISTE como resolver as 240.000 cotas de consórcios
contempladas e não transformadas em vendas. Bastaria voltar às origens:
consorciado tinha 90 dias para comprar exclusivamente um carro. Nada de carta
de crédito livre para gastar como quiser. Isso mudou na época em que havia ágio
para aliviar pressão de demanda.
ADIAMENTO de decisões já não surpreende. Contran
postergou por um ano as placas veiculares padronizadas do Mercosul para 1º de
janeiro de 2017 e não de 2016. Discute-se controle de produção e distribuição.
Ou seja, o básico. Então não se deveria marcar data apertada.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista especializado desde 1967,
engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas
automobilística e de comunicação. Sua coluna automobilística semanal Alta Roda
começou em 1999. É publicada em uma rede nacional de 85 jornais, sites e
revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do
twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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