Alta Roda nº836/186– 14/05/2015
Fernando Calmon |
A queda de vendas em 2015 sobre 2014 é estimada
entre 13% e 19%, dependendo do otimismo ou pessimismo da fonte, mas nem todas
as marcas foram tão atingidas. Há mais inclinação em encolher a procura por
modelos de menor preço e dessa forma os quatro fabricantes mais antigos e
dominadores por décadas estão sofrendo.
Pela primeira vez desde a chegada de novos entrantes com produção local na
segunda metade dos anos 1990, Fiat, GM, VW e Ford juntas ficaram abaixo da
barreira simbólica de 60%. Para ser mais exato, 59,1% de participação somada no
mês passado. As marcas orientais tradicionais conquistaram aparentemente uma
zona de conforto, sem precisar dar férias coletivas, implantar bancos de hora,
suspender contratos de trabalho ou promover programas de demissões voluntárias.
A Hyundai continua a funcionar em três turnos com redução mínima de vendas:
2,4% frente à queda geral acumulada no primeiro quadrimestre de 19,2%. Mas as
japonesas Honda, Toyota e Nissan foram além. As três cresceram 12,5%, 12,4% e
3,4%, respectivamente, sobre o mesmo período de 2014.
Há explicações conjunturais, além da tradicional prudência oriental ao fazer
investimentos em fábricas. Segundo Marcelo Cioffi, da consultoria PWC,
“trata-se de marcas de menor volume, com produtos novos ou renovados e,
portanto, menos afetadas pelos recuos de mercado”.
No entanto, outros fatores também influenciam. A Honda, particularmente, só
concluirá a nova fábrica em 2016 e, assim, poderá ter até de sacrificar vendas
do Civic e do City para atender a demanda muito boa do HR-V este ano. Se a
unidade de Itirapina (SP) já estivesse em produção talvez ficasse mais difícil.
Nissan, ao contrário, tem produtos mais baratos e tende a ficar com capacidade
ociosa a exemplo das marcas de maior presença. Mas ao partir de bases
comparativas muito baixas, quando dependia de importações controladas do
México, tem como crescer um pouco mais este ano. Até 10% sobre 2014, estima com
otimismo o fabricante.
Também se deve considerar que apenas a Nissan atua de forma significativa na
faixa de produtos mais importante e sacrificada em torno de R$ 30,000. Hyundai,
Toyota e Honda têm tíquete médio de venda superior, em que a queda vem sendo
menor. Toyota admite que espera repetir os números de 2014, o que seria ótimo
resultado em cenário tão recessivo como o atual. Exceção é a Mitsubishi cujo
tombo acompanhou a média de mercado, em torno de menos 19%.
Quanto às orientais chinesas a situação é bem diferente. Aproveitaram o real
muito valorizado para oferecer modelos equipados a preços superconvidativos.
Com o aumento dos impostos do programa Inovar-Auto importadores anunciaram a
intenção de construir fábricas.
Mas, ano passado, todas juntas ocupavam menos de 1% do mercado. No auge
estimavam ter, em conjunto, 5%. Só a Chery inaugurou uma unidade industrial, em
2014. Mal funcionava e a produção do Celer parou por greve de um mês que
terminou semana passada. Assim, o lançamento do QQ nacional sofreu outro
adiamento para o final deste ano. Quanto à JAC, os planos dependem de linha de
financiamento do governo da Bahia.
Sobre as demais chinesas e as fábricas prometidas, não se fala mais nisso.
RODA VIVA
ANFAVEA viu um indicador levemente positivo no mês
de abril. Vendas alcançaram 11.240 veículos/dia, aumento de 8,2% sobre março,
com mais dias úteis do que o mês passado. Estoques totais passaram de 49 para
50 dias (50% acima do normal), apesar da diminuição de produção. Confiança dos
compradores continua abalada.
FENABRAVE, por sua vez, contabiliza fechamento de 250
concessionárias, em especial nos grandes centros. Ainda não assusta tanto, pois
existem mais de 8.000 lojas e a associação congrega, além de fabricantes de
veículos leves e pesados, também os de motocicletas e de máquinas agrícolas. De
qualquer forma, 12.000 funcionários a menos.
LEVE reestilização pegou bem no Duster 2015 para
enfrentar, com preço mais em conta, os quatro novos concorrentes. SUV compacto
da Renault ficou mais silencioso. Motor de 1,6 L melhorou respostas em baixas
rotações sem mudanças em torque e potência. Já o 2L ganhou 6 cv com etanol
(agora 148 cv) e a versão 4x4 não se sai mal em fora de estrada de exigência
leve a média.
INDÚSTRIA de autopeças também tem sido obrigada a
demissões: a cada emprego perdido numa fábrica de veículos, dois desaparecem
nos fornecedores. Bosch, a maior do setor, conseguiu administrar a situação em
2014, quando o sistema ABS se tornou obrigatório. Em 2015 confia em alguma
recuperação de exportações para América Latina e assim melhorar seus
resultados.
MICHELIN se antecipou à onda de crescimento dos
SUVs e desenvolveu em grande parte no Brasil, em três anos, a linha LTX Force,
de olho também na Índia e China. Entre as novidades estão desenho, parcela do
composto de borracha vinda dos ralis, banda de rodagem que se estende pelas
laterais do pneu e reforços entre blocos de rodagem para maior estabilidade em
asfalto.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br),
jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter:
www.twitter.com/fernandocalmon
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