Alta Roda nº 882/232 – 31 /03 /2016
Fernando Calmon |
Parece
ter chegado a hora de se conformar: mesmo que o desfecho da crise política se
abrevie, será insuficiente para tirar o Brasil do atoleiro econômico de hoje.
E, pior, não há certeza de quanto tempo ainda as coisas vão piorar, antes de
começar a melhorar. É o que se conclui doVII Fórum da Indústria
Automobilística, realizado por Automotive Business.
De fato, e difícil de aceitar, foi a velocidade de deterioração. Entre 2012 e o
final de 2016 o mercado interno de veículos terá caído 50%, ao se somar a queda
de 24% deste ano em relação a 2015 projetada pela consultoria IHS. Em pesquisa
eletrônica instantânea realizada entre os participantes, 55% esperam vendas
inferiores 2 milhões de unidades até dezembro, o que significaria voltar aos
patamares de 2007, marcha à ré de nove anos.
Como ressaltou Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, a falta de
confiança e incertezas chegaram ao ponto de mesmo quem está empregado, não
querer assumir dívida para trocar seu carro usado por um novo. E quando a
situação começará a se reverter? Há diferentes apostas: somente em 2019 a curva
de vendas de veículos voltaria a acompanhar a recuperação do PIB per capita
brasileiro. Outros acreditam que talvez isso possa acontecer um ano antes.
Nos anos 1980, foram necessários 12 anos para retornar aos volumes anteriores.
O tombo de 1998 exigiu nove anos. Este agora, que começou de forma evidente em
2014, pode se estender até por uma década. Quem sabe abreviado, se o País tomar
as decisões econômicas e reformistas corretas.
Nesse cenário, poucos acham que um programa intervencionista como o Inovar-Auto
terá continuidade depois de 2017, quando se encerra a primeira fase. Salvo,
claro, a única parte realmente necessária – eficiência energética dos produtos
aqui fabricados – que precisa e deve continuar. A evolução apenas do trem de
força será insuficiente para cumprir metas de consumo de combustível. Terá de
ocorrer uma evolução do carro inteiro.
Só que tudo isso significa investir mais e com expectativa de retorno mínimo
para os desembolsos. Sem reação das vendas, essa conta não fecha. No entanto,
para Letícia Costa, da consultoria Prada, chegou a hora de o Brasil pelo menos
tentar se inserir nas cadeias mundiais de produção, conectividade e até certo
grau de direção autônoma, mesmo em ritmo menor e limitado pela infraestrutura
atual. Para essa Coluna, o governo federal tem de parar de brincar com isso. Se
apenas deixar de atrapalhar, já seria um avanço.
Dentro desse quadro, a crise atinge desigualmente os fabricantes. A
participação de mercado, somando volume de vendas e faturamento, confirmou a
consultoria Jato, deixou as Quatro Grandes – Fiat, Ford, GM e VW – em situação
de perda maior. Apesar de Honda e Toyota também terem investido em aumento de
capacidade produtiva e amargarem hoje um grau de ociosidade, ambas contam com
preços médios de seus produtos numa faixa de mercado um pouco menos afetada.
Fabricantes de marcas para o público de maior renda sofrem menos. O novo
presidente da BMW, Helder Boavida, até admitiu estudar um sexto modelo na sua
fábrica catarinense, mesmo em tempos de cautela.
RODA VIVA
MERCEDES-BENZ cumpriu seu cronograma de 13 meses para
inaugurar a fábrica de automóveis em Iracemápolis (SP). Com investimento de R$
600 milhões, a marca alemã chega depois de BMW e Audi à produção local. Vendas
de veículos mais caros este ano devem recuar em ritmo bem menor do que o total
da indústria. A M-B inicia com apenas um turno de trabalho.
CLASSE C, agora e GLA, no segundo semestre são os primeiros
produtos da linha de montagem paulista. Só dentro de um ano os índices de
nacionalização aumentarão com armação e pintura. Mas a flexibilidade da linha
de produção e os baixos volumes (20.000 unidades/ano) permitirão que qualquer
produto fabricado na Alemanha o seja igualmente aqui.
GOL 2017 ganhou no uso cotidiano com o motor
três-cilindros de 1 litro. Além de respostas ágeis ao acelerador, o ronco é
mais abafado. Mudanças de frente e traseira são pouco nítidas, mas painel,
quadro de instrumentos e volante renovam bem o ambiente interno, além do
prático suporte para celular. Motor de 1,6 L não mudou, mas ainda é suficiente,
mesmo de projeto antigo.
PRIMEIRO automóvel com câmbio automático de 10 marchas
(apenas tração traseira) será o Chevrolet Camaro ZL1, no segundo semestre. GM e
Ford dividem esse investimento para diminuir consumo especialmente em SUVs e
picapes pesados. Os dois fabricantes também se uniram para produzir um
automático de 9 marchas (tração dianteira), que a Honda já oferece.
APESAR de publicação recente no Diário Oficial, o
Cadastro Nacional de Veículos em Estoque (Renave) ainda depende de
regulamentação que vai demorar 60 dias. Só depois, venda e compra de carros
usados por meio de concessionárias e lojistas será simplificada com benefícios
ao consumidor. Acabará a necessidade de reconhecimento de firma e haverá menos
burocracia.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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