A iniciativa do Congresso em tornar obrigatório o uso de
faróis baixos em rodovias (incluindo seus trechos urbanos) continua a ser
discutível.
Essa obrigatoriedade traz algumas vantagens secundárias, mas a soma
de desvantagens, em países de baixas latitudes como o Brasil, chega a atrapalhar
a segurança do trânsito. Não houve qualquer campanha pública prévia, apesar de
o Denatran dispor de verbas polpudas para tal (5% dos R$ 8 bilhões do seguro
DPVAT). Multas e pontos na carteira, porém, apareceram em todo o País.
Uma lei tão improvisada exigiu emenda às pressas, por ofício
do Contran, na véspera de sua vigência. Os faróis DRL (sigla em inglês para
luzes de uso diurno) passaram a ser permitidos. Os legisladores, além de
desconhecer o acessório, não estavam nem um pouco informados sobre sua
eficiência e possibilidade de evitar acidentes não apenas em rodovias, mas
também no tráfego urbano. Sombras projetadas por prédios em dias de muito sol
encobrem os veículos, como se fosse noite.
DRL (fileiras de LEDs de alta intensidade) ligam-se automaticamente
logo após o motor entrar em funcionamento. Com intensidade de iluminação de 1.200
cd (candelas), específica para uso diurno, é tão forte que diminui quando o
motorista liga os faróis, no pressuposto de trafegar à noite. Como permite diversos
desenhos e se integra ao estilo dos carros modernos possibilita contraste
inigualável, inclusive em favor das motocicletas, o tipo de veículo mais
vulnerável em todas as situações.
O Contran afirma no ofício que “a maioria dos estudos
sobre este assunto conclui que a presença de luzes acesas reduz significativamente
o número de colisões entre veículos durante o dia”. Mas isso não é respaldado
por um relatório técnico apresentado na Austrália, o país-continente cuja
latitude é semelhante à maior parte do território brasileiro.
“O desempenho fotométrico de faróis comuns mostrou que a redução
de acidentes é marginal, em uso diurno nas estradas australianas. Com o pavimento
molhado pode produzir reflexos indesejados, pois os faróis baixos iluminam o
solo logo à frente do veículo. Em dias de muito sol ou nublados também são
pouco efetivos. Outras desvantagens: maior consumo de combustível, possível
ofuscamento, lanternas traseiras permanentemente acesas e diminuição da vida de
lâmpadas comuns, o que impede o motorista de circular à noite com apenas um
farol ou lanterna traseira ligados”, afirma o relatório de 47 páginas nas
conclusões finais.
Nos EUA, cuja latitude média é superior à do Brasil, faróis
baixos durante o dia e DRL não são obrigatórios. O país tem 260 milhões de
veículos em circulação (maior frota do mundo, seis vezes maior que a brasileira)
e a segurança rodoviária aumentou muito naquele país, nos últimos anos.
Sem dúvida, DRL é a solução final e admitida como a
melhor, inclusive pelo baixo consumo de energia. Trata-se, porém, de solução
cara para os padrões brasileiros. Fabricantes de acessórios já oferecem essa
opção por R$ 2.000 pela força da novidade. Regulamentação bem feita, prazos
adequados e tendência de diminuição de custo dos LEDs deveriam estar na
prioridade de legisladores, em vez de imposição arrecadatória de multas
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