Alta Roda nº 903/253 – 08 /09 /2016
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Fernando Calmon |
Os
dois maiores emissores do planeta de gases de efeito estufa – basicamente CO2,
mas também outros – finalmente chegaram a um acordo para homologar a meta de
redução estabelecida na última conferência mundial sobre mudanças climáticas.
Estados Unidos e China aproveitaram a recente reunião do G20 (grupo de países
que representa 90% do PIB mundial) e se comprometeram a baixar o consumo de combustíveis fósseis. No caso de
veículos, gasolina e diesel deverão ceder espaço a biocombustíveis e
eletrificação de forma híbrida ou total.
Esse é um tema muito complexo. As propostas envolvem comunidades científicas,
governos e indústria automobilística mundial pois abrangem diferenças culturais
e realidades econômicas totalmente diversas. Até a conscientização ambiental
varia em um mesmo país, como nos EUA, ou no conjunto dos países europeus. Japão
está mais engajado do que a China e dentro da América do Sul o Brasil lidera
com o programa de biocombustíveis (etanol e, secundariamente, biodiesel).
O 24º Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva (Simea), nos dias 5 e 6
de setembro, organizado pela AEA (Associação Brasileira de Engenharia
Automotiva) em São Paulo, teve como mote a eficiência energética e os impactos
da evolução tecnológica para controle dos gases de efeito estufa.
Foram mais de 60 trabalhos técnicos, além de dois painéis de debates e cinco
palestras de especialistas. Ricardo Abreu, presidente do Simea, desenvolveu
análise mais abrangente. Para ele não basta considerar apenas CO2. É preciso
verificar o ciclo de vida de produção dos combustíveis, da origem ao descarte
final via emissões no escapamento.
Desse ponto de vista, um biocombustível, como etanol de cana-de-açúcar, leva
grande vantagem sobre os de origem fóssil. Em mistura com gasolina pode
aumentar bastante sua octanagem e, por isso, nos EUA se estuda adição de 30%
(hoje, no Brasil, 27%) e até 40%. Com teores tão elevados, Abreu vislumbra
oportunidades para um motor global flex em que cada país decidiria entre o
mínimo de 10% e o máximo de 100% de etanol, a depender do custo de produção.
Para a Coluna, existe potencial da engenharia brasileira por estudar motores
flex há mais de 30 anos. Coincidentemente, a Nissan acaba de anunciar no Japão
um motor de taxa de compressão variável a ser exibido, no final do mês, no
Salão do Automóvel de Paris. Para um motor flex é o ideal, embora ainda não se
saibam os objetivos da marca japonesa nem o preço desse recurso, basicamente
mecânico, em cenário tecnológico dominado pela eletrônica.
Havia expectativa de que Margarete Gandini, diretora do Departamento de
Indústrias de Transporte do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços (MDIC), pudesse abrir alguma luz sobre eventual continuidade do
programa Inovar-Auto previsto para terminar no final de 2017. Isso não ocorreu.
Nos bastidores comentou-se que não haveria propriamente nova “política”
industrial para o setor, mas um sistema de metas de longo prazo – 10 anos –
para eficiência energética. Talvez a taxação do IPI sobre cilindrada e tipo de
motor fosse substituída por algo como kJ/km, gCO2/km ou a expressão mais
simples de km/l à qual o consumidor está habituado.
RODA VIVA
SITUAÇÃO do mercado está longe de uma verdadeira
virada, mas se pode dizer que parou de piorar e as quedas tendem a ser menos
pronunciadas do que se imaginava. Depois de conhecidos os números de vendas de
agosto, a Fenabrave aponta para redução de 16% do ano completo de 2016 em
relação a 2015. Essas previsões já foram piores, de até 25% de queda.
ANFAVEA ainda não mudou sua previsão de menos 19% nas
vendas sobre os 12 meses do ano passado. Mas as curvas, por ora, apontam para
menos 15%. Os estoques totais se reduziram de 36 dias para 34 dias. No entanto
isso se deve, na maior parte, pela paralisação total das três fábricas da VW
por falta de peças de um fornecedor que provocou um litígio comercial.
MOTOR de 3 cilindros de 1,2 L do Citroën C3 confirma
os bons resultados de consumo de combustível. Consegue índices até um pouco
melhores do que o indicado no Programa Brasileiro de Etiquetagem. Em estrada é
fácil chegar a 17 km/l com gasolina. Desempenho é próximo ao de 1,45 L da mesma
marca, porém algo mais ruidoso do que os melhores motores de 3-cilindros.
DEPARTAMENTO de Segurança Viária dos EUA autorizou os
fabricantes a usar, além da carta registrada, qualquer meio digital para
incrementar o índice de atendimento a recalls. Valem até redes sociais para
aumentar o comparecimento às concessionárias. Lá o índice é de até 75% ou 51
milhões de veículos afetados (em 2015). Aqui, nem chega a 45% e fica por isso
mesmo.
PNEUS considerados “verdes”, com uso de sílica no
lugar de negro de fumo para diminuir atrito de rolamento e por consequência
consumo de combustível, avançam para alcançar 100% da produção. Bridgestone já
tem a nova linha Ecopia de “verdes” em vários modelos brasileiros. Na sua outra
marca, Firestone, de pneus mais acessíveis, a sílica também avança, porém de
forma mais lenta.
PERFIL
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br), jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos
técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna
automobilística semanal Alta Roda começou em 1999. É publicada em uma rede
nacional de 85 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente no Brasil do
site just-auto (Inglaterra).
Siga também através do twitter: www.twitter.com/fernandocalmon
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